Covid-19. Estados Unidos lançam "maior" pacote de estímulos de sempre

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Mary Calvert - Reuters

"Senhoras e senhores, está feito. Temos um acordo", foi a fórmula usada por Eric Ueland, membro da equipa do Presidente Trump para anunciar que estavam ultrapassadas as divergências entre republicanos e democratas para a assinatura daquele que será o maior plano económico jamais lançado por uma Administração norte-americana, dois biliões de dólares. Um pacote de ajuda financeira que deverá injectar a maior economia do planeta e lutar contra as adversidades colocadas pela pandemia de Covid-19.

O anúncio encerra negociações árduas que decorriam desde a última sexta-feira, com sucessivos falhanços num acordo para salvar a economia norte-americana dos constrangimentos que estão a ser colocados com a propagação do novo coronavírus. Um pacote de dois biliões de dólares acaba de receber luz verde dos líderes da Casa Branca e do Senado para fornecer à economia a injeção de vitaminas de que necessita neste momento crítico.2000000000000000 de dólares. Os 2 triliões de dólares correspondem no Português a 2 biliões de dólares. A “tradução” destes números prende-se com a existência de duas escalas: a longa (usada em Portugal) e a curta (usada nos países anglo-saxónicos). Assim, um trilião em pequena escala não é o mesmo que um trilião em larga escala, aquele que usamos por cá.

“Após dias de intensas discussões, o Senado tem um acordo entre os dois partidos [Democrático e Republicano] para um plano histórico. Aprovaremos este texto ainda hoje”, declarou o líder republicano, o senador Mitch McConnell.

Na mesma linha, o líder dos democratas Chuck Schumer aclamava esta manhã o acordo, para apelidar o plano de “maior pacote de resgate da história americana”. Advertia no entanto que este “não é um momento de celebração, mas antes um momento de necessidade”.

O acordo representa uma vitória do esforço de republicanos e democratas depois de nos últimos dias terem sido rejeitadas várias propostas. Ainda na segunda-feira, os democratas bloquearam no Senado uma injeção de um bilião de dólares na economia entre acusações aos republicanos de estarem a tentar empurrar os benefícios mais substanciais para as grandes empresas, deixando para trás hospitais, pessoal médico e a esfera estadual.Votação ao final do dia. O plano de 2 biliões de dólares terá ainda de ser aprovado pela Câmara dos Representantes, o que deverá acontecer ao final do dia. Só depois será promulgado pelo presidente Trump.

As negociações abortaram uma a uma apesar de o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, ter propalado a ideia de um estímulo a cada família norte-americana de três mil dólares.

A líder democrata e presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, apontava já então outro caminho para auxiliar a economia a enfrentar o período pandémico. As divergências entre os dois partidos eram evidentes, com os democratas a rejeitarem em particular a liberdade de decisão concedida à Administração Trump para definir as fatias do financiamento.

Um nó górdio da questão era precisamente a definição dos mecanismos de supervisão da ajuda financeira, agora atribuída ao Congresso. O plano negociado esta madrugada deverá assim receber luz verde na Casa dos Representantes e, sem anúncios de detalhe, é garantido que se destina a garantir o financiamento de empresas em dificuldades e assegurar dinheiro às famílias, também para evitar que o consumo se dirija rapidamente ao abismo. Mas, por uma vez, não foi esquecido o sistema de saúde, que deverá sair reforçado com este financiamento.
“Plano é um instrumento de guerra”

A gravidade da situação, inicialmente, menosprezada por vários membros da Administração e, em particular, pelo presidente Donald trump parece ser agora foco central de todas as decisões do Governo Federal. O líder do Partido Republicano no poder, Mitch McConnel, vai ao ponto de se referir ao plano como um instrumento de guerra, e a guerra é a luta contra a pandemia do novo coronavírus.

Os detalhes estão ainda por revelar, mas discussões prévias permitem desde já perceber alguns pormenores esboçados no plano: 250 mil milhões de dólares (billions) destinam-se a pagamentos diretos às pessoas e às famílias, 350 MM são para empréstimos dirigidos aos pequenos negócios, 250 MM para assegurar verbas para os desempregados e 500 MM para empréstimos as grandes empresas.

Há entretanto pormenores dos moldes que vai assumir esta injeção de liquidez que têm transpirado dos meandros da negociação. De acordo com a CNN, pessoas que tenham um rendimento anual de até 75 mil dólares brutos receberão um financiamento direto de 1200 dólares cada, os casais que ganham até 150 mil dólares recebem2400 dólares e um adicional por cada filho. Estes pagamentos diretos vão baixando à medida que o rendimento anual dos beneficiários aumenta; o plano para estas ajudas na fasquia dos 99 mil dólares anuais de vencimento bruto para indivíduos ou 198 mil para casais sem filhos.

De fora de qualquer possibilidade de aceder ao programa ficam o president Donald Trump e a sua família, bem como membros de topo da Administração e do Congresso.
“Estabilizar os mercados” é a prioridade

Num momento em que os Estados Unidos arriscam tornar-se no ponto mais quente da pandemia de Covid-19, muita da atenção da Administração Trump está centrada nos constrangimentos que o novo coronavírus está já a colocar àquela que é a maior economia do planeta.

“Temos de voltar ao trabalho mais cedo do que as pessoas pensam”, afirmava Trump esta terça-feira quase como uma admoestação às regras de confinamento que foram definidas para combater o alastrar do novo coronavírus. O presidente, igual a si próprio, antevê que a recessão económica venha a fazer mais mortos do que a pandemia de covid-19 ela própria.

Fazendo eco das declarações de Donald Trump, o diretor do Conselho Económico do presidente, Larry Kudlow, considerou que “esta legislação é urgentemente necessária para reforçar a economia, fornecer injeções de dinheiro e liquidez e estabilizar os mercados financeiros para nos ajudar a atravessar o período difícil e desafiante na economia que enfrentamos neste momento”.

De qualquer forma, talvez numa iniciativa sem igual em terras americanas, o pacote de ajuda deverá contemplar uma verba de 130 biliões de dólares para os hospitais “mais atingidos” pela pandemia. Outros 150 biliões serão atribuídos aos governos estatais e locais que na luta contra a covid-19 estejam agora a ver-se com dificuldades de caixa para prosseguirem essa batalha.

Este pacote junta-se às iniciativas em curso da Reserva Federal (Fed), que decidiu entretanto colocar as taxas de juro a zero e colocou na agenda a compra de dívida até onde a situação o exigir. Tudo em nome da liquidez na economia.
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