Covid-19. G20 promete "injeção de 5 biliões de dólares" na economia mundial

por Graça Andrade Ramos - RTP
O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, participa da cimeira virtual extraordinária entre os líderes do G20, sobre formas de minimizar o impacto da pandemia de covid-19, dia 26 de março de 2020 Reuters

Depois da reunião virtual, segunda-feira, dos ministros das Finanças e dos presidentes dos bancos centrais dos países do G20, esta quinta-feira foi a vez dos líderes do grupo aceitarem o desafio do Rei Salman da Arábia Saudita para se reunirem numa cimeira extraordinária, por vídeo-conferência.

A resposta unânime foi de preocupação com os riscos que ameaçam todos os países e o anúncio da intenção de injetar "mais de cinco biliões de dólares" na economia mundial para "contrariar as consequências sociais, económicas e financeiras da pandemia" de covid-19.

"Estamos firmemente decididos a apresentar uma frente unida contra essa ameaça comum", referiram os representantes das grandes potências mundiais num comunicado divulgado após a reunião extraordinária.

Salman iniciara os trabalhos com um apelo a uma "resposta eficaz e coordenada". "Devemos restabelecer a confiança na economia mundial", acrescentou o monarca. "

"Apesar da importância das respostas individuais de cada país, é nosso dever reforçar a cooperação e a coordenação em todos os aspetos das políticas económicas adotadas", insistiu.

"Por outro lado, temos a responsabilidade de estender a mão aos países em desenvolvimento e aos menos avançados permitindo-lhes reforçar a sua capacidade e melhorar as suas infraestruturas para que ultrapassem esta crise e as suas repercussões", considerou igualmente o monarca saudita.

O Presidente russo, Vladmir Putin, deixou críticas à atuação dos seus pares, tendo sublinhado que, um esforço conjunto de todos os países do G20 teria acelerado a investigação por uma vacina contra o sars-CoV-2, que provoca a covid-19.
Apelo a plano de ação comum
No comunicado, os líderes do G20 afirmaram-se "extremamente preocupados com os graves riscos que ameaçam todos os países, sobretudo os países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos, particularmente em África e nos pequenos estados ilhéus".

Refugiados e pessoas deslocadas enfrentam um "risco particular" na atual crise, lembraram os lideres do grupo.
O G20 inclui Estados Unidos, Rússia, China, França, Alemanha, Reino Unido, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Coreia do Sul, África do Sul, Turquia, Arábia Saudita e União Europeia.
Na declaração, os dirigentes assumiram ainda o compromisso de agir juntos contra os efeitos da pandemia, a qual descreveram como a "prioridade absoluta", particularmente na resolução das perturbações das cadeias globais de abastecimento.

Pediram ainda aos seus ministros das Finanças e responsáveis dos bancos nacionais para se coordenarem entre si e com as organizações internacionais no desenvolvimento de um plano de ação em resposta à pandemia, "para aplicar um conjunto de medidas financeiras sólidas, coerentes, coordenadas e rápidas".

Os membros do G20 apelaram também a instituições como a Organização Mundial de Saúde e o Fundo Monetário Internacional para "ajudarem os países emergentes e em desenvolvimento a enfrentarem os impactos sanitários, económicos e sociais da covid-19".

Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, deixou um apelo ao apoio aos países mais pobres. 
FMI apela G20 a duplicar os seus fundos de emergência
A diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, deixou por sua vez na rede Twitter um comunicado e um apelo dirigido aos líderes das 20 maiores economias do planeta.

Georgieva sublinhou que a profundidade da contração económica e a velocidade de recuperação, dependem da contenção da pandemia e "da robustez e coordenação das nossas políticas monetárias e fiscais".


A responsável pelo Fundo Monetário Internacional propôs uma série de medidas, incluindo a duplicação do montante dos seus fundos de emergência.

"Temos de agir em conformidade com a magnitude do desafio", escreveu Georgieva.

"Para tal, pedimos-vos: dupliquem a nossa capacidade de financiamento de emergência; reforcem a liquidez global através de Direitos Especiais de Saque significativos, como fizemos com sucesso durante a crise global de 2009, e ampliem a utilização de swaps cambiais; apoiem os credores bilaterais oficiais, para aliviar o peso sobre os nossos membros mais pobres enquanto durar o abrandamento global", sugeriu.
"Iremos ultrapassar esta crise juntos. Juntos iremos lançar as bases para uma recuperação mais rápida e mais forte", prometeu a líder do FMI.

Há três dias, Georgieva reconheceu que os custos humanos da pandemia são já "incomensuráveis" e previu para 2020 uma recessão global mais grave do que a ocorrida em 2008.

Kristalina Georgieva defendeu a enorme importância de apoiar os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento, que sofreram particularmente com a crise, as paragens repentinas, as fugas de capital e, para algumas, a queda brutal dos preços de mercadorias.
Perdão de dívidas
Na quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM) defenderam, com efeito imediato, um perdão da dívida oficial bilateral dos países mais pobres, entre os quais estão Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Já esta quinta-feira, a agência de rating Moody's, considerou que o apelo conjunto mostrou a urgência de garantir verbas contra a pandemia de covid-19.

"O comunicado da Comissão Económica para África das Nações Unidas e o subsequente apelo do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial enfatiza a urgência de explorar opções para criar a muito necessária flexibilidade orçamental para os governos africanos e reduzir as pressões imediatas de financiamento", referiu uma nota sobre o impacto do novo coronavírus nos países africanos.
Impacto irrecuperável
A recuperação em 2021 é possível, frisou Kristalina Georgieva dia 23 de março, mas para a conseguir deve ser dada prioridade à contenção do vírus e ao fortalecimento dos sistemas de saúde "em todos os lugares".Quase 80 países contactaram já o FMI para pedir ajuda na resposta à pandemia.

A instituição garante estar pronta a usar a sua capacidade de empréstimo orçada em um bilião de dólares, para auxiliar as economias mais frágeis.

A cimeira do G20 decorreu um dia após a aprovação pelo Senado dos Estados Unidos de um plano de apoio à economia norte-americana, orçado em dois biliões de dólares (1,8 biliões de euros), e da adoção pela Alemanha de um vasto conjunto de medidas de 750 mil milhões de euros.

Um outro apelo de reação rápida foi dirigido ao G20 por parte da Associação dos Transportes Aéreos Internacionais, numa carta aberta.

Nela, a Associação sublinhou que "a propagação da pandemia de covid-19 ao redor do mundo e as ordens governamentais de encerramento de fronteiras e restrição das deslocações levaram à destruição da procura por viagens aéreas" e alertou que o impacto na industria aérea pode ser irrecuperável.

C/Agências
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