"Uma produção a sério" de "A Menina do Mar" de Sophia de Mello Breyner é estreada hoje em Lisboa

por Lusa

Dez músicos, cinco atores e um maestro compõem o elenco de "uma produção a sério", em palco, de "A Menina do Mar", de Sophia de Mello Breyner Andresen, que se estreia hoje no Teatro Luís de Camões, em Lisboa.

Integrado nas comemorações dos 100 anos do nascimento da poetisa (Porto, 06 de novembro de 1909), o espetáculo, com música ao vivo, tem direção musical do neto mais novo da escritora, Martim Sousa Tavares, encenação do diretor do Teatro do Elétrico, Ricardo Neves-Neves, e banda sonora original de Edward Luiz Ayres d`Abreu.

Televisores onde vão passando animações, quer da personagem central do conto - a menina que quer conhecer o "mundo da terra" -, quer dos seus amigos do "mundo do mar", acabam por dar ao público os dois lados da mesma personagem, uma abordagem característica dos trabalhos de Ricardo Neves- Neves que viu neste conto de Sophia a possibilidade de utilizar, pela primeira vez, monitores de televisão, cumprindo um "desejo de há muito", explicou à imprensa.

Foi também uma forma de personificar os animais em cena sem ter de "mascarar" estas personagens "com fatos de espuma" - uma ideia que não lhe "agradava" - e que lhe serviu também para "apresentar a menina que [no conto original] cabe na palma da mão do rapaz".

Assim, "foi este o ponto de partida para toda a encenação, cenários e figurinos", disse Ricardo Neves-Neves.

O trabalho, para o regente Martim Sousa Tavares, foi realizado a partir de "uma ideia conceptual" de ter música ao vivo, para pôr em palco o conto infantojuvenil escrito pela sua avó, editado pela primeira vez, em 1958, então com ilustrações de Sarah Afonso, e que desde então tem preenchido o imaginário de gerações de crianças e jovens, disse Martim Sousa Tavares.

Do ponto de vista musical, "A Menina do Mar" "já está bastante bem servida", frisou o maestro, enumerando as várias versões existentes do conto: a "canónica", com música de Fernando Lopes-Graça e voz de Eunice Muñoz, a de Bernardo Sassetti, com Beatriz Batarda, uma versão "de jazz", composta por Filipe Raposo a partir da de Bernardo Sassetti, e outra de Filipe La Féria.

"Faltava-lhe uma coisa que fosse mesmo uma produção a sério, com uma orquestra, com uma encenação de facto interessante e vim aqui fazer este desafio à Susana Menezes [diretora artística do LU.CA, Teatro Luís de Camões] mal o teatro acabara de abrir", explicou o músico.

Um projeto nasceu para ser feito em Lisboa e no Porto, na Casa Andresen, antiga Quinta do Campo Alegre, ligada à infância da poetisa e do seu primo, também escritor, Ruben A., onde funciona atualmente a galeria da Biodiversidade e o Jardim Botânico do Porto, já que Martim Sousa Tavares é o curador das comemorações do centenário de nascimento da autora naquele espaço.

"A ideia era fazer uma versão sem cenário, com músicos e atores, por ocasião do centenário de nascimento da escritora, mas como o LU.CA tinha acabado de abrir [junho de 2018] e é o único teatro infantojuvenil, vim propor a ideia à diretora artística da sala", frisou o músico, que, na altura, se encontrava a estudar fora de Portugal há seis anos.

A ideia "agradou" a Susana Menezes, por ter a ver com uma efeméride importante, por o espaço ser direcionado para o público infantojuvenil e porque "ter um neto a dirigir uma partitura para um texto da avó, é algo que enternece todos", explicou a diretora aos jornalistas, durante a apresentação do projeto, ao final da tarde de quinta-feira.

Assim "nasceu a ideia de `isto` ser um teatro a sério", com o LU.CA a assumir-se como coprodutor, ainda antes de haver um encenador escolhido, já que este foi encontrado a partir de uma lista com dez nomes propostos pelo maestro, com outros tantos sugeridos por Susana Menezes, disse Martim Sousa Tavares.

A escolha recaiu em Ricardo Neves-Neves, nome mencionado por ambos, e acabou por ditar a estreia do espetáculo em Lisboa, acrescentou Sousa Tavares, sem se preocupar com o que a avó poderia pensar do espetáculo, e apenas por pensar que a autora "merece ser celebrada".

"Estranhamente, não há nenhuma sensação especial de estar a fazer isto. Já fico muito feliz por o espetáculo estar montado", frisou, acrescentando que foi escolhido o conto "A Menina do Mar", por ser o que abre a sequência de histórias fantásticas da autora e por ser também aquele que melhor se adequa ao público mais jovem, até pela sua duração, perto de 40 minutos.

 

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