Ativista brasileiro do povo indígena Karipuna lamenta falta de apoios

por Lusa

O líder indígena Adriano Karipuna defendeu hoje em Lisboa que a falta de visibilidade para a luta do povo Karipuna, do Estado brasileiro de Rondónia, não está a evitar a destruição da floresta amazónica.

A luta dos Karipuna, que na década de 1980 eram apenas oito pessoas, cinco adultos e três menores, é também a luta pelo ambiente e pela preservação dos valores e tradições dos povos indígenas do Brasil, acrescentou o ativista.

Adriano Karipuna, de 36 anos e rosto mais conhecido da luta deste povo, que atualmente não chegam a ser mais de 55, fez o alerta numa conferência promovida hoje em Lisboa pelo GI CRIA - Governação, Políticas e Quotidiano, no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).

"Há dias aterrei num aeroporto e só via cartazes a pedir a paz na Ucrânia e interroguei-me: e a paz na Amazónia?", alertou, defendendo que a luta pela floresta amazónica, alvo da cobiça de interesses económicos, de que sobressaem atualmente os madeireiros, devia ser uma luta de toda a comunidade internacional, a começar pela União Europeia.

Adriano Karipuna defendeu que se faça pressão sobre o Brasil, promovendo o boicote aos bens que o país exporta, designadamente soja.

"O mundo tem de olhar também para a Amazónia e nós estamos sozinhos nessa luta, numa luta que é também a nossa sobrevivência", vincou.

Reconhecendo que não é fácil granjear apoios, Adriano Karipuna procura associar a sobrevivência dos Karipuna e demais povos indígenas do Brasil ao ambiente.

Dados divulgados no passado dia 06 de maio pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil revelam que os alertas de desflorestação na Amazónia brasileira atingiram novo recorde mensal em abril, com mais de 1.000 quilómetros quadrados de floresta derrubados.

Entre 01 e 29 de abril, o órgão ligado ao Governo brasileiro registou 1.013 quilómetros quadrados de alertas de desflorestação na Amazónia, o que representa um salto de 74,6% face ao mesmo mês do ano passado e o maior nível para um mês de abril nunca visto desde o início do histórico da série, em 2016.

O número equivale a 1.389 campos de futebol destruídos no período, segundo cálculos da organização ambientalista Greenpeace Brasil.

A organização alertou que a situação tende a agravar-se caso alguns dos projetos que tramitam no Congresso brasileiro sejam aprovados, pois procuram flexibilizar ainda mais a legislação ambiental ou legalizar a mineração em terras indígenas.

Segundo dados oficiais, entre agosto de 2020 e julho de 2021, a Amazónia brasileira perdeu 13.235 quilómetros quadrados de vegetação, a maior área degradada em 12 meses registada nos últimos 15 anos.

A desflorestação, causada principalmente pela mineração ilegal e comércio ilegal de madeira, é uma das principais causas dos incêndios que consumiram parte da vegetação daquele bioma nos últimos anos, cujas imagens circularam pelo mundo há dois anos.

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