Torres Novas acolhe monumento que Estado Novo promoveu para antigas colónias

Torres Novas, Santarém, 15 Nov (Lusa) - Umas poucas dezenas de torrejanos tentaram, sexta-feira à noite, perceber por que razão tem a cidade de Torres Novas um monumento que o Estado Novo promoveu para as então províncias ultramarinas.

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"O Padrão Henriquino em Torres Novas e no Mundo Lusófono" foi o tema de uma das conferências dos Encontros Lusófonos que decorrem até domingo na cidade e que têm no monumento comemorativo dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique uma das suas bases de inspiração.

José Guilherme Abreu, docente da Universidade Católica e vice-presidente da Associação Portuguesa de Historiadores de Arte, historiou as várias tentativas do Estado Novo em erigir um monumento aos Descobrimentos, revelando o "sigilo" em que decorreu o concurso que deu origem ao projecto do padrão henriquino presente em Torres Novas e em outras sete cidades do mundo lusófono.

Guilherme Abreu destacou as escassas referências na imprensa da época (1958/1960), o que levou a que o autor do desenho, o pintor conimbricense Severo Portela Júnior, tivesse ficado incógnito até agora.

O investigador explicou o "sigilo" pelos receios de que novo concurso depois dos fracassos dos realizados para o promontório de Sagres (por três vezes anulado) gerasse nova onda de contestação entre os arquitectos.

Dirigindo-se às colónias, Torres Novas acabou por ser a única cidade portuguesa a ficar com um padrão henriquino, o que Guilherme Abreu justificou com as diligências desenvolvidas pelo núcleo local da Mocidade Portuguesa.

Carlos Carreira, historiador que presta apoio ao programa Memórias da História, promovido de dois em dois anos pela Câmara Municipal de Torres Novas, acrescenta um outro facto, referindo as diligências iniciadas em 1939 pela autarquia de então no sentido de homenagear os torrejanos que se destacaram nos cercos de Diu (Índia).

A pedra da fortaleza de Diu, pedida na altura, acabou por chegar a Torres Novas apenas em 1954, sendo incorporada no monumento henriquino (como ainda hoje é visível na rotunda junto ao mercado), disse à agência Lusa.

Além de Torres Novas, o monumento foi erguido em Dili (Timor-Leste), Água Grande (S. Tomé e Princípe), Lourenço Marques (actual Maputo, Moçambique), Cidade da Praia (Cabo Verde) e nas cidades guineenses de Bissau, Farim e Cacheu, não tendo sido concretizado nem em Angola nem no Estado da Índia, adiantou.

Este monumento comum serviu de inspiração a um "encontro de culturas" promovido pela Câmara Municipal de Torres Novas, que quis aliar a iniciativa à comemoração do Ano Europeu do Diálogo Intercultural e à experiência de cooperação que tem desenvolvido com Cabo Verde e Timor-Leste, neste caso no apoio à elaboração da futura lei eleitoral autárquica.

Ao longo desta semana, Torres Novas tem sido palco de workshops, oficinas para crianças, feiras do livro e do disco, gastronomia, debates, exibição de documentários e espectáculos musicais.

Os Encontros de Lusofonia prosseguem hoje com um dia dedicado aos livros e aos escritores e terminam domingo com um conjunto de iniciativas evocativas de Timor-Leste, estando prevista a exibição do documentário que resultou da visita realizada pelo presidente da autarquia torrejana, António Rodrigues, a Timor-Leste, no Verão, no âmbito da elaboração de uma proposta para a implementação do poder local naquele país.

As dificuldades encontradas pelos estudantes timorenses em Portugal vai ser o tema de um encontro agendado para a tarde de domingo e destinado a recolher "contributos para a construção do país".

O evento termina com um espectáculo de solidariedade para com a menina timorense de 10 anos operada a um tumor no Hospital de S. João, no Porto.

MLL.


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