Angola afasta-se da Nigéria na luta pela liderança no petróleo em África
Londres, 20 fev (Lusa) - O objetivo de Angola chegar ao primeiro lugar da produção de petróleo em África, destronando a Nigéria, ficou mais distante no primeiro trimestre deste ano, de acordo com os números das exportações previstas de janeiro a março.
No primeiro trimestre deste ano, Angola exportou o equivalente a 1,533 milhões de barris por dia, ao passo que a Nigéria conseguiu enviar 1,917 milhões diariamente, o que faz com que, no final do primeiro trimestre, os dois países estejam separados por mais de 35 milhões de barris (172 milhões da Nigéria contra 137 milhões de barris angolanos).
De acordo com estes dados da agência financeira Bloomberg, compilados pela Lusa, Angola exportou no ano passado um total de 625,1 milhões de barris de petróleo, bem abaixo dos 719 milhões de barris exportados pela Nigéria, o maior produtor africano.
As exportações petrolíferas, aliás, ficam abaixo das próprias previsões do Governo angolano, que no Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) estima que em 2013 teria chegado aos 673,6 milhões de barris.
Angola é atualmente o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, atrás da Nigéria, com cerca de 1,7 milhões de barris/dia e tem o objetivo assumido pelo ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, de atingir a cifra de 2 milhões em 2017, depois de anteriormente ter sido equacionado o ano de 2015.
Os números das exportações são praticamente equivalentes aos números da produção de petróleo em Angola, uma vez que o país exporta 99,7% da sua produção, de acordo com os dados oficiais.
Para o analista da Petroleum Economics Martin Quinlan, a "estagnação" da produção de petróleo em Angola deve-se essencialmente a três fatores: ausência de novos grandes projetos, falta de incentivos fiscais para as empresas investirem e saturação dos poços atualmente em exploração.
"O declínio total deve chegar aos 100 mil barris, mas há dois novos poços que podem aumentar a produção em 130 mil barris por dia, por isso a produção deve ficar estável neste e no próximo ano, mas depois haverá um declínio porque não há poços novos", explicou o analista que acompanha o setor do petróleo em África há quase 30 anos.
"Angola, para conseguir bater a Nigéria na liderança da produção de petróleo em África, tem de planear a cinco anos, tem de juntar as petrolíferas e convencê-las a avançar em projetos de desenvolvimento, e depois, claro, tem de atrair investimentos, porque se o sistema fiscal permitir um lucro decente, então os investimentos aparecem, mas nos últimos quatro ou cinco anos o sistema de impostos tem sido mais penalizador, e essa é uma das razões para os projetos não estarem a avançar", afirma o analista, em declarações à Lusa.
O petróleo em Angola representa 97% das exportações e 80% da receita fiscal, mas a indústria petrolífera emprega apenas 1% da população, que já soma mais de 21 milhões, segundo o Banco Mundial, dos quais a maioria vive com menos de 2 dólares por dia, de acordo com os dados das Nações Unidas.
De acordo com o PND, aprovado no final de 2012, mas que é seguido de perto pelo Governo, a produção deverá subir para os 704 milhões de barris até ao final deste ano, mas a avaliar pelo ritmo do primeiro trimestre, fechará 2014 com apenas 560 milhões, que comparam com 699 milhões da Nigéria.
O PND estima que, para o ano, a produção deverá aumentar para 732,5 milhões e, em 2016, atingirá o pico de 760,4 milhões de barris, para voltar a descer em 2017 para 686 milhões de barris.