Termo açorianidade de Vitorino Nemésio representa o "modo de ser" açoriano

por Lusa

O poeta e escritor Urbano Bettencourt considera que Vitorino Nemésio, cujo 40º aniversário da morte é assinalado na terça-feira, 20 de novembro, criou, em 1932, o termo açorianidade como forma de representar o "modo de ser açoriano".

O professor da Universidade dos Açores, que fala de uma "definição aproximada", de forma "mais ou menos simbólica", patente no clássico da literatura portuguesa "Mau tempo no canal", recorda que o escritor da Praia da Vitória, na ilha Terceira, abordou esta temática em dois textos publicados no jornal Diário de Notícias e na Imprensa de Ponta Delgada.

Para o estudioso de Nemésio, toda a obra literária do autor do programa de televisão "Se bem me lembro" é uma "afirmação desse modo de ser açoriano" em espaço insular.

"O que se descreve (nos textos da imprensa) é a capacidade e apego à terra, às ilhas, que é um traço do modo de ser açoriano, ao espaço dado para civilizar e transformado na sua casa, afastado dos continentes, o que contrabalança com sua capacidade de adaptação e transformação em cidadão do mundo", descreve Urbano Bettencourt.

Vitorino Nemésio "visita", aliás, por várias vezes, Antero de Quental para traçar o perfil do açoriano como um "homem inquieto que parte da sua terra para questionar o mundo".

Naquele que era referido por este escritor como um "viveiro insular", o homem adapta-se, com base numa "tradição de raiz portuguesa" que, "num solo e clima tão diferentes", gerou um "forte ânimo, uma tranquila altivez".

De acordo com Urbano Bettencourt, no âmbito do conceito de açorianidade, Nemésio falava numa "relação conturbada entre Portugal e o seu território insular", caracterizada por "algum abandono, justificado, em primeiro lugar, pela distância física, mas também pela atitude da metrópole", com os seus espaços arquipelágicos, que "descuidava o desenvolvimento" das ilhas.

Além da dimensão literária e cultural, ao termo açorianidade, segundo o professor universitário, associa-se também uma componente política, no texto publicado em 1932 e em outros que vieram a público em 1975.

Urbano Bettencourt destaca que Nemésio referia uma "paciência e conformidade que, de alguma forma, criou o sentido de sobrevivência e resistência física e histórica", destacando ainda do texto de 1932 a importância de geografia e da história para os açorianos como "definidores de um modo de ser".

O primeiro livro das obras completas do escritor Vitorino Nemésio, em 16 volumes - "Poesia (1935-1940)" -, foi lançado este ano no mercado.

Numa iniciativa da editora Companhia das Ilhas, em parceria com a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, o volume, que reúne a primeira produção poética do escritor, está dividido em duas partes: "Poesia (1916-1930)" e "Poesia (1935-1940)".

O primeiro dos quatro livros de poesia do autor, antecipa a revelação de inéditos (no quarto volume) e vai ser apresentado na próxima quinta-feira, às 18:30, na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), em Lisboa, pelo catedrático Luiz Fagundes Duarte, responsável pela edição da obra.

Vitorino Nemésio, cuja obra literária compreende, entre outros, o título "Mau Tempo no Canal", considerado pela crítica literária um dos maiores romances portugueses do século XX, nasceu em 19 de dezembro de 1901, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, e morreu em Lisboa, em 20 de novembro de 1978.

Incluído entre os grandes escritores portugueses do século XX, pela investigação académica, Nemésio recebeu, em 1965, o Prémio Nacional de Literatura e, em 1974, o Prémio Montaigne.

A sua obra compreende cerca de 40 títulos na área da fição, poesia, ensaio e crítica, a par da crónica, como "Festa Redonda" (1950), "Nem Toda a Noite a Vida" (1952), "O Pão e a Culpa" (1955), "O Verbo e a Morte" (1959), "O Cavalo Encantado" (1963), "Canto da Véspera" (1966) e "Sapateia Açoriana" (1976), além de "Mau Tempo no Canal" (1944).

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