Putin volta a defender Pacto Hitler-Estaline de 1939

por RTP
Manifestação de Março de 2013 na Letónia, contra o estalinismo e o nazismo Ints Kalnins, Reuters

O presidente russo Vladimir Putin afirmou que não havia nada de mal em "a União Soviética não querer combater" em 1939. Reincidia desse modo em anteriores argumentações defensivas, mais mitigadas, que tinha apresentado sobre o Pacto.

O diário norte-americano New York Times publicou a transcrição ontem divulgada pelo Kremlin de um encontro de historiadores ocorrido na quarta feira, com a presença do presidente russo, em que este voltou a pronunciar-se sobre o Pacto Hitler-Estaline, de 1939, que na verdade foi assinado entre o chefe da diplomacia alemã Joachim von Ribbentrop e o seu homólogo soviético Wjatscheslaw Molotow.

Segundo citação do NYT, Putin afirmou: "A União Soviética assinou um tratado de não-agressão com a Alemanha (...) Há pessoas que dizem: 'Isso é mau'. Mas o que é que tem de mau que a União Soviética não quisesse combater? O que é que isso tem de mau?"

A própria designação escolhida por Putin é controversa: o pacto de 1939 não era apenas um pacto de não-agressão, como as duas partes signatárias na altura o apresentaram, mas tinha além disso um anexo secreto de partilha territorial. A Alemanha poderia atacar a Polónia sem recear uma reacção soviética, ao passo que a URSS ocuparia os países bálticos e a Polónia oriental. Até 1989, a URSS negara a existência desse protocolo adicional.

Consciente desta discussão decisiva sobre o anexo de partilha territorial, Putin acrescentou, ainda segundo a transcrição, que a URSS não fora a única a envolver-se na partilha dos despojos de guerra dos países vencidos. Assim como a URSS ficou com parte da Polónia, disse nomeadamente Putin, também a Polónia tinha, meses antes, ficado com parte da Checoslováquia ocupada pelas tropas alemãs. E comentou que "uma investigação séria mostraria que esses eram então os métodos da política externa".

Outro comentário de Putin citado em The Telegraph aponta o dedo aos historidades ocidentais, que actualmente pretenderiam silenciar o significado do Pacto de Munique, de 1938, entre as potências fascistas Alemanha e Itália, e as democráticas França e Inglaterra, que deram luz verde ao desmembramento da Checoslováquia pelo nazismo.

Aí recorda Putin que o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain "chegou a Londres, ao regressar das conversações, agitou um pedaço de papel e disse: 'Eu trouxe-vos a paz' (...) Ao que Churchill, segundo creio, disse a um pequeno grupo de pessoas: 'É isso, agora a guerra é inevitável'"

Putin concluiu esta tirada com uma observação final que poderia igualmente aplicar-se ao Pacto Hitler-Estaline: "O compromisso com um agressor do tipo da Alemanha hitleriana estava claramente a levar a um futuro conflito militar em larga escala, e algumas pessoas entendiam que era assim".

Já em 2009, por ocasião das comemorações do início da Segunda Guerra Mundial, Putin tinha emitido observações desculpabilizantes sobre o Pacto Hitler-Stalin, mas em versão mais mitigada. Nessa altura referiu, em discurso pronunciado em Gdansk, que a assinatura do Pacto não tinha sido o único factor responsável pelo desencadeamento da invasão nazi da Polónia.

No entanto, Putin ainda acrescentara nesse momento que todos os acordos assinados com o nazismo de 1934 a 1939, pelo ocidente e pela URSS, eram "moralmente inaceitáveis". E mesmo em Maio deste ano ainda promulgou uma lei condenando a cinco anos de prisão quem fizer propaganda revisionista a favor do nazismo.
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