Brasil deverá anunciar retoma de investimentos na Bolívia

São Paulo, Brasil, 13 Dez (Lusa) - O Brasil deverá anunciar a retoma de investimentos na Bolívia, durante a visita do presidente Lula da Silva ao país, a 16 e 17 de Dezembro, no momento em que se agrava a crise política boliviana.

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Os investimentos deverão ser feitos pela estatal brasileira Petrobras, nomeadamente na produção de gás natural, como forma de aumentar as exportações bolivianas do produto para o Brasil.

Actualmente, o Brasil é o maior importador de gás boliviano, cerca de 26 milhões de metros cúbicos por dia, através de um extenso gasoduto que liga os dois países.

"A Bolívia depende vitalmente do Brasil para exportar e o Brasil depende vitalmente da Bolívia para importar gás", disse à agência Lusa Georges Landau, um especialista sobre a questão.

Georges Landau, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), é um dos autores do recente livro "Cooperação Energéticas nas Américas: entraves e benefícios", organizado em parceria com o "Center for Strategic and International Studies" (CSIS), dos Estados Unidos.

Nos próximos três anos, o Brasil corre o risco de passar por uma crise de abastecimento de gás com o aumento do consumo interno, resultado do desenvolvimento da economia e da falta de opções de abastecimento.

As recentes descobertas de reservas de gás no litoral brasileiro, como a do campo Tupi, uma parceria entre a Galp e a Petrobras, só iniciarão a produção de gás a partir de 2010, "na melhor das hipóteses".

"Nesse cenário, a Bolívia é a única alternativa de curto prazo para aumentar a oferta de gás ao mercado brasileiro", afirmou Landau.

A nacionalização das reservas de petróleo e gás anunciadas pelo presidente boliviano, Evo Morales, em Maio de 2006, afastaram os investimentos privados do país.

A Bolívia necessita de novos investimentos no sector para garantir compromissos assumidos recentemente para fornecimento futuro de gás que supera a actual capacidade de produção, que é de 41 milhões de metros cúbicos diários.

O país assumiu aumentar a exportação para a Argentina, dos actuais 7,7 milhões de metros cúbicos para 27,7 milhões de metros cúbicos diários, a partir de 2011.

O mercado doméstico deverá consumir 14 milhões de metros cúbicos diários, oito dos quais destinados à siderúrgica indiana que se instalará no país.

Para o Brasil, o compromisso é aumentar a exportação para 31,5 metros cúbicos diários.

"São compromissos que excedem muito a actual produção e com a política dissuasiva ao capital estrangeiro, só resta às empresas estatais do Brasil (Petrobras) e da Argentina (Enarsa) realizarem os investimentos necessários na Bolívia", salientou Landau.

Segundo o especialista, desde a nacionalização das reservas bolivianas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, um dos principais aliados de Evo Morales, prometeu ajuda ao país.

"A estatal venezuelana PDVSA comprometeu-se a substituir as empresas privadas na Bolívia, mas nada até agora saiu do papel", disse Georges Landau.

O gás boliviano importado é responsável pelo abastecimento de 75 por cento das indústrias, domicílios e do transporte do Estado de São Paulo, o mais rico e industrializado do Brasil.

Uma crise no abastecimento poderia comprometer o bom desempenho da economia brasileira, que deverá registar um crescimento superior a cinco por cento este ano.

"Lula da Silva cederá às reivindicações da Bolívia, e a Petrobras politicamente está obrigada a atender tudo o que Evo Morales pedir", afirmou Landau.

Recentemente, o abastecimento de gás para a frota de táxis do Rio de Janeiro, a segunda maior cidade brasileira, chegou a ser suspenso por falta do produto.

A visita de Lula da Silva à Bolívia decorre no momento de agravamento da crise política interna do país, com a oposição a ameaçar declarar autonomia dos departamentos mais ricos.

Os governadores bolivianos dos departamentos (Estados) de Santa Cruz, Pando, Beni, Tarija e Cochabamba não reconhecem a nova Constituição boliviana aprovada no final de semana, por apoiantes de Evo Morales.

Na segunda-feira, durante a posse da presidente da Argentina, Cristina Kirchener, Lula da Silva fez uma declaração pública de apoio ao presidente boliviano.

Segundo Lula da Silva, a eleição de Evo Morales, de origem indígena, foi uma das "coisas mais extraordinárias que aconteceram na América Latina nos últimos anos".

A decisão de retomar os investimentos no sector energético na Bolívia decorrerá depois de uma crise entre o Governo boliviano e a estatal brasileira Petrobras.

Desde a nacionalização das reservas de gás e petróleo, a Petrobras, então a maior investidora estrangeira no sector, foi obrigada a vender os seus activos de refino à estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).

A medida causou uma grande controvérsia no Brasil e Lula da Silva chegou a ser criticado pela oposição por não defender os interesses brasileiros na Bolívia.

Depois de longas negociações, a Petrobras recebeu uma indemnização de 112 milhões de dólares (76 milhões de euros) por duas refinarias que controlava na Bolívia.

O decreto de nacionalização das reservas assinado por Evo Morales afectou igualmente os investimentos das empresas Repsol YPF (Espanha e Argentina), British Gas e British Petroleum (Reino Unido), Total (França), Dong Wong (Coreia) e Canadian Energy.

Desde 1996, a Petrobras já investiu na Bolívia cerca de 1,5 mil milhões de dólares (mais de mil milhões de euros), além de outros dois mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros) na construção do gasoduto que liga os dois países.

As duas refinarias são as maiores que actuam na Bolívia e processam cerca de 40 mil barris de petróleo por dia, o que representa toda a procura interna de gasolina e 70 por cento da de diesel.

MAN.

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