Universidade de Coimbra foi única em Portugal durante séculos
Coimbra, 15 jun (Lusa) - A Universidade de Coimbra (UC) foi durante séculos a única universidade portuguesa e afirmou, na cidade do Mondego, uma identidade cultural que motivou a sua candidatura a Património Mundial da Humanidade.
Para o historiador Luís Reis Torgal, esta circunstância constitui, aliás, "uma das características históricas mais interessantes e originais da história das universidades em Portugal".
Esta sua afirmação integra uma síntese histórica das universidades em Portugal - a que a agência Lusa teve acesso - que fará parte do livro "Que Universidade? Interrogações sobre os caminhos da Universidade em Portugal e no Brasil", do qual Reis Torgal é coautor com Ângelo Brigato, a publicar este ano pela Universidade Federal de Juiz de Fora, no Brasil.
O professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra salienta "o facto de o `Studium Generale`, primeiro criado em Lisboa e que veio a transferir-se para Coimbra, se ter mantido como universidade (quase) única" durante séculos.
Fundada por D. Dinis, em 1290, a Universidade começa por funcionar em Lisboa, mas será transferida para Coimbra, alternando entre as duas cidades até 1537, quando se instala definitivamente nesta última cidade, no reinado de D. João III.
"Se excluirmos a situação discutível, e em todo o caso episódica, da `Universidade de Guimarães`, no século XVI, pode afirmar-se com segurança que só de 1559 a 1759 houve em Portugal outros `estudos universitários`, com a Universidade de Évora", refere Reis Torgal.
A reforma pombalina, com a concessão de novos estatutos pelo Marquês de Pombal, em 1772, é outro momento marcante da história da Universidade.
Só em 1911 "surgiram, finalmente, outras universidades" portuguesas, em Lisboa e no Porto, enfatiza.
"Ao assinar o `Scientiae thesaurus mirabilis`, D. Dinis criava a universidade mais antiga do país e uma das mais antigas do mundo", afirma a UC no seu portal, explicando que o documento emitido pelo rei-poeta dá origem ao Estudo Geral, logo reconhecido pelo papa Nicolau IV.
Reis Torgal participou na elaboração da candidatura à classificação pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) do conjunto Universidade de Coimbra - Alta e Sofia.
Coimbra "é um caso único" no mundo, já que nela se verifica "um envolvimento completo da própria academia" na cidade, o que, na sua opinião, não acontece com outras das universidades mais antigas da Europa, como a de Bolonha, na Itália.
Com mais de sete séculos, a Universidade "conta com um património material e imaterial único, peça fundamental na história da cultura científica europeia e mundial", um conjunto que a instituição quer ver classificado como Património Mundial, segundo o portal da UC na internet.
"A Universidade espraiou-se por Coimbra, modificando-lhe a paisagem, tornando-a na cidade universitária, alargada com a criação do Polo II, dedicado às engenharias e tecnologias, e de um terceiro polo, devotado às ciências da vida", adianta.
Salazar "procurou criar condições para transformar, até certo ponto, a Universidade num aparelho do regime", afirma Reis Torgal no mesmo texto inédito.
Os edifícios erguidos pelo Estado Novo, após destruição parcial da Alta, foram incluídos na candidatura.
"Têm algum significado na arquitetura de poder salazarista", defende o historiador, que realça ainda a importância das tradições académicas, como as repúblicas de estudantes e a canção de Coimbra, no conjunto da candidatura em apreciação pela UNESCO.