Tiago Guedes estreia-se na encenação com "The Pillowman" no Maria Matos

por Agência LUSA
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Tiago Guedes, realizador do filme "Coisa Ruim", estreia-se na encenação teatral com a peça "The Pillowman", da autoria do britânico Martin McDonagh, que estará em cena a partir de 07 de Setembro no Teatro Maria Matos.

"The Pillowman" (o homem-almofada) conta a história de um escritor, num regime totalitário, que é preso e interrogado sobre o conteúdo dos seus contos, que apresentam semelhanças com uma série de homicídios infantis ocorridos na cidade onde mora.

O título da peça provém de uma das histórias desse escritor, Katurian, sobre um simpático personagem feito de almofadas que encoraja crianças a suicidarem-se para não terem de enfrentar vidas terríveis.

"[A peça] fala-nos da arte, dos limites da arte, e da responsabilidade que temos enquanto autores artísticos, até que ponto temos ou não responsabilidade por aquilo que transmitimos, e a importância de a arte superar a própria vida", disse à Lusa o cineasta, que foi convidado pela direcção do Maria Matos para encenar este "conto teatral".

"É um texto bastante complexo. É surpreendente, agarra-nos do princípio ao fim, não é um texto óbvio e não é previsível. Nesse aspecto, é interessante. Também não é leve, é um drama vestido de comédia negra ou uma comédia negra vestida de drama, é uma coisa pouco definida e é isso que me agrada", sublinhou.

Tiago Guedes, que realizou, em parceria com Frederico Serra, "Coisa Ruim", o filme português mais visto no primeiro semestre deste ano, afirmou que esta experiência teatral lhe permitiu "trabalhar mais profundamente com os actores e ter uma proximidade que é muito difícil conseguir em cinema, porque é raro ter-se o período de ensaios que se tem em teatro".

"Onde me sinto em casa é no cinema. Em teatro, está a ser uma primeira experiência muito gratificante, mas não tenho aspirações de espécie alguma", disse o cineasta, acrescentando que gosta, no entanto, de "assumir alguns riscos".

Quatro actores - Albano Jerónimo, Gonçalo Waddington, João Pedro Vaz e Marco D`Almeida - compõem o elenco da peça, que Tiago Guedes considera poder "atrair públicos que normalmente nem vão ao teatro".

Esta é também a primeira experiência de cenografia de Jerónimo Rocha, Joana Faria e Nico Guedes, uma equipa que o realizador trouxe da área da publicidade, de um laboratório criativo chamado Easylab.

Sobre as diferenças entre a linguagem de teatro e a de cinema e os tempos de cada uma delas, Tiago Guedes, que também traduziu a peça, disse ter verificado que "existe um preconceito, uma ideia preconcebida" em relação a isso e que, neste caso, as diferenças "não são assim tantas", até porque se trata de "um texto bastante cinematográfico".

"Na forma como as personagens agem e interagem não sinto grandes diferenças em relação a um bom argumento. Se calhar, este texto, em particular, não é uma realidade assim tão distante da minha, na forma de dramaturgia e interpretação do texto", observou, acrescentando que o autor, Martin McDonagh, aponta como algumas das suas referências realizadores cinematográficos e diz-se influenciado pelo cinema.

"Enquanto estivemos na sala de ensaios, tratei-o como se fosse um texto para cinema. A principal diferença foi quando passámos para o palco: o palco é muito grande, é um plano de sequência muito comprido e é em directo, o que é fantástico, porque se joga com as energias dos actores e tudo acontece ali, à nossa frente", rematou.

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