Economia
BCE quer acabar com as notas de 500 euros
As notas que existem continuam a ter valor. Não vai haver um prazo limite para serem trocadas. Mas vai haver cada vez menos em circulação. O Banco Central Europeu diz que é para combater a criminalidade económica.
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu hoje que não serão impressas mais notas de 500 euros. Ao cidadão comum, diz o BCE, fará pouca diferença. A grande maioria das pessoas não tem notas de 500 e uma maioria de 56 por cento nem sequer as viu alguma vez. Mas ao mundo do crime pode fazer alguma diferença e nisso dizem apostar os banqueiros centrais europeus.Argumento do BCE: combate ao crime económico
Segundo o presidente do BCE, Mario Draghi, citado em Der Spiegel, "a nota de 500 euros é um instrumento de actividades ilegais". E essas actividades podem ir do financiamento do terrorismo até ao tráfico de droga, passando pelo leque variado de negócios das várias Mafias.
Com efeito, os negócios ilegais evitam naturalmente os pagamentos por cheque ou por transferência bancária, dos quais fica sempre um rasto, em última instância acessível às polícias. Pelo contrário, os pagamentos em efectivo podem ser feitos em mão, entre duas pessoas, sem mais ninguém saber.
O problema é que os negócios ilegais continuam a crescer exponencialmente e movimentam somas cada vez mais astronómicas. E o próprio sucesso do crime económico, bem como a sua prosperidade galopante, tornam os pagamentos em cash cada vez mais pesados. E tornam, por isso, as notas grandes cada vez mais úteis para atenuar as dificuldades desses pagamentos gigantescos.
200.000 notas de 50 euros
Peso: 184 quilogramas
Pilha: 20 metros de altura
O jornalista económico Stefan Kaiser calculou quanto pesam as 200.000 notas de 50 euros necessárias para fazer um pagamento de 10 milhões e chegou à conclusão que já estamos bem longe dos tempos em que os criminosos podiam passar no aeroporto com uma mala cheia de dinheiro vivo.
O mesmo pagamento, feito com notas de 500, era mesmo assim umas dez vezes menos pesado e menos volumoso.
Mesmo para pagamentos mais modestos, como podem ser uns 100.000 euros que se quer subtrair à punção do fisco, a redução a um décimo do peso e do volume apresenta vantagens.
Inversamente, o fim da nota mais valiosa da zona euro poderia - um condicional muito sublinhado, até pelos próprios especialistas do BCE - dificultar a circulação de dinheiro sujo. Trata-se, mesmo assim, de uma aposta forte que, apesar de atingir apenas 3 por cento das notas de euro em circulação, envolve quase 30 por cento do valor total dessas notas.Implicações imediatas da abolição da nota de 500
Notas de 500
Em circulação: 594.417.006
Valor: € 300 mil milhõesA resolução hoje tomada pelo BCE prevê que as notas de 500 deixem imediatamente de ser impressas, embora admita que as notas já impressas continuem a ser distribuídas até final de 2018. Para pagamentos mais volumosos, elas deverão nessa altura ser substituídas por notas de 100 e 200 euros.
Para o BCE, a alteração tem custos - desde logo os custos de impressão, que se elevam em cerca de 500 milhões de euros. Mas espera-se recuperar esse valor nos efeitos positivos, hoje dificilmente calculáveis, que a medida possa ter sobre actividades como a fuga fiscal, a lavagem de dinheiro e outras.
Implicações futuras: a incerteza
O problema é que, se esses ganhos não se confirmarem rapidamente, e se se mantiver apesar de tudo nas instâncias dirigentes do BCE a convicção de que o fim das notas grandes ajuda a combater a criminalidade económica, o passo seguinte será, em boa lógica, abolir também as notas de 100 e 200.
No limite, haveria a tendência para abolir em geral os pagamentos em dinheiro e para canalizar todos os pagamentos através dos bancos, para garantir que deles fique sempre um rasto passível de reconstrução detalhada por parte das polícias. Para aí aponta já em vários países da zona euro a definição de tectos para os pagamentos admitidos em cash (em Espanha, por exemplo, 2500 euros, na Itália 3000).
Esta tendência, nas suas formas mais extremas, é preconizada sobretudo por economistas norte-americanos como o antigo secretário de Estado de Bill Clinton, Larry Summers; ou o antigo economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff. Mas a ideia vai entretanto ganhando adeptos entre influentes economistas europeus, como o britânico com responsabilidades no Deutsche Bank, John Cryan, que chegou a defender o fim das notas e moedas.
Segundo o presidente do BCE, Mario Draghi, citado em Der Spiegel, "a nota de 500 euros é um instrumento de actividades ilegais". E essas actividades podem ir do financiamento do terrorismo até ao tráfico de droga, passando pelo leque variado de negócios das várias Mafias.
Com efeito, os negócios ilegais evitam naturalmente os pagamentos por cheque ou por transferência bancária, dos quais fica sempre um rasto, em última instância acessível às polícias. Pelo contrário, os pagamentos em efectivo podem ser feitos em mão, entre duas pessoas, sem mais ninguém saber.
O problema é que os negócios ilegais continuam a crescer exponencialmente e movimentam somas cada vez mais astronómicas. E o próprio sucesso do crime económico, bem como a sua prosperidade galopante, tornam os pagamentos em cash cada vez mais pesados. E tornam, por isso, as notas grandes cada vez mais úteis para atenuar as dificuldades desses pagamentos gigantescos.
200.000 notas de 50 euros
Peso: 184 quilogramas
Pilha: 20 metros de altura
O jornalista económico Stefan Kaiser calculou quanto pesam as 200.000 notas de 50 euros necessárias para fazer um pagamento de 10 milhões e chegou à conclusão que já estamos bem longe dos tempos em que os criminosos podiam passar no aeroporto com uma mala cheia de dinheiro vivo.
O mesmo pagamento, feito com notas de 500, era mesmo assim umas dez vezes menos pesado e menos volumoso.
Mesmo para pagamentos mais modestos, como podem ser uns 100.000 euros que se quer subtrair à punção do fisco, a redução a um décimo do peso e do volume apresenta vantagens.
Inversamente, o fim da nota mais valiosa da zona euro poderia - um condicional muito sublinhado, até pelos próprios especialistas do BCE - dificultar a circulação de dinheiro sujo. Trata-se, mesmo assim, de uma aposta forte que, apesar de atingir apenas 3 por cento das notas de euro em circulação, envolve quase 30 por cento do valor total dessas notas.Implicações imediatas da abolição da nota de 500
Notas de 500
Em circulação: 594.417.006
Valor: € 300 mil milhõesA resolução hoje tomada pelo BCE prevê que as notas de 500 deixem imediatamente de ser impressas, embora admita que as notas já impressas continuem a ser distribuídas até final de 2018. Para pagamentos mais volumosos, elas deverão nessa altura ser substituídas por notas de 100 e 200 euros.
Para o BCE, a alteração tem custos - desde logo os custos de impressão, que se elevam em cerca de 500 milhões de euros. Mas espera-se recuperar esse valor nos efeitos positivos, hoje dificilmente calculáveis, que a medida possa ter sobre actividades como a fuga fiscal, a lavagem de dinheiro e outras.
Implicações futuras: a incerteza
O problema é que, se esses ganhos não se confirmarem rapidamente, e se se mantiver apesar de tudo nas instâncias dirigentes do BCE a convicção de que o fim das notas grandes ajuda a combater a criminalidade económica, o passo seguinte será, em boa lógica, abolir também as notas de 100 e 200.
No limite, haveria a tendência para abolir em geral os pagamentos em dinheiro e para canalizar todos os pagamentos através dos bancos, para garantir que deles fique sempre um rasto passível de reconstrução detalhada por parte das polícias. Para aí aponta já em vários países da zona euro a definição de tectos para os pagamentos admitidos em cash (em Espanha, por exemplo, 2500 euros, na Itália 3000).
Esta tendência, nas suas formas mais extremas, é preconizada sobretudo por economistas norte-americanos como o antigo secretário de Estado de Bill Clinton, Larry Summers; ou o antigo economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff. Mas a ideia vai entretanto ganhando adeptos entre influentes economistas europeus, como o britânico com responsabilidades no Deutsche Bank, John Cryan, que chegou a defender o fim das notas e moedas.