Centenas de clientes espanhóis da Afinsa continuam concentração
Centenas de clientes das empresas filatélicas Afinsa e Fórum Filatélico, alvo de uma operação anti-fraude desencadeada esta semana e que resultou em nove detenções, continuaram hoje a concentrar-se em frente às sedes das duas empresas em Madrid.
Também noutras cidades espanholas, onde a maioria das filiais da Afinsa e Fórum Filatélico continuam por encerrar, centenas de investidores se agruparam junto às empresas.
As maiores concentrações verificam-se hoje em frente à sede do Fórum Filatélico, no centro de Madrid, onde surgiram cartazes com a frase "O Fórum é solvente, o Fórum não é caloteiro: isso é difamar".
Os cartazes denotam as divisões que se têm vindo a sentir nos últimos dias com investidores a participarem em debates em rádios nacionais e a contribuírem para várias páginas de comentários e blogs criados por vários órgãos de imprensa escrita na Internet.
A incerteza sobre o que acontecerá aos fundos investidos - que ascendem a milhares de milhões de euros - e sobre que tipo de apoio das autoridades será disponibilizado preocupa a maioria dos estimados 350 mil investidores.
Muitos dos investidores reunidos hoje de manhã em frente á sede do Fórum Filatélico, encerrada e ainda hoje vigiada pela polícia, criticaram a falta de informação que continua a ser dada.
Vários, quer no local, quer em contactos para rádios e jornais, criticam a forma como a operação foi conduzida, relembrando que antes das rusgas de terça-feira não tinha havido qualquer queixa de qualquer cliente.
"Invisto há 17 anos na Afinsa e sempre me pagaram os juros, sempre cumpriram todos os seus compromissos. Nunca tive qualquer problema com a empresa", disse Jaime, num debate sobre o caso promovido na Rádio Nacional de Espanha, hoje de manhã.
"Mas agora já não sei. Com as rusgas toda a gente vai querer retirar o dinheiro e com isso é que se cria o grande risco para os meus investimentos", afirmou.
Mercedes, de Barcelona, disse por seu lado num blog criado pelo El Pais para analisar a situação que o que mais a preocupa é "a falta de clareza e de informação sobre a situação", explicando que ela e muitos familiares investiram "volumes significativos de dinheiro" nas empresas, "as poupanças de uma vida".
Um outro ouvinte da RNE, que não se identificou, é igualmente crítico na avaliação da situação afirmando que as empresas podem ter sido "aniquiladas" com a operação policial e que "agora é que os investidores não recuperam os fundos".
"E depois quem se responsabilizará. O governo e a oposição que deixem de andar a atirar culpas uns para os outros e procurem mas é uma solução para os investidores", disse.
O impacto do caso, considerado um dos de maior dimensão da história recente de Espanha, alarga-se a praticamente todo o país, com casos de famílias inteiras que investiram todas as suas poupanças aliciadas pelos retornos que alguns deles vinham a acumular há alguns anos.
Na pequena localidade de Dosbarrios, nos arredores de Toledo, quase um terço da população de 2.500 habitantes tem dinheiro investido na Afinsa, tendo o presidente da autarquia, Juan Bautista Martínez e o responsável da empresa na zona, Raul Rodríguez, procurado já pedir "tranquilidade" aos investidores.
Sem dados sobre o processo de investigação e acusação, a imprensa vai multiplicando dados conhecidos sobre as duas empresas e sobre a operação iniciada por queixas da Fazenda Pública.
Organizações de consumidores que "investiram" recentemente como forma de testar as empresas, explicam que não conseguiram vender no mercado, aos preços estabelecidos pelas duas empresas, os selos que adquiriram.
A Procuradoria Anti-corrupção espanhola acusou hoje a empresa Afinsa e a cinco dos seus quadros dirigentes de burla, falsificação documental, vários delitos contra a Fazenda Pública, insolvência punível e administração desleal.
No sumário de acusação, a procuradoria considera que a Afinsa está hoje numa situação de "absoluta insolvência", dando conta na queixa do que classifica como operação fraudulenta levada a cabo pela empresa, e que incluía a sobrevalorização e a falsificação de selos.
Espera-se que o juíz torne público também hoje o sumário da acusação que pende sobre o Fórum Filatélico, a segunda empresa envolvida.
A mega-operação contra as duas empresas desencadeada na terça-feira envolveu mais de 300 agentes policiais que efectuaram rusgas a escritórios da Afinsa e do Fórum Filatélico bem como a residências de vários quadros directivos.
Os nove detidos, entre eles o empresário luso-espanhol Albertino de Figueiredo, presidente honorário do grupo Afinsa e o seu filho Carlos de Figueiredo Escriba, só deverão ser ouvidos pelo juiz de instrução na manhã de sexta-feira.
Fonte policial confirmou à Lusa que a policia quer esgotar o prazo de 72 horas máximas para que os detidos sejam apresentados a tribunal.