Crise e concorrência estão a liquidar pequenos centros comerciais em Leiria

Leiria, 31 ago (Lusa) - Donos de lojas e clientes concordam no diagnóstico: aquele que foi o primeiro centro comercial a deslumbrar Leiria com o "exotismo" das escadas rolantes está a "morrer" como todos os outros, à mão da crise e da concorrência.

Lusa /

"Já lá vai o tempo em que quando era miúdo era perseguido, eu e os outros, pelo segurança, que nos `enxotava` porque nós andávamos para cima e para baixo nas escadas rolantes", lembra Luís Oliveira, que esteve na estreia do centro comercial D. Dinis na década de oitenta do século XX e ainda se recorda de um espaço "que estava sempre `à pinha`".

Entre o "vende-se" e "aluga-se", as Galerias Alcrima, o Edifício 2000, os centros comerciais D. Dinis, Maringá, e Lis, entre o abandono e o "volto já" que nunca mais aconteceu, parecem não sobrar dúvidas ao presidente da associação de comerciantes local sobre o destino que lhes está traçado: "Não têm hipóteses de recuperação e mais de 50% do comércio vai ainda fechar".

Afinal de contas, pergunta o responsável da ACILIS, Álvaro Albino, "com as dificuldades que se vive no país e com a abertura do LeiriaShopping, onde há de tudo, estacionamento e horários mais alargados, qual é a tendência, se não fecharem portas ou ficarem dependentes de um movimento cada vez mais reduzido?".

No D. Dinis, Elsa Faria, de 68 anos, que vende roupa, calçado, malas e bijuteria, acredita que se fosse gratuito o estacionamento ao fim de semana o centro comercial que disponibiliza mais de centena e meia de lugares para as viaturas teria mais gente a percorrer os corredores, aos quais hoje falta luz e movimento.

Dos cinco pisos onde outrora funcionavam mais de 80 lojas, só praticamente o da entrada principal apresenta sinais de vida. "Se sair a pizzaria que está à entrada, então é que isto desaparece tudo", afiança a lojista.

Antiga dona de um café que agora também é um restaurante solitário no piso inferior, Graciete Bento sublinha o que diz ser o óbvio, ou seja, que "não há dinheiro" e, por isso, os estudantes das escolas próximas que no tempo de aulas ainda procuram o D. Dinis serão insuficientes para salvar aquele espaço que vê, "com pena, sujo e escuro".

No Maringá, o grande concorrente do D. Dinis que abriu no outro lado da cidade, "ainda se vai aguentando porque tem ali o mercado, os CTT, as finanças", admite o representante dos comerciantes, Álvaro Albino.

"Está quase a dar o berro", lamenta uma proprietária de uma loja na qual se vendem malas e acessórios, garantindo que não é o LeiriaShopping, desde 2010, com os seus quase 2.000 lugares de estacionamento gratuito, zonas de restauração, cinemas, os `franchising` e os horários sem concorrência que estão a `roubar` clientes e lojas ao centro comercial.

"É o poder de compra. Estou aqui há 20 anos e isto começou há uns oito", salienta, referindo-se à falta de movimento e encerramento ou êxodo das lojas.

À entrada do Edifício 2000, a cliente de um dos cafés que ainda resistem resume, de um fôlego, o trajeto e o destino traçado para estes espaços que já foram da moda em Leiria.

"Abriu tudo depressa e com a `febre`, tudo mal planeado, e agora, por causa da crise, ninguém compra nada e estão velhos e desatualizados. Mesmo que seja possível adaptarem-se à concorrência, quem é que vai investir nestes centros comerciais nestes tempos?", questiona Luísa Albuquerque.

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