Torre da Sé e Casa do Sineiro de Leiria aguardam programa museológico para abrirem

Leiria, 23 mar (Lusa) -- A Torre e a Casa do Sineiro que, juntamente com a Sé de Leiria, foram classificadas em 2014 como monumento nacional, aguardam um programa museológico para, pela primeira vez, abrirem ao público, após obras de reabilitação agora concluídas.

Lusa /

"Neste momento, estamos a tratar do programa que há de fazer com que este lugar esteja aberto de uma forma renovada para ser visitado e ser interpretado", disse à agência Lusa o diretor do Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima, Marco Daniel Duarte.

Segundo Marco Daniel Duarte, o projeto tinha as duas componentes -- reabilitação e museologia -- mas, "não havendo dinheiro para tudo, optou-se por avançar com a parte estrutural" devido aos danos que apresentava.

A intervenção, no valor de 300 mil euros, começou em maio de 2014, no âmbito da Rota das Catedrais, que junta Estado e Conferência Episcopal Portuguesa, e vai permitir ao visitante subir à torre que apresenta uma "singularidade" no panorama das catedrais portuguesas: está separada da Sé, que se encontra na zona baixa da cidade, enquanto a torre está mais acima, no acesso ao Castelo.

Na torre da Sé, que ostenta o brasão do bispo de Leiria Manuel de Bolhões e Sousa, vai ser possível ver o carrilhão e os mecanismos do relógio, cujo mostruário é visível no exterior, mas também observar o pano de muralha antiga, onde está assente.

A casa do sineiro, igualmente recuperada, que é a porta de entrada para a torre, vai também ser musealizada.

"Esta casa é construída para albergar o responsável por dar as horas à cidade, por fazer tocar os sinos, por chamar os fiéis para as celebrações religiosas e é, inclusivamente, tomada como um dos cenários fictícios da obra de Eça de Queiroz [`O Crime do Padre Amaro`]", referiu o diretor.

O seu futuro reserva conteúdos ligados à "cultura do tempo", mas também com outro tempo, o da História da Diocese de Leiria-Fátima e como se interliga com a da cidade, explicou Marco Daniel Duarte, adiantando que no local vão estar igualmente expostos alguns artefactos arqueológicos encontrados no decurso da obra.

O responsável realçou que a História de Leiria "passa, indubitavelmente, por este equipamento arquitetónico dentro do tecido urbano da cidade, na colina que sobe ao Castelo, e que é uma das marcas mais importantes da Leiria medieval e da Leiria Barroca".

Outro dos aspetos que o projeto de musealização, ainda sem data de conclusão, nem valor, vai ter em conta é o facto de a torre ter sido prisão.

"Ainda hoje há no imaginário do lugar a frase `vais ouvir os sinos da Sé`, porque há a indicação de que, em determinada altura da História, este edifício funcionou como prisão, os calabouços da torre eram um lugar de cativeiro", referiu, realçando o facto de o tempo desta torre "ser um tempo diferente, é o tempo daqueles que estão em liberdade e também o tempo daqueles que estão em cativeiro".

Questionado por que razão a torre está separada da Sé, Marco Daniel Duarte disse que "os historiadores ainda hoje não têm cabal resposta", mas "inclinam-se para uma tentativa de explicação que parece estar relacionada com a topografia da própria cidade de Leiria".

"Os vizinhos da Sé, que estavam no Arrabalde da Ponte, não conseguiriam ouvir a chamada para as celebrações religiosas. É essa uma das explicações que se dá para a torre estar fora da Sé", para que "os sinos possam ouvir-se de um lado e do outro da cidade".

 

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