Covid-19. Estados devem apoiar produção de alimentos nutritivos, indica relatório

por Lusa

Os Estados devem apoiar a produção de alimentos mais nutritivos, defende um relatório da ONU, que revela que o impacto da covid-19 em 2020 levou a que quase 3,1 mil milhões de pessoas não conseguissem sustentar dietas saudáveis.

Este número representa um aumento de 112 milhões de pessoas que não têm possibilidade de comer de forma saudável relativamente a 2019, adianta o relatório "2022 - Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo", produzido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM) e Organização Mundial de Saúde (OMS).

Estas organizações apontam o dedo aos subsídios que os Estados têm dado à alimentação e agricultura, que somaram, em média, cerca de 600 mil milhões de euros por ano entre 2013 e 2018.

"As políticas de apoio já não estão a conseguir reduzir a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição. Este é o momento para os governos começarem a examinar os seus atuais apoios à alimentação e agricultura", sublinham as agências da ONU.

A maior parte dos apoios à alimentação e agricultura foi dirigida a agricultores de forma individual, através de políticas comerciais e subsídios à produção, avisam as organizações no documento hoje apresentado, alertando que "estes apoios não só distorcem o mercado, como não alcançam muitos agricultores, além de prejudicarem o ambiente e não promoverem a produção de alimentos nutritivos".

Isto deve-se ao facto de os apoios à produção agrícola se concentrarem, em grande parte, em alimentos básicos, laticínios e outros alimentos ricos em proteínas de origem animal, especialmente nos países mais ricos.

"Arroz, açúcar e carnes de vários tipos são os alimentos cuja produção é mais incentivada em todo o mundo, enquanto as frutas e os vegetais são menos apoiados ou mesmo penalizados em alguns dos países mais pobres", sublinha o relatório.

As intervenções [dos Estados] no mercado podem tornar-se obstáculos à produção de alimentos nutritivos, minando a disponibilidade e acessibilidade de dietas saudáveis", alertam as agências da ONU, adiantando que, em muitos países, os subsídios aumentaram a disponibilidade e reduziram o preço dos alimentos básicos e seus derivados, tornando relativamente mais caro o consumo de produtos não subsidiados, como frutas, legumes e leguminosas.

As organizações que estudaram este fenómeno defendem, por isso, a necessidade de redirecionar os apoios públicos para tornar financeiramente suportável ter uma dieta saudável.

"Os governos têm de aumentar e dar prioridade a gastos com a prestação de serviços em vez de agricultura. Isso é crucial para preencher as lacunas de produção de alimentos nutritivos e possibilitar maiores receitas com as dietas saudáveis", concluem.

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