Brexit. Banco de Inglaterra avisa que a economia não está preparada para a saída sem acordo

por Lusa
Reuters

O governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, disse hoje que boa parte da economia britânica “não está preparada” para uma saída da União Europeia (UE) sem acordo a 29 de março de 2019. Michel Barnier, o negociador da UE vincou no Parlamento Europeu que o tempo das negociações do acordo de saída e da declaração política da relação futura terminou e que este é o tempo da ratificação.

Mark Carney, que apresentou na quarta-feira um relatório do banco central sobre o impacto do ‘Brexit’, disse em entrevista à BBC que "menos da metade das empresas fez planos de contingência".

"Todos os setores, toda a infraestrutura do país, estão prontos neste momento? Até onde sabemos, a resposta é não", disse Carney no programa "Today" da Radio 4.

O governador disse que o mais importante para a estabilidade da economia é que haja "um período de transição".

A possibilidade de um ‘Brexit’ sem acordo ainda é válida dada a grande oposição que surge do acordo alcançado com Bruxelas pela primeira-ministra, Theresa May, que será votado pelo Parlamento a 11 de dezembro, após cinco dias de debate.

No seu relatório, o banco central previu um cenário de caos económico se o país deixar a UE sem um período de pacto ou transição, com uma depreciação da libra de até 25%, um aumento da inflação para 6,5% e uma queda no produto interno bruto (PIB) de 8% acima do nível atual até 2023.
May recusa afastar saída sem acordo
A primeira-ministra britânica, Theresa May, pediu hoje aos deputados que se concentrem na aprovação do acordo do ‘Brexit’ e recusou afastar a possibilidade de, em caso de chumbo, a saída da União Europeia ser feita sem acordo.

May foi questionada por deputados de uma comissão parlamentar da Câmara dos Comuns sobre se vai agir para travar uma saída sem acordo se o parlamento chumbar os documentos negociados entre o Reino Unido e os 27.

“Se a Câmara votar contra o acordo” terão de ser dados “alguns passos práticos em relação a um não-acordo”, respondeu.

“Obviamente vão ter de ser tomadas decisões”, disse a primeira-ministra na comissão de ligação, constituída pelos presidentes de todas as comissões parlamentares.

Uma outra avaliação realizada por vários ministérios, divulgada também na quarta-feira, concluiu que o país será mais pobre depois do ‘Brexit’ seja qual for o tipo de acordo que concluir com a UE e que quanto mais próxima for a relação comercial com o bloco menor será o impacto económico negativo.

Durante a audição de hoje, May irritou vários deputados ao escusar-se a responder a várias das perguntas que lhe foram feitas, insistindo em vez disso em frisar as vantagens do acordo que foi aprovado no domingo pelos líderes dos 27.

O parlamento, defendeu, deve “esquecer-se das outras opções” e centrar-se no debate do acordo proposto, sublinhou.

O acordo aprovado pela UE no domingo define os termos da saída do Reino Unido da UE, incluindo uma compensação financeira de 39 mil milhões de libras (44 mil milhões de euros), os direitos dos cidadãos e um mecanismo para manter a fronteira da Irlanda do Norte com a República da Irlanda aberta se as negociações para um novo acordo não for concluído até ao final de dezembro de 2020, quando acaba o período de transição.

Uma declaração política separada define as linhas da relação futura entre o Reino Unido e a UE depois do ‘Brexit’, nomeadamente a criação de uma zona de comércio livre.

Para ser aplicado, o acordo terá de ser aprovado no parlamento britânico em 11 de dezembro e, posteriormente, pelo Parlamento Europeu.

Porém, dezenas de deputados do Partido Conservador de Theresa May têm-se manifestado contra o documento e poderão ajudar a oposição, incluindo o partido Trabalhista, nacionalistas escoceses e Liberais Democratas, a chumbar o acordo.
“O tempo das negociações terminou"
Michel Barnier vincou hoje no Parlamento Europeu que o tempo das negociações do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e da declaração política da relação futura terminou e que este é o tempo da ratificação.

“O tempo das negociações sobre o acordo de saída e a declaração política terminou. É o tempo da ratificação, pelo parlamento britânico, pelo vosso parlamento, e pelo Conselho. Tendo em contas as circunstâncias difíceis desta negociação e a extrema complexidade da saída britânica [da UE], o acordo que está em cima da mesa é o único e o melhor possível”, enfatizou o principal negociador comunitário para o ‘Brexit’.

Na sua intervenção inicial no Parlamento Europeu (PE), num debate dedicado à saída do Reino Unido do bloco comunitário, Michel Barnier repetiu a ideia de que este é o único acordo possível, que foi propagada até à exaustão no domingo pelos chefes de Estado e de Governo dos 27 e pelos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Conselho Europeu, Donald Tusk, aquando da validação deste texto e da declaração política.

“Ainda resta a ratificação do nosso acordo de saída. É tempo de cada um assumir as suas responsabilidades. O parlamento britânico vota na próxima semana os dois documentos. Devemos respeitar o debate parlamentar e o tempo do debate parlamentar no Reino Unido”, defendeu, sem evitar deixar um ‘alerta’ aos parlamentares britânicos, que deverão ‘chumbar’ o acordo de saída na votação na Câmara dos Comuns em 11 de dezembro.

O negociador-chefe da UE para o ‘Brexit’ prossegiu com elogios ao papel desempenhado pelo PE durante as negociações, sublinhando que o acordo de saída e a declaração política “devem muito” a três resoluções votadas em plenário, que visaram a preservação dos direitos dos cidadãos, dos interesses e da autonomia de decisão da União, da integridade do mercado único e da indivisibilidade das quatro liberdades.

“Ultrapassámos esta primeira etapa juntos, e do lado europeu com uma profunda união dos 27 e das instituições entre elas. O acordo aprovado no domingo foi resultado de um método que decidimos juntamente com vocês. Houve uma progressão lógica, primeiro discutimos o acordo de saída e só depois vamos debater a relação futura”, lembrou.

“Desde o início, trabalhámos com transparência. Este método permitiu-nos explicar cada passo, demonstrar o que era possível e o que não era possível. Desde o início, demonstrámos como podíamos respeitar os nossos princípios sem pisar as linhas vermelhas do Reino Unido. O quadro proposto conferiu uma ordem, uma estabilidade às negociações. Ninguém poderá ficar objetivamente surpreso com o conteúdo do nosso acordo”, completou.

Enaltecendo que os dois documentos aprovados no domingo pelo Conselho Europeu permitem limitar as consequências negativas do ‘Brexit’, Barnier garantiu que a UE continuará a defender os seus interesses e a aplicar os seus princípios na negociação da relação futura com Londres.

“Nesta negociação que se vai abrir, teremos a mesma atitude. Nunca haverá agressividade, espírito de vingança ou punição. Continuaremos a trabalhar com o Reino Unido e não contra ele para delinear a parceria com esse grande país”, asseverou.
Para o político francês, a parceria do bloco comunitário com o Reino Unido será “sem precedentes pela extensão e o número de âmbitos de cooperação”, não podendo, todavia, manter-se o ‘status quo’.

“A decisão do Reino Unido deixar a UE e o mercado único não pode ser business as usual, e a nossa obrigação é dizer, nomeadamente às empresas, que devem preparar-se. Mas o nosso objetivo é desenvolver uma parceria ambiciosa”, reiterou.
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