Vittorio De Seta em destaque no "reino dos documentários" a partir de hoje em Serpa

Serpa, Beja, 17 Jun (Lusa) - A obra do cineasta italiano Vittorio De Seta, considerada "uma das mais poderosas" do cinema europeu do século XX, vai estar em destaque no sexto seminário internacional sobre cinema documental Doc`s Kingdom, que arranca hoje, em Serpa.

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O "reino dos documentários", organizado pela APORDOC - Associação pelo Documentário, vai decorrer ao longo de uma semana no cine-teatro da cidade alentejana de Serpa, incluindo a exibição de 33 filmes de 19 cineastas portugueses e estrangeiros, 12 dos quais com presença confirmada para participar em 10 debates.

O Doc`s Kingdom apresenta-se como "um retiro onde os documentários funcionam como pretextos para pensar os caminhos do cinema documental", segundo explicou à agência Lusa o realizador Nuno Lisboa, programador do seminário.

Trata-se de "uma oportunidade única para ver filmes e falar sobre eles com os seus realizadores, através de conversas informais que permitem descobrir melhor os filmes e mergulhar nos universos pessoais dos autores", acrescentou.

A edição deste ano, precisou Nuno Lisboa, parte do tema geral "a paisagem, o trabalho do tempo" e quase todos os documentários a exibir "demonstram como o cinema é uma ferramenta privilegiada para dar a ver a paisagem natural e social".

O Doc`s Kingdom conta este ano com as presenças de cinco cineastas estrangeiros, como o francês Jean-Claude Rousseau e o norte-americano James Benning, e sete portugueses, como João Mário Grilo e Miguel Gomes, que irão falar dos seus filmes após as respectivas exibições.

A exibição aberta ao público, hoje, às 21:00, de "Pour le Mistral" (1965), um filme-ensaio e o primeiro de dois em torno da "ideia de filmar o que não se vê" - o vento - do francês Joris Ivens, o "cineasta das guerras e das revoluções" e "o mais célebre dos autores do documentarismo social e político", marca o "pontapé de saída" do seminário.

Com mais de 18 filmes e documentários realizados desde 1961, Vittorio De Seta, que "construiu uma das mais poderosas obras cinematográficas sobre o homem e o seu meio geradas pelo cinema europeu na segunda metade do século XX", frisou Nuno Lisboa, vai "dominar" o "reino dos documentários", sobretudo hoje e quarta-feira.

O seminário vai exibir "Banditi a Orgosolo" (1961), a primeira longa-metragem do cineasta italiano, actualmente com 84 anos, e a sua série inicial de 10 curtas-metragens sobre "as difíceis condições de vida dos trabalhadores da Sicília e da Sardenha", rodadas entre 1954 e 1959.

"O Tapete Voador" (2008) de João Mário Grilo será o primeiro filme português a ser exibido no Doc`s Kingdom deste ano, quarta-feira de manhã, seguindo-se uma tarde de cinema documental francês com a exibição de um filme de Jean Breschand, outro de Keja Ho Kramer e dois de Jean-Claude Rousseau, além de conversas com os cineastas.

O cinema de James Benning vai estar em destaque no terceiro dia do seminário, quinta-feira, através da exibição de dois filmes e uma conversa com o realizador, que Nuno Lisboa considera "um dos mais influentes cineastas norte-americanos da actualidade" e cujo trabalho "redefine a cada filme o que entendemos como filme de paisagem".

Dos dois filmes de James Benning a exibir, Nuno Lisboa destacou "One Way Boogie Woogie/27 Years Later", "um filme sobre a memória e o envelhecimento" que junta dois documentários filmados pelo realizador no vale industrial do Milwaukee, nos Estados Unidos da América, o primeiro e mais antigo em 1977 e o novo em 2005, com as mesmas 60 posições da câmara e a maior parte das mesmas pessoas, entre amigos e familiares do cineasta.

Um debate alargado com a presença dos realizadores convidados e cujos filmes foram exibidos nos primeiros três dias do seminário e a exibição pública do filme "Bab Sebta" (2008), dos realizadores portugueses Pedro Pinho e Frederico Lobo, vão marcar a programação de sexta-feira.

Em "Bab Sebta", que significa em árabe a porta de Ceuta e é o nome da passagem na fronteira entre Marrocos e Ceuta para onde convergem os africanos que querem entrar na Europa, os dois jovens realizadores portugueses vão ao encontro daqueles que "esperam a oportunidade de emigrar".

A exibição de "Aquele Querido Mês de Agosto" (2008), um "retrato" de Miguel Gomes de um típico mês de Agosto no Portugal serrano, é uma das propostas para sábado, que inclui também uma sessão pública de "Moi, Pierre Rivière, ayant Égorgé ma Mère, ma Soeur et mon Frère..." (1976) do realizador francês René Allio.

Na sessão "O Cinema, Cem Anos de Juventude", no próximo domingo, o Doc`s Kingdom exibe filmes realizados este ano lectivo por alunos da escola secundária de Serpa, no âmbito do "Primeiro Olhar", um projecto de iniciação à imagem desenvolvido pela Associação "Os Filhos de Lumière".

O seminário termina com a exibição do filme "Partie de Campagne" (1936-46), considerado a "obra-prima" do realizador francês Jean Renoir e baseado numa novela do escritor e poeta francês Guy de Maupassant.

LL.

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