Valorização da obra de Paula Rego é "reconhecimento de um trabalho singular"
Lisboa, 29 Fev (Lusa) - A valorização da obra da pintora portuguesa Paula Rego no mercado de arte, que esta semana bateu recordes em leilões em Lisboa e em Londres, "representa o reconhecimento de um trabalho singular nos temas e abordagem".
"É uma obra bastante importante, com uma coerência e singularidade que tem vindo a ter cada vez maior reconhecimento", disse à Agência Lusa João Fernandes, director do Museu de Serralves, onde uma exposição de 150 obras de Paula Rego, realizada em 2005, foi a mais visitada de sempre em Portugal, com 157 mil entradas.
Esta semana, "Baying" (Uivando), uma tela pintada a pastel de 1994 foi adquirida num leilão em Londres por um valor recorde de 740 mil euros, e na quinta-feira à noite, num leilão realizado em Lisboa, a pintura "The Egyptian Cats" (Os Gatos Egípcios), foi arrematada por 280 mil euros, o recorde nacional em leilões de obras da autora.
João Fernandes ressalvou, no entanto, que não são os grandes números atingidos no mercado de arte que o levam a reconhecer a elevada qualidade da obra de Paula Rego: "Estamos a viver um momento em que o mercado de arte é cada vez mais valorizado e especulativo; o percurso desta artista revela há muito uma grande coerência", avaliou.
Por outro lado, "os temas abordados por Paula Rego têm muito a ver não só com o imaginário português, mas também universal, como a condição feminina, o convívio com a repressão em ditadura", acrescentou o director do Museu de Ressalves.
Foi iniciativa de João Fernandes a exposição organizada em 2005 - cujo objectivo era reflectir sobre a relação entre o desenho e a pintura, muito importantes em Paula Rego - e na sequência da qual o museu adquiriu o políptico "Possession" (2004), integrado actualmente na colecção da Fundação de Serralves.
"Com os valores que as obras estão a atingir agora vai ser cada vez mais difícil aos museus comprarem peças de Paula Rego", comentou o responsável.
No futuro, "a tendência é que subam cada vez mais", disse por seu turno à Agência Lusa Rui Brito, da Galeria 111, que representa a artista em Portugal, o único país excepção, já que Paula Rego tem uma galeria em Londres - a Malborough - que a representa a nível mundial.
"Ela está a ter uma visibilidade e valorização crescentes que têm a ver com a popularidade cada vez maior no Reino Unido. Os ingleses consideram que Paula Rego e Lucian Freud (neto do fundador da psicanálise) são actualmente os grandes expoentes da arte contemporânea", apontou.
Representante de Paula Rego desde os anos 70, a Galeria 111 tem agora - face ao sucesso da artista no mercado europeu e à abertura dos Estados Unidos - dificuldades em conseguir trazer originais para Portugal.
Quanto ao impacto que esta valorização está a ter na vida de Paula Rego, o galerista comentou que nos contactos regulares que mantêm, a artista "continua a ter uma postura de reserva e tenta não ser demasiado absorvida pelas constantes solicitacções".
"É uma trabalhadora incansável. De segunda a sábado está no atelier", comentou Rui Brito sobre a artista, nascida em Lisboa, em 1935, mas a residir em Londres desde 1963.
O Museu Nacional das Mulheres nas Artes em Washington inaugurou no final de Janeiro último uma exposição com uma centena de trabalhos de pintura, desenhos e gravuras da pintora portuguesa, que anteriormente também foi alvo de uma grande exposição retrospectiva no Museu Rainha Sofia, em Madrid.
Também em Janeiro último, em Cascais, foi lançada a primeira pedra da futura Casa de Histórias e Desenhos Paula Rego, desenhada pelo arquitecto Eduardo Souto Moura, que deverá abrir no início de 2009 com uma área de 750 metros quadrados para acolher obras da artista doadas à câmara local, e um auditório, uma biblioteca e uma livraria.
AG.
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