Baixo Alentejo. Região europeia do vinho em 2026

O Baixo Alentejo vai ser a região europeia do vinho no próximo ano. A candidatura foi preparada com cuidado e a notícia foi bem recebida nos 13 municípios da região. A distinção foi apresentada em Bruxelas com brindes ao sucesso da iniciativa.

Andrea Neves - correspondente da Antena 1 em Bruxelas /
Foto: Maria das Dores - Unsplash

É uma bandeira que o Baixo Alentejo vai usar, com orgulho, durante todo o ano de 2026.

“Significa que nós fomos reconhecidos pela qualidade dos vinhos, pelo trabalho dos produtores, por aquilo que a região tem para oferecer, pelas suas castas e por todos os investimentos que têm sido feito pelos investidores da região para criar condições para que possam visitar-nos, para que possam saborear, degustar o vinho que, em conjunto com outros produtos que temos na região, podem favorecer a mesma, podem trazer vantagens económicas, podem trazer popularidade e podem trazer incentivos para mais investimentos no futuro”, refere António Bota, presidente do Conselho Intermunicipal do Baixo Alentejo.

“Significa o reconhecimento do trabalho de todos numa região que fica, de certa maneira, longe dos grandes centros, onde ainda existe tempo para degustar, tempo para estar com os amigos, e onde existem também condições de turismo rural, de turismo enológico, de ecoturismo".

“Todos os detalhes que possam servir para valorizar, para enaltecer o que fazemos de bem feito são sempre bem-vindos”, realça António Bota.

“Portanto, o trabalho de quem faz esta promoção do vinho, o trabalho das associações relacionadas com a produção, com a divulgação, com o aperfeiçoamento da qualidade, tem os seus resultados nestes prémios”.

O presidente do Conselho Intermunicipal do Baixo Alentejo refere ainda que “este prémio não fica limitado à região, mas é um prémio nacional de reconhecimento internacional”.
Vinhos de qualidade e turismo de qualidade
“É difícil dizer lhe quantos empresários estão ligados a esta atividade, porque qualquer pessoa que tenha um turismo rural, qualquer pessoa que tenha um investimento relacionado com a região é um empresário ligado aos vinhos”, realça António Bota.

“Somos mais de 60 produtores de vinho, uns com umas castas com certas variedades, outros com outras castas, mas o facto é que temos 13 municípios no Baixo Alentejo e todos eles são, digamos assim, contribuidores para que este projeto tenha sucesso. Nem todos são produtores de vinho, mas todos eles produzem algo onde o vinho pode ser encontrado e onde pode ser utilizado”.

“É um turismo de qualidade, é um turismo onde juntamos a gastronomia, o vinho, a qualidade e o bem-estar do Alentejo. Portanto, é um prémio que nos é atribuído por mérito de todos aqueles que produzem, que vivem e que investem no Alentejo, incluindo produtores, incluindo promotores e associações relacionadas à temática do vinho”.

Ser Cidade (ou região, neste caso) Europeia dos Vinhos implica qualidade em todo o circuito, desde a produção ao turismo que tem o vinho por estrela principal, essencial para a dinamização de toda a região.

O facto de a distinção, no próximo ano, ser uma bandeira do Baixo Alentejo é também essencial para uma região interior à procura de maior dinamização económica. É o que refere Luís Encarnação, presidente da Associação dos Municípios portugueses do Vinho.

“Houve três candidaturas a nível nacional: uma do Baixo Alentejo, uma da região dos Açores e outra do Algarve. Depois, conforme estipula o regulamento, foram votados numa assembleia onde participam todos os municípios associados da AMPV – que já são quase 150 municípios – e a vencedora foi, por uma esclarecedora maioria, a candidatura do Baixo Alentejo”, afirma Luís Encarnação.

“E obviamente que nós na associação recebemos sempre o vencedor com o entusiasmo de quem tem essa missão de representar os vinhos portugueses na Europa”.Atividades durante todo o ano
“Dentro da candidatura estão já estipuladas uma série de iniciativas que o Baixo Alentejo vai ter que organizar. Algumas são obrigatórias mas depois há toda uma panóplia de eventos que seguramente esta candidatura irá apresentar durante o ano de 2026, sobretudo com esse objetivo de aproveitar esta oportunidade para colocar os vinhos do Baixo Alentejo num patamar elevado não só em Portugal, mas também na Europa”, salienta o presidente da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho.

“Mas este projeto vai muito mais para além de promover somente os vinhos ou a qualidade dos mesmos. O projeto da Cidade Europeia do Vinho tem também por objetivo promover o território, promover todas as sinergias que é possível – através do vinho e ligando vinho ao território – para poder contribuir para o desenvolvimento da região e para o desenvolvimento local de cada um dos 13 municípios que fazem parte da candidatura”.

Luís Encarnação realça ainda que a associação ficou satisfeita por ser “o Baixo Alentejo, até porque estamos a falar numa região que não é das mais favorecidas do nosso país do ponto de vista económico”.

“E há aqui também uma oportunidade excelente para que, a partir do vinho e a partir desta candidatura de Cidade Europeia do Vinho, no ano de 2026, o Baixo Alentejo possa também promover tudo aquilo que é o seu dinamismo e seguramente que há muito dinamismo nestes 13 municípios e em muitas outras áreas, como a cultura e como património”.

“E por isso ficamos na expetativa que 2026 seja um grande ano para o Baixo Alentejo, para os vinhos do Alentejo e para os vinhos de Portugal”.Uma escolha ponderada

“É uma escolha sempre difícil”, diz Rosa Melchior, presidente da Rede das Cidades Europeias do Vinho que “implica a análise da qualidade do vinho e de um compromisso na organização de eventos que vão desde o turismo à cultura”.

A espanhola que preside a esta rede explica que “o primeiro requisito é ser membro de uma das associações nacionais, por outras palavras, ser membro do nosso clube de produtores”. Mas há mais, realça Rosa Melchior “é importante o compromisso de apresentar um plano anual repleto de atividades que nos permita destacar o que significa a rede de colaboração entre municípios e entre países”.

O vinho é, sem dúvida, o mais importante, mas tudo o que acontece à volta do produto, como o enoturismo e a cultura, também ajudam na escolha da região ou da cidade que vai ter esta responsabilidade.

“Sim, de facto, acredito que o vinho veio demonstrar e identificar aquilo que somos há milhares e milhares de anos, desde os gregos aos romanos e até antes. O uso do vinho e a sua produção estão registados até no Antigo Testamento. Portanto, é a nossa identidade. Não há dúvida sobre isso”, salienta a Presidente da Rede das Cidades Europeias do Vinho.

“Mas acho que fomos muito corajosos e muito inteligentes ao conseguirmos aproveitar este recurso, este produto, para enriquecer os nossos territórios. E uma forma de os enriquecer é, de facto, utilizá-lo também para o turismo. Um turismo que é impulsionado pelo vinho, mas com o qual aproveitamos para mostrar todas as outras maravilhas das nossas terras”.Um modo de vida europeu
Numa altura em que certos países da União Europeia exigem rótulos mais específicos sobre os eventuais perigos do consumo de álcool e, por consequência, do vinho, Rosa Melchior garante que todos os produtores e regiões estão unidos na necessidade de mostrar que o vinho é um modo de vida europeu.

“Na verdade, quando este tipo de notícias começou a aparecer, ficámos extremamente aborrecidos e estamos a reagir. Estamos a lutar para provar o contrário. Em momento algum foi comprovado que o consumo moderado faz mal à saúde. Assim como deve haver um consumo moderado de arroz ou pão, ou de qualquer outro tipo de alimento que seja saudável em determinadas quantidades e se torne prejudicial quando exageramos”.

“Portanto, vamos estar nesta luta porque é a nossa vida. No final de contas, não se trata apenas de tradições; trata-se, de facto, de cultura, de a reconhecer e de a aproveitar para continuar a avançar em direção ao futuro”.

“E ela tornou-se um elo para a coesão territorial, uma fórmula para o desenvolvimento económico”, refere a presidente da Rede das Cidades Europeias do Vinho.

“Compreendemos as diferentes sensibilidades dentro da representação europeia de cada país e também compreendemos que cada país tem os seus próprios interesses, e alguns países, não sendo produtores de vinho, podem ter interesse em que as pessoas consumam outros tipos de alimentos ou de bebidas alcoólicas”.

No próximo ano será o Baixo Alentejo a ser o embaixador europeu dos vinhos. Uma responsabilidade que todos os municípios da região assumem como necessária para uma maior dinamização do setor.
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