Teatro Municipal do Porto com 10 estreias e 138 récitas de setembro a fevereiro

por Lusa

O Teatro Municipal do Porto (TMP) contará com 10 estreias nacionais, entre um total de 65 espetáculos, entre setembro deste ano e fevereiro de 2020, num total de 138 récitas, foi hoje anunciado.

Na apresentação da programação para o Teatro Rivoli e o Teatro Campo Alegre, esta manhã, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, avançou que o investimento nestas próximas produções será de 604 mil euros, e mostrou-se satisfeito com a adesão de públicos registada nas últimas temporadas.

"A ideia preconcebida de que não havia público e de que isto era só para alguns foi desmentida pela cidade. Mas isto é também um alerta. Muitas vezes há marés e estas marés, temos de as manter", disse o autarca, enquanto o diretor artístico do TMP, Tiago Guedes, comentou que "a cidade respondeu muito bem ao projeto de teatro municipal", apontado que "todos os anos, temporada em temporada, se sente o público a aumentar".

Quanto a espetáculos para setembro de 2019 a fevereiro de 2020, 31 são de companhias que trabalham a partir da cidade e 24 são coproduções.

A nova temporada abre com uma curiosidade: arranca em "festa" com "La fiesta" de Israel Galván, um dos inovadores do flamenco atual, e a estreia de "Parti" da companhia Estrutura de Cátia Pinheiro e José Nunes.

Já em outubro, o destaque vai para "Worst of", do Teatro Praga que, de acordo com Tiago Guedes, "faz um olhar para o atraso crónico do teatro português por comparação com outras artes", através de um `best of` de atores como Márcia Breia, Rogério Samora, São José Correia e Vítor Silva Costa.

Em novembro, surgirá "Limbo", de Sara Carinhas, um espetáculo com um registo que "varia entre a realidade e a ficção, o sonho e a morte", e que o diretor artístico do TMP descreveu como "uma peça dura que fala da realidade dos refugiados, numa altura em que salvar vidas pode ser encarado como crime".

Também em novembro, assume relevância "Ordinary People", de Wen Hiu, uma ativista cultural chinesa que era estudante aquando dos massacres da Praça de Tiananmen, e de Jana Svobodová, encenadora, pesquisadora e professora da República Checa, que, depois do trabalho com a encenadora norte-americana Anne Bogart (Companhia SITI), e do contacto com os seus métodos pedagógicos, traduziu e adaptou a obra "Viewpoints by Anne Bogart and Tina Landau", referência do seu método artístico.

"Manual da falla", de Ana Rocha & O Cão Danado, estreia-se a 06 de dezembro no grande auditório do Rivoli, um espetáculo que é descrito, no dossier sobre a temporada, como surgindo da "continuidade do trabalho de pesquisa e criação que tem vindo a ser realizada desde 2011 em torno da `performatividade` da linguagem e da sua potencial presença física".

O ano de 2020 arranca com o espetáculo "`Adágio hammerklavier` + `Short cut` + `In the future`", três coreografias da Companhia Nacional de Bailado e uma demonstração da colaboração com Hans van Manen, um coreografo holandês conhecido pelo seu trabalho estruturado e simplicidade.

Em fevereiro, "10.000 gestes" do coreógrafo francês Boris Charmatz merece destaque. Em causa está uma estreia nacional, cujo título é "um número redondo para falar dos milhares de gestos que a peça comporta", explicou Tiago Guedes.

"Ele [referindo-se a Charmatz] fez um trabalho completamente analítico, quase matemático, de como podia fazer uma coreografia onde nenhum dos gestos naquela hora e meia fosse repetido. É uma espécie de caleidoscópio de gestos, uma floresta coreográfica de gestos onde uma folha não é igual à outra", descreveu o diretor artístico do TMP.

O programa apresentado hoje também contempla, com nove espetáculos e 18 apresentações, a 16, 18 e 19 de janeiro, o 88.º aniversário do Teatro Rivoli, uma celebração sintetizada por Rui Moreira como "uma festa para a cidade e para todas as gerações".

Na programação do TMP, destaca-se ainda o ciclo de conferências "Modos de Ocupar", que tem curadoria e moderação do jornalista Pedro Santos Guerreiro. Serão quatro as conferências que se realizam de outubro a fevereiro com temas como "A arte é igual à política", "No paraíso reserva-se o direito de admissão", "O medo é uma ovelha negra da imaginação" e "Nasci cá, venho de lá -- a geração pós-colonialista".

"Estamos alerta ao serviço público que temos de prestar. Este `Modos de Ocupar` surge um bocadinho em eco do que aconteceu quando este teatro foi ocupado e reivindicado pelo seu público. Agora há âncoras de programação sobre uma ocupação ora mais intelectual, ora mais territorial. É importante pensar como é que os espetáculos podem extravasar as salas e fazer-nos refletir sobre os novos temas", apontou Tiago Guedes.

A próxima temporada do TMP também tem programação em parceria, destacando-se festivais como o Porta-Jazz ou o Fantasporto, bem como o Porto/Post/Doc e a Festa do Cinema Francês.

No que diz respeito a coproduções, o destaque vai para a nova versão musical de "A Menina do Mar", escrita a seis mãos por Edward Luiz Ayres d`Abreu, a quem coube tratar da música, Ricardo Neves-Neves, responsável pela encenação, e o maestro Martin Sousa Tavares, que fez a junção da visão musical e da encenação, e que tem a particularidade de ser neto de Sophia de Mello Breyner Andresen, autora da história original, a quem é dedicado este espetáculo.

"É dirigido a um público mais jovem, mas é dedicado a todos", disse, em representação dos autores, Duarte Pereira Martins, do Movimento Patrimonial da Música Portuguesa (mpmp), que descreveu o texto de Sophia de Mello Breyner como "quase canónico".

Esta produção de "A Menina do Mar" insere-se nas iniciativas do centenário de Sophia de mello Breyner Andresen, envolve o mpmp, o LU.CA - Teatro Luís de Camões, de Lisboa, os municípios de Lagos, Loulé, Guimarães e Ovar, a Galeria da Biodiversidade/Casa Nadresen, no Jardim Botânico do Porto, e o TMP.

Rui Moreira perspetivou, por fim, que "no final da presente temporada, o TMP registará mais de 570 espetáculos, cerca de 4.000 artistas e quase 600.000 espetadores", fazendo uma "espécie de balanço" desde 2014, o início da "aposta do Porto em reativar o Rivoli e o [equipamento do] Campo Alegre, enquanto teatro municipais".

"São números dos quais nos orgulhamos, de um teatro enquanto projeto artístico de reconhecido sucesso nacional e internacional que, através da sua missão marca os ritmos culturais da cidade e da região, e de forma crescente se tem vindo a afirmar no panorama nacional e internacional das artes performativas".

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