Bayer compra Monsanto por 59 mil milhões de euros

por Graça Andrade Ramos - RTP
Brendan McDermid - Reuters

A farmacêutica Bayer anunciou esta quarta-feira que conseguiu comprar a Monsanto, a controversa fabricante americana de pesticidas e de sementes OGM, na aquisição mais cara de sempre por um grupo alemão.

"Bayer e Monsanto assinaram quarta-feira um acordo de fusão firme", pelo preço de 128 dólares (114 euros) por ação em numerário, anunciou a Bayer em comunicado citado pela agência France Presse.

"A transação junta duas atividades diferentes, mas fortemente complementares", sementes, pesticidas e fertilizantes, afirma o comunicado da Bayer.
 
Ambos, Bayer - empresa criadora da aspirina - e Monsanto, formarão um gigante mundial na agricultura, com um volume de negócios anual avaliado em de 23 mil milhões de euros e quase 140.000 empregados.

A Monsanto fabrica o herbicida Roundup (glifosato), contestado devido aos possíveis efeitos sobre a saúde humana, e sementes transgénicas de milho, de trigo e de soja, que tentou impor como obrigatórias em vários países do mundo, muitas vezes à revelia dos próprios agricultores. 

É adquirida globalmente por 66 mil milhões de dólares (quase 59 mil milhões de euros). 
Batalha financeira
A farmacêutica alemã teve de subir várias vezes a sua oferta de 122 dólares por ação proposta em maio para conseguir o acordo do fabricante americano de pesticidas e sementes transgénicas, 

Apesar de declinar as ofertas feitas pela Bayer, umas após as outras, a Monsanto afirmou sempre estar aberta a discussões admitindo ao mesmo tempo o interesse de outra farmacêutica em adquiri-la - que nunca chegou a ser nomeada.

A BASF, outro grande nome das empresas químicas alemãs, nunca entrou na liça.

O analista do DZ Bank, Peter Spangler considera que a Bayer está a pagar demasiado caro pela Monsanto.

"Vai ter por isso de fazer valer" o investimento, afirma.

Na bolsa de Frankfurt o desfecho da saga foi aplaudido e as ações da Bayer subiram 2,39 por cento para 95,53 euros às 11h52. 
"Casamento infernal"
Na Alemanha, onde a oposição aos organismos transgénicos é feroz, a aquisição da Monsanto por um dos nomes históricos da indústria nacional, é vista como um "casamento infernal" pelas ONG e vários políticos.

"A aquisição da Monsanto significa mais OGM e glifosato nas campanhas", exatamente aquilo que recusam os consumidores, advertiu a ONG Campact.

Desde o início que o recente CEO da Bayer, Werner Baumann, afirmou ser capaz de "gerir a reputação da Monsanto", esperando contrabalança-la com a imagem do seu próprio grupo.

Muitos agricultores temem ficar de pés e mãos atados nas suas aquisições de sementes, fertilizantes e pesticidas, com um único fornecedor que ditará todas as regras.

Foto: ReutersAumento de capital
Esta fusão é apenas o mais recentes episódio numa história de concentração no mundo dos químicos.

Os americanos Dow Chemical e DuPont já se fundiram, algo que Bruxelas tem estado a avaliar. Os chineses ChamChina querem igualmente adquirir a suíça Syngente, em tempo cortejada pela Monsanto.

A aproximação entre a Bayer e a Monsanto deverá estar concluída até finais de 2017 e espera-se que faça aumentar as suas exportações em 1,5 mil milhões de euros em três anos.

Ao colocar 66 milmilhões de euros na mesa, a Bayer rouba à Daimler o prémio de maior aquisição por uma empresa alemã. No fim dos anos 90 do século XX a Daimler pagou 36 mil milhões de dólares pela americana Chrysler.

A Bayer espera pagar os quase 66 mil milhões de dólares através de um aumento de capital e tem garantido um financiamento de 57 mil milhões de dólares (50.893 milhões de euros) dos bancos Merrill Lynch, Credit Suisse, Goldman Sachs, HSBC e JP Morgan.

Mas arrisca-se a ver a sua notação reduzida pelas agências financeiras.
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