Brasil só aceita transformar minérios críticos e desafia Moçambique ao mesmo - Lula
O Presidente brasileiro, Lula da Silva, avisou hoje, em Maputo, que, na corrida global aos minérios críticos, o Brasil não vai permitir apenas a sua exportação, exigindo a transformação nacional, desafiando o homólogo moçambicano a fazer o mesmo.
"Assim como na América do Sul, o continente africano possui importantes reservas de minerais críticos, como o lítio e cobalto, que desempenhará um papel estratégico na transição verde. A cooperação internacional nessa matéria é fundamental", disse Lula da Silva, no encerramento do fórum empresarial Moçambique - Brasil, em Maputo.
Na sua intervenção no evento, na presença de três dos seus ministros, no âmbito da sua quarta visita ao país, igualmente com importantes reservas destes minérios, Lula da Silva disse mesmo ao Presidente moçambicano, Daniel Chapo: "Eu quero-te dizer que o Brasil está disposto a colaborar com vocês e nós temos que tomar a decisão: nós não vamos ser exportadores dos minerais críticos. Se quiser, vai ter que industrializar o nosso país para que o nosso país possa ganhar esse dinheiro".
Falando perante dezenas de empresários dos dois países, Lula da Silva afirmou que é "urgente que cada país seja capaz de definir as necessidades e modelos de exploração" das respetivas "riquezas minerais", mas "de forma soberana".
"Nós já temos um século de experiência. Já temos um século. A gente não tem por que acreditar mais. Ou nós aproveitamos essas riquezas que Deus nos deu e fazemos disso uma riqueza para o nosso povo, ou nós vamos ver os países de sempre cavarem buracos no nosso país, levar o nosso minério e a gente ficar com a fome e com a pobreza", avisou ainda.
Lula admitiu que a presença da China em África "desperta muita ciumeira": "De um lado, de uma parte da União Europeia, que esqueceu investimento na África, de outro lado, dos Estados Unidos, que também esqueceu investimento na África, de outro lado, do Brasil, que também esqueceu de fazer investimento na África, e a China ocupou o espaço".
"Então, ao invés de lamentar, ao invés de criticar, vamos trabalhar, vamos trabalhar para a gente recuperar", desafiou.
Sublinhando a aposta do Brasil em voltar a África, numa crítica às políticas e prioridades do Estado brasileiro na governação de direita anterior, Lula da Silva sublinhou que o "Brasil deve ao povo africano o seu jeito de ser, grande parte da sua cultura, a sua cor, o seu sorriso, as suas virtudes e os seus defeitos".
"Nós devemos muito ao continente africano. E você não pode pagar isso em dinheiro. Você tem que pagar com amizade, com solidariedade, com transferência de tecnologia", apontou.
Agora, para recuperar este caminho, assumiu que o Brasil quer "saber quais os projetos" que há em Moçambique para poder "fazer parceria" entre os empresários dos dois países.
"Para que os nossos empresários atentem para vir aqui produzir aquilo que eles já não estão produzindo no Brasil. E para que vocês, pelo amor de Deus, não repitam o mesmo erro no século XXI do século XX. O que faz um país crescer é paz, é tranquilidade, é democracia", apelou ainda Lula da Silva.
Reconheceu que o "Brasil precisa muito de gás" e, como "Moçambique tem muito gás", a petrolífera brasileira, que disse também ter saído de África nos últimos anos, pode apoiar Moçambique na procura de novas reservas.
Daniel Chapo, por sua vez, sublinhou a importância da agricultura em Moçambique, com uma "potencialidade enorme" que pode ser capitalizada pelos "irmãos brasileiros".
"Têm uma experiência reconhecida a nível do mundo", apontou, desafiando os empresários do Brasil a ajudar Moçambique a tornar-se um país exportador de alimentos, bem como a seguirem a aposta moçambicana como `hub` energético em África.
Da parte dos empresários moçambicanos foi lançado o apelo, neste fórum, para uma nova fase nas relações económicas entre os dois países, marcada por "investimentos reais", inovação e transferência de tecnologia.