Bankinter compra Barclays Portugal

por Marina de Castro

Foto: Reuters/Gustau Nacarino

A presidente executiva do banco espanhol Bankinter afirma que a confiança na economia portuguesa e o facto de o setor financeiro estar em plena restruturação foram algumas das razões para a compra dos negócios do Barclays em Portugal.

Num encontro com jornalistas, hoje em Lisboa, Maria Dolores Dancausa foi questionada sobre as razões que levaram o banco espanhol a escolher negócios do Barclays em Portugal, num momento em que precisamente outros bancos estrangeiros estão mais relutantes em apostar no setor financeiro nacional.

A resposta foi direta: "É precisamente por isso, é uma oportunidade para nós, temos confiança em Portugal, o país já fez todos os ajustes que tinha de fazer, é um país vizinho, e as previsões são todas boas, está a crescer e reduziu o défice", disse Maria Dolores Dancausa.

A presidente executiva do Bankinter, um banco que classificou como mediano, mas de referência no mercado espanhol, destacou ainda o facto de as margens serem mais altas em Portugal do que em Espanha e sublinhou que esta é a "primeira aventura de internacionalização" e "o primeiro impulso para crescer por vias orgânicas".

"Pensamos que se em Espanha o setor financeiro está a viver uma restruturação profunda com a economia a cair e o Bankinter foi capaz de recuperar, melhorar a rentabilidade, aumentar a base de clientes e ganhar cada vez mais dinheiro, então podemos também fazê-lo em Portugal. Esta é a aventura", afirmou.

Os dois bancos anunciaram na semana passada a venda ao banco espanhol dos negócios de banca de particulares, banca privada e banca corporativa do Barclays em Portugal, por um valor que rondará os 100 milhões de euros.

O negócio também incluiu os seguros de vida e pensões em Portugal, com a Bankinter Seguros de Vida, empresa controlada em 50% pelo Bankinter e pela Mapfre, a adquirir a operação em Portugal do Barclays, por 75 milhões de euros.

Questionada sobre eventuais despedimentos, Maria Dolores Dancausa afirmou que o banco espanhol "quer ter êxito em Portugal" e que "vai ser capaz de incrementar o número de clientes", afirmando que "isso é importante".

Sobre a redução do número de agências do Barclays, que adquiriu, a responsável destacou: "Vamos para uma instituição que já fez ajustamentos para as 84 agências. A nossa ideia para crescer não é através da redução de custos, mas o crescimento de clientes", pelo que "é prematuro falar sobre esse assunto, sobre se fecha num sítio e abre em outros dois".

Maria Dolores Dancausa reforçou que o banco "está muito determinado em efetuar esta operação", sujeita ainda à aprovação pelos reguladores e ao projeto de separação, previstos para o quarto trimestre deste ano.

A conclusão da operação deverá ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano, admitindo a responsável que o valor final será ajustado ao preço dos ativos no momento de fecho.

O processo de integração demorará contudo 12 meses, ou seja, a integração completa está prevista para o quarto trimestre de 2016.

Existirá ainda um período de transição, durante o qual, a marca Barclays continuará a ser usada, para depois passar a Bakinter no que diz respeito aos negócios que foram comprados.

Isto, porque de fora da aquisição ficou o negócio da banca de investimento e cartões, bem como um pequeno número de clientes corporativos da entidade, que continuarão a ser geridos pelo Barclays, que manterá o seu nome.

Quanto a futuras aquisições, a presidente executiva disse que para já "Portugal é uma operação suficientemente importante para o Bankinter não ter de pensar noutras".

O banco espanhol conta obter em Portugal uma quota de mercado em banca pessoal e privada da ordem dos 10%, acima dos valores atuais detidos pelo Barclays e antecipa que a operação criará valor para os acionistas do banco a partir do primeiro ano.

O Bankinter, que celebra este ano o seu 50º aniversário, é pioneiro em banca telefónica, aposta na tecnologia e inovação, fechou o primeiro semestre de 2015 com um lucro líquido de 197,3 milhões de euros e tem 4.276 colaboradores em Espanha.

(com Lusa)
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