Viola campaniça ganha "novo fôlego" - Pedro Mestre
Lisboa, 29 Set (Lusa) - A edição de dois CD no mercado nacional revela um "novo fôlego" da viola campaniça, da qual, segundo Pedro Mestre, que a toca há doze anos, apenas restam doze tocadores tradicionais.
Pedro Mestre, 24 anos, considera que este "novo fôlego" se deve ao interesse de uma emissora de rádio local que, através do seu programa "Património", divulga desde há anos as tradições populares, nomeadamente musicais.
Os dois CD, editados pela Ovação, são "Ilha dos vidros", com uma recolha de temas tradicionais, e "Encontro de violas", que junta a campaniça tocada por Pedro Mestre com a viola caipira tocada por Chico Lobo.
"A viola caipira é uma filha da nossa viola campaniça, segundo dizem os entendidos. Claro que se adaptou à nova terra, utiliza outras madeiras, mas toca-se como a maneira tradicional, isto é, com o polegar direito em jeito de vaivém", explicou à Lusa Paulo Mestre.
Segundo Mestre, "a viola caipira é o único instrumento transversal a todas as regiões do Brasil e tem uma expansão e atenção nos `media` superior ao que acontece em Portugal".
A viola campaniça terá chegado ao Brasil e a outras paragens levada pelos navegadores portugueses, assumindo outras variantes.
"O encontro de violas foi um acaso - observou - pois eles no Brasil achavam que a viola campaniça estava mais divulgada por cá. O Chico Lobo veio a Portugal, a um festival, e tudo aconteceu naturalmente, as duas violas conheceram-se".
Residente em Castro Verde, um dos concelhos da região da campaniça, que integra ainda Ourique, Odemira e Almodôvar, Pedro Mestre começou a tocar aos 12 anos, influenciado por um programa da Rádio Castrense.
"Comecei a tocar com mestre Francisco António e mais tarde com Manuel Bento. Tomei o gosto, mas este vinha já do berço, pois sou de uma família que tem o gosto pelas tradições do povo e o que é tradicional", disse.
"Depois senti que tinha a responsabilidade de manter aquele instrumento e, mais do que isso, preservar a técnica tradicional de tocar como os mestres", acrescentou.
"Ilha dos vidros" conta com a voz de Celina da Piedade, que integra o Cinema Ensemble de Rodrigo Leão, e resulta de um recolha de temas tradicionais feita na região por Mestre.
"Recolhi os temas e fiz os arranjos para a voz da Celina", esclareceu.
"Ilha dos vidros" reúne 16 temas tradicionais interpretados pelo Grupo de Violas Campaniças composto por Pedro Mestre, Márcio Isidro, Lucinda Mestre, Evangelina Torres e Celina da Piedade.
"O álbum inclui um texto bilingue (português/inglês) que é um piscar de olho ao mercado da `world music`", admitiu Mestre, que se prepara para actuar, em Outubro, no Canadá.
NL.
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