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Cabo-verdianos apreensivos com novo aumento nos combustíveis na sexta-feira

por Lusa

O gasóleo e a gasolina sofrem esta semana um novo aumento em Cabo Verde, limitado a 5% após intervenção do Governo, suficiente para agravar a apreensão dos consumidores na hora de abastecer.

O taxista Genilson Semedo, 35 anos, diz-se afetado pela subida dos combustíveis nos postos de venda na capital cabo-verdiana, mas também pelas consequências da guerra na Ucrânia em toda a cadeia.

"O combustível está caro, imagina quando subir na sexta-feira. Isso dificulta-nos muito", afirmou Genilson Semedo, que a Lusa encontrou no posto de combustíveis em Chã de Areia, cidade da Praia, a abastecer a viatura antes do previsto aumento dos preços no dia 01 de abril.

Recordando que há um ano gastava "bem menos", o taxista diz-se preocupado com os aumentos constantes nos combustíveis nos últimos meses.

"Antes colocava 1.800 escudos [16 euros], agora estou a gastar 2.500 escudos [22,5 euros] por semana. Notei que nos últimos meses tudo está caro e o combustível precisa descer. Senão estaremos sem saída", lamentou.

Dificuldades partilhadas por Júlia Gomes, 42 anos, esteticista na capital e que enquanto abastece a viatura se queixa da "subida exagerada" dos preços dos combustíveis.

"Já pensei em parar de andar de carro por causa dessa subida, e certamente irá subir ainda mais. Mas o meu trabalho não permite, então tenho que arranjar maneira de ultrapassar", explicou.

Devido às consequências e restrições da pandemia de covid-19, passou a trabalhar nos domicílios dos clientes, mas diz que já não conseguia suportar o custo da deslocação face aos preços dos combustíveis e teve que aumentar o preço do seu serviço.

"Antes cobrava 1.300 a 1.500 escudos [11,5 a 13,5 euros], mas agora o preço mínimo que faço é de 1.800 escudos [16 euros], pois as despesas são muitas", afirmou Júlia.

À conversa com a Lusa num dos postos de combustíveis da Terra Branca, no centro da Praia, Manuel Brandão, 52 anos, reconhece a necessidade de subsidiar a aquisição de gás butano, para aquecimento ou para confecionar a alimentação.

"Penso que o Governo deveria subsidiar o gás, o combustível nem tanto, pois a gasolina nem todos colocam, porque nem todos têm carro. Mas o gás, todos dependem dele principalmente nos centros urbanos", frisou.

O Governo cabo-verdiano anunciou em 25 de março o congelamento dos preços do gás butano e combustíveis para eletricidade por três meses, com os restantes a subirem 5%, face à atualização de pelo menos 25% que se perspetivava.

"O Governo de Cabo Verde declara a suspensão temporária, durante três meses, de abril a junho, da aplicação de mecanismos de fixação de preços dos combustíveis" (...) Nesse sentido, a atualização dos preços máximos de venda ao público referente ao mês de abril, permanecem fixos, nos níveis atuais, vigentes no corrente mês de março, para alguns produtos, como butano e combustíveis para produção de eletricidade", anunciou o ministro da Energia, Alexandre Monteiro.

Em conferência de imprensa para anunciar as medidas de mitigação face aos aumentos internacionais provocados pela guerra na Ucrânia, o governante acrescentou que "o limite do ajustamento em alta para os demais preços de combustíveis regulados", atualizados todos os meses, passa a ser fixado em 5%, como teto máximo, a partir de 01 abril, numa medida que se aplicará, em concreto, ao gasóleo e à gasolina.

Destacando a "conjuntura turbulenta" que se vive, o ministro avançou que a manutenção de preços dos combustíveis em abril representa um "impacto global" estimado em 400 milhões de escudos (3,6 milhões de euros), o que "exige esforços avultados".

O preço médio dos combustíveis aumentou mais de 4% este mês em Cabo Verde, conforme valores máximos definidos -- como acontece todos os meses - pela agência reguladora do setor, e acumularam uma subida de quase 46% em todo o ano de 2021.

Já as tarifas da eletricidade, igualmente condicionadas pelos preços dos combustíveis -- Cabo Verde depende da produção de eletricidade em centrais a gasóleo -, aumentaram em média 30% em outubro passado.

De acordo com Alexandre Monteiro, segundo a "simulação" feita em meados de março, já com os efeitos da conjuntura internacional, "sem este mecanismo", haveria em Cabo Verde um aumento "superior a 25%" nos preços, tendo em conta o "patamar elevado" do custo dos produtos energéticos no país.

Em concreto, deu o exemplo do litro da gasolina, que custa hoje em Cabo Verde 159 escudos (1,44 euros), que neste cenário passaria para 183 escudos (1,65 euros) já em abril, mas que com a aplicação deste mecanismo, passará para 167 escudos (1,50 euros).

"Em relação ao gasóleo normal é mais grave ainda", reconheceu Alexandre Monteiro, dando conta que sem intervenção, passaria dos atuais 128 escudos (1,16 euros) para 162 escudos (1,46 euros).

"Ficará com o preço máximo de 134 escudos [1,21 euros]. Numa situação normal, poderia ter um incremento de 40 escudos [36 cêntimos de euro]", apontou.

"O Governo entendeu que é necessário criar condições para mitigar a repercussão dos efeitos nefastos desta conjuntura", sublinhou Alexandre Monteiro, garantindo que estas medidas aplicam-se em abril e que o "evoluir da conjuntura internacional" ditará as próximas a adotar pelo gabinete de crise criado pelo Governo.

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