Bruxelas quer dar "margem de manobra" aos países da UE para limitar alojamento local
A Comissão Europeia quer dar "margem de manobra" aos países da União Europeia (UE) e às autoridades locais para limitarem o alojamento local, que pressiona os preços habitacionais, numa lei que irá propor em 2026, foi hoje anunciado.
"No que diz respeito aos arrendamentos de curta duração, teremos de apresentar uma proposta formal que terá de ser negociada [...], mas é verdade que algumas cidades e regiões já estão a tomar medidas para evitar os problemas que podem surgir. E isso, claro, pensamos que é uma coisa boa, mas também sabemos que tem havido problemas com as regras do mercado interno e que tem havido processos judiciais e um dos objetivos da proposta que apresentamos agora é garantir que damos realmente margem de manobra aos Estados-Membros", afirmou o comissário europeu da Habitação, Dan Jørgensen.
Falando em conferência de imprensa à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, o responsável aludiu à proposta legislativa sobre arrendamentos de curta duração que o executivo comunitário vai apresentar no próximo ano, na qual definirá áreas com pressão imobiliária para limitar o alojamento local.
"O que faremos é estabelecer critérios para definir uma área como área habitacional sob pressão e, nessa área, será possível aplicar diferentes medidas. Isso dará às cidades, regiões e Estados-membros as ferramentas de que necessitam para regulamentar e controlar esta área", adiantou Dan Jørgensen.
Esta proposta surge no âmbito do primeiro plano ao nível da UE para promover habitação a preços acessíveis, hoje apresentado, que de acordo com o comissário europeu terá efeitos visíveis "muito em breve", especialmente se os Estados-membros "começarem já a planear mais habitação social".
O plano inclui uma estratégia para a construção habitacional (com foco nas casas devolutas e renovação e reconversão de edifícios), a simplificação das regras na construção (como das licenças) e a revisão das regras de auxílios estatais (tornando mais fácil para os Estados-membros investirem em habitação acessível e social).
Abrange também o reforço das verbas europeias (do orçamento da UE a longo prazo, da coesão, do programa InvestEU e do Banco Europeu de Investimento), o combate à especulação imobiliária (com maior transparência no setor) e uma nova lei sobre o alojamento local (com um quadro jurídico para as autoridades locais agirem).
Nos próximos 10 anos, a UE terá de construir cerca de 650 mil novas habitações por ano, o que implica um investimento público e privado de 150 mil milhões de euros anuais.
A União Europeia enfrenta uma crise de habitação, em países como Portugal, onde os preços das casas e das rendas têm aumentado significativamente, tornando difícil chegar à habitação acessível, especialmente para jovens e famílias de baixos rendimentos.
Num relatório também hoje divulgado, a Comissão Europeia estimou que os preços da habitação em Portugal estejam sobrevalorizados em 25%, a percentagem mais elevada na União Europeia.