Comboio ligeiro entre Torres Vedras e Lisboa pode ser compensação para Oeste

Lisboa, 11 Fev (Lusa) - A criação de uma linha de comboio ligeiro entre Torres Vedras e Lisboa poderá ser uma das contrapartidas a oferecer à região Oeste pelo abandono da opção Ota para localização do novo aeroporto de Lisboa.

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Fonte governamental disse à agência Lusa que essa "é uma possibilidade actualmente em estudo", já que a região de Torres Vedras é, dos concelhos limítrofes da capital, o mais deficitário em transportes de acesso a Lisboa.

"É de facto, a zona pior servida de transportes de acesso a Lisboa, pelo que estão a ser estudadas algumas possibilidades, entre elas, uma ligação ferroviária, em tram-train [comboio ligeiro]", afirmou a fonte.

Um estudo do Instituto Superior Técnico (IST), elaborado em 2004, planeou uma linha ferroviária, em bitola europeia, com paragens em Torres Vedras, Malveira, Loures, Aeroporto da Portela e Chelas, num percurso de 47 quilómetros e com um custo de 248 milhões de euros.

Jorge Paulino Pereira, professor do IST que coordenou o estudo, afirma existir uma procura "diária de cerca de 150 mil pessoas no sentido Torres/Lisboa e 148 mil no sentido inverso", garantindo a rentabilidade do projecto.

Destes, 98 por cento deslocam-se em autocarro ou carro próprio no eixo Torres Vedras/Loures/Odivelas, enquanto os restantes 2 por cento utilizam o comboio do Oeste (Figueira da Foz/Caldas/Cacém), uma linha obsoleta de via única.

Por isso, a partir de Torres Vedras, a Linha do Oeste tem vindo a perder competitividade relativamente à auto-estrada.

Os autarcas da região têm insistido na necessidade de modernização da linha férrea do Oeste e, recentemente, "voltaram à carga" nas negociações de compensação da região pela desistência da localização na Ota do novo aeroporto.

"A proposta está em cima da mesa", disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Torres Vedras, Carlos Miguel, que afasta a possibilidade de "uma linha de circulação de massas" para a região.

"A nossa ideia de modernização da Linha do Oeste passa por ter uma linha qualificada que sirva o transporte de mercadorias e de pessoas", afirmou Carlos Miguel.

O autarca socialista disse que o objectivo "não é ter uma linha suburbana, como a Linha de Sintra, mas uma ferrovia que tenha em conta o desenvolvimento do turismo nesta região", considerada um pólo turístico pelo Governo.

No entanto, especialistas como Paulino Pereira, defendem que a linha ferroviária proposta é "fundamental para o desenvolvimento sustentado da capital" e, por isso, "já devia estar feita".

Segundo o especialista em Transportes Rodo-Ferroviários e Aéreos, a empresa pública que gere a linha ferroviária, a Refer, "tem feito estudos sobre as alternativas ferroviárias à linha do Oeste, mas são sempre inconclusivos".

A linha de comboio ligeiro, com bitola [distância entre carris] europeia, tal como o metropolitano, permitira uma ligação à linha vermelha, entre a Gare do Oriente e Alameda, através da estação da Bela Vista (Chelas) e à linha amarela, através de Odivelas, e merece o apoio de diversos especialistas em transportes e mobilidade urbana.

O coordenador do estudo defende, aliás, uma completa revisão do sistema ferroviário suburbano de Lisboa, com a passagem para a bitola europeia, de forma a permitir a complementaridade dos diversos meios de transporte em carris.

O estudo prevê que a estação terminal da nova linha fique em Chelas, permitindo uma ligação entre Lisboa e Torres Vedras inferior a uma hora de percurso.

Para o professor de Transportes e Ordenamento do Território no ISEL, Ruy Cravo, a colocação da estação em Chelas permitiria "um grande `interface` com três níveis diferentes e sobrepostos: um para o ferroviário, outro para o Metro e um terceiro para os autocarros interurbanos e urbanos, além de um grande parque para automóveis".

A localização é "ideal" também do ponto de vista da disponibilidade dos terrenos, sustentam os especialistas, indicando que na zona do Alto do Beato/Chelas existe um espaço de seis hectares, com capacidade para acomodar estaleiros e onde afluem todas as linhas de comboio.

Esta zona reúne também condições para se fazerem pilares de uma ponte ou escavar um túnel, por onde saiam os corredores Beato/Montijo ou Chelas/Barreiro, as duas possibilidades para a terceira travessia do Tejo actualmente em estudo.

Além das questões de "equidade" nos acessos a Lisboa, a linha de comboio ligeiro ou metro de superfície de Torres Vedras é igualmente importante para "gerar massa crítica para o TGV", considera ainda Ruy Cravo.

Este especialista vai mais longe e defende mesmo um prolongamento desta linha até ao novo aeroporto de Alcochete, com paragem na Portela, de forma a ligar os dois pontos durante o tempo de coexistência dos dois aeroportos.

Mário Lopes, professor de Estruturas no Instituto Superior Técnico e que promoveu um abaixo-assinado de docentes da instituição contra o aeroporto na Ota, considera que esta linha é uma "exigência" que os autarcas do Oeste deviam apresentar.

"Com comboios à velocidade entre os 160 a 180 quilómetros por hora, esta linha pode, mais tarde ser prolongada às Caldas da Rainha, reduzindo das actuais duas horas para uma hora, o tempo de ligação da cidade à capital.

O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, estabeleceu a 23 de Janeiro um prazo até Março para a elaboração de um plano de investimentos a realizar na zona Oeste, como forma de compensação por o aeroporto de Lisboa se vir a localizar no Campo de Tiro de Alcochete.

A elaboração do plano está a decorrer com reuniões entre os autarcas e representantes de várias áreas do Governo incluindo um grupo de trabalho para as "Acessibilidades e Mobilidade".

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