Autoridades britânicas desaconselham "todas as viagens" no norte de Cabo Delgado
As autoridades britânicas desaconselham "todas as viagens" para o norte da província de Cabo Delgado, em Moçambique, devido a "ataques de grupos com ligações ao extremismo islâmico", alertando igualmente para deslocações à vizinha província de Nampula.
Segundo informação enviada aos viajantes pelo Foreign Commonwealth & Development Office (FCDO), responsável pela proteção dos interesses e cidadãos britânicos no exterior, consultada hoje pela Lusa e que se mantém em vigor há cerca de uma semana, aquele órgão desaconselha todas as deslocações aos distritos de Mueda, Nangade, Palma - exceto a cidade, para viagens essenciais - Mocímboa da Praia, Muidumbe, Meluco, Macomia, Quissanga e Ibo.
"A FCDO desaconselha todas as viagens, exceto as essenciais, para o resto da província de Cabo Delgado devido a ataques de grupos com ligações ao extremismo islâmico", lê-se ainda.
Da mesma forma, a FCDO "desaconselha todas as viagens, exceto as essenciais", para os distritos de Memba e Eráti, em Nampula, "devido a ataques de grupos com ligações ao extremismo islâmico".
A Embaixada de França em Moçambique também já apelou aos cidadãos franceses para não viajarem para as cidades de Mocímboa da Praia, Pemba e Palma, em Cabo Delgado (norte), devido à "ameaça terrorista".
"Devido à presença de uma ameaça terrorista e de rapto nas cidades de Mocímboa da Praia, Pemba e Palma, é fortemente recomendado não viajar para estas cidades, bem como viajar nas estradas que ligam estas localidades", lê-se numa mensagem aos viajantes publicada em 14 de fevereiro pela Embaixada de França em Maputo.
O Presidente de Moçambique demonstrou no domingo desconforto com o apelo da França aos seus cidadãos para não viajarem para Cabo Delgado, norte do país, devido à "ameaça terrorista", falando mesmo numa agenda: "Cada país tem uma agenda e a agenda é alinhada e integrada. Deve haver um motivo qualquer por que foi feito um comunicado".
Filipe Nyusi disse que seria expectável que as autoridades francesas, dada a sua amizade com Moçambique, decidissem apoiar e trabalhar com Maputo para combater a ameaça terrorista.
Afirmou ainda que a declaração surge num momento em que o país africano está "a trabalhar arduamente para provar ao mundo que Moçambique está empenhado com os seus parceiros na luta contra o terrorismo".
A multinacional francesa TotalEnergies tem planeada a construção de uma central nas proximidades de Palma, para produção e exportação de gás natural, avaliada em 20 mil milhões de dólares (cerca de 18,6 mil milhões de euros), mas a obra está suspensa desde 2021 devido aos ataques terroristas.
Centenas de pessoas estão em fuga no sul da província de Cabo Delgado, em direção à vizinha província de Nampula, devido à intensificação dos ataques terroristas nas últimas horas, segundo fontes no terreno.
A fuga dos populares, a pé, e de famílias inteiras conforme documentado também por vários vídeos confirmados pela Lusa, acontece desde segunda-feira e envolve moradores de Mazeze, Chiúre-Velho, Mahipa, Alaca, Nacoja B, Nacussa, que abandonaram as respetivas aldeias percorrendo mais de 20 quilómetros ao longo da estrada Nacional (N1), até atravessar o rio Lúrio, fronteira com a província de Nampula, à procura do refúgio no distrito de Eráti (Namapa).
Nas últimas semanas têm sido relatados casos de ataques de grupos insurgentes em várias aldeias e estradas de Cabo Delgado, inclusive com abordagens a viaturas, rapto de motoristas e exigência de dinheiro para a população circular em algumas vias.
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou nos últimos dias vários ataques, incluindo em Macomia, e a morte de pelo menos 20 pessoas, um dos mais violentos em vários meses.
Através de canais de propaganda, o grupo terrorista documentou, com imagens, o ataque a uma posição das forças armadas moçambicanas, levando material bélico, e reivindicou ainda outro ataque em Chiúre.