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Covid-19. Desemprego na China atinge números históricos

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Aly Song - Reuters

Os números oficiais do desemprego na segunda maior economia do mundo dão conta de 27 milhões de desempregados, uma taxa recorde de 6,2 por cento. No entanto, estes números poderão esconder uma realidade ainda mais sombria, que poderá admitir cerca de 80 milhões de desempregados na China.

A pandemia da Covid-19 paralisou economias de todo o mundo e o desemprego atinge números em grande escala nos diversos países. A economia chinesa, a segunda maior do mundo, não é exceção e vê agora o desemprego a atingir números sem precedentes.

Durante quase dois meses, milhões de pessoas estiveram de quarentena praticamente em todo o país, a atividade económica foi reduzida ao mínimo e as fronteiras nacionais e internacionais estiveram encerradas. A escala total de desemprego na China é difícil de se conjeturar, mas as consequências desta pandemia começam agora a refletir-se à medida que o país regressa à normalidade.

A taxa de desemprego oficial, que apenas contabiliza o número de desempregados nas áreas urbanas, nos últimos anos nunca ultrapassou os cinco por cento. Em fevereiro deste ano foi registado um recorde de 6,2 por cento e em março, a taxa de desemprego desceu apenas para 5,9 por cento.

Esta taxa representa um total de 27 milhões de desempregados na China, de acordo com os cálculos da CNN Business com base nos números oficiais. No entanto, o número pode ser muito superior caso sejam consideradas todas as pessoas que ficam excluídas do desemprego oficial.

Se para estes cálculos for incluída a população das comunidades rurais e os cerca de 290 milhões de trabalhadores migrantes, no mês de março, a verdadeira taxa de desemprego na segunda maior economia do mundo poderá disparar para 80 milhões.
Desemprego “sem precedentes”
“O desemprego na China pode ser seriamente subestimado”
, disse Willy Lam, professor adjunto do Centro de Estudos da China da Universidade Chinesa de Hong Kong. “É pouco provável que eles estejam dispostos a reportar estes dados desencorajadores. Dado que o governo frequentemente manipula os números, a situação real deve ser pior”, conclui Lam, citado pela CNN Business.

Especialistas consideram, por isso, que a estimativa de 80 milhões de desempregados deverá estar mais ajustada à realidade e estes são números nunca antes vistos na China.

“O impacto da Covid-19 no mercado de trabalho é sem precedentes na sua escala, extensão e natureza”, sublinhou uma pesquisa publicada na semana passada. Desde a década de 1970, a China sofreu a pior contração económica no primeiro trimestre deste ano. A economia chinesa contraiu 6,8 por cento em termos homólogos e a queda acentuada no consumo e atividade fabril sugerem que a recuperação será mais longa e difícil do que se previa.

No mês de abril, um porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas da China reconheceu que o mercado de trabalho estava sob muita pressão, mas não revelou números e garantiu que o emprego geral no país “está estável”.

“Embora o coronavírus tenha tido um impacto severo [no emprego], não há demissões em massa no país”, disse Mao Shengyong.
Futuro ainda mais negro
Os especialistas alertam que nos próximos meses a taxa de desemprego poderá ser ainda mais elevada, tendo em conta o número de licenciados que entrarão no mercado de trabalho. São esperados 8,7 milhões de licenciados este ano e o número de vagas para empregos caiu 28 por cento no primeiro trimestre deste ano em comparação com os últimos três meses de 2019. Estima-se, por isso, que mais nove milhões de pessoas estarão a competir por empregos na China nos próximos meses.

Mesmo antes da pandemia, estudantes universitários revelam que as ofertas de emprego eram reduzidas. Wang, técnico informático de 26 anos, revelou à CNN que no ano passado “já parecia estar a viver num inferno, mas 2020 é ainda pior”.

Já havia sinais no ano passado de desemprego em massa, mas este ano está a ser pior”, disse o jovem desempregado. “Não sei quando as coisas vão melhorar, vou esperar”, lamentou.

Pequim reconheceu a vaga na procura de empregos que se avizinha e divulgou na semana passada um plano de ajuda aos recém formados na procura de emprego. O projeto inclui também uma proposta para ampliar a inscrição em programas de pós-graduação.
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