Críticas repetidas de Trump à Reserva Federal não afetam o banco central, diz Jerome Powell
As críticas repetidas de Donald Trump à Reserva Federal (Fed) "não afetam de maneira nenhuma" o trabalho desta, disse hoje o presidente do banco central dos EUA, Jerome Powell, no final da reunião de política monetária da instituição.
Trump ataca Powell de forma insistente por não baixar a taxa de juro de referência, como quer.
"Isso não afeta o nosso trabalho de maneira alguma. (...) Só consideramos a informação económica, as perspetivas, o balanço dos riscos e só isto. Portanto, tudo isso não afeta verdadeiramente nem o nosso trabalho, nem a maneira como o fazemos", assegurou Powell.
AS declarações do presidente da Fed foram feitas na conferência de imprensa subsequente ao fim da reunião de dois dias do comité de política monetária do banco central (FOMC, na sigla em Inglês), que decidiu manter a taxa de juro de referência.
A justificar a decisão, a Fed declarou-se incapaz de prever a evolução da economia dos EUA, confrontada com as taxas alfandegárias sobre as importações decididas por Trump.
"Há tantas incertezas" em torno das eventuais consequências destas taxas que a Fed decidiu manter a taxa de juro, declarou Powell.
"Se a subida das taxas alfandegárias que foram anunciadas se mantiverem, isso arrisca traduzir-se por um aumento da inflação, um arrefecimento do crescimento económico e uma subida do desemprego", especificou.
Para a Fed, disse, este seria um "cenário difícil", com aumentos simultâneos de desemprego e preços.
Para jugular a inflação, um banco central aumenta geralmente as suas taxas de referência, que orientam o custo do crédito para as empresas e os particulares.
No caso da destruição de emprego, o banco central é suposto que baixe aquelas taxas para estimular a atividade económica.
A manutenção da taxa de juro de referência, hoje decidida, no intervalo entre 4,25% e 4,50%, onde está desde dezembro, era muito antecipada pelos investidores e analistas.
Depois da última reunião do FOMC, em março, Trump desencadeou um sismo económico.
Em 02 de abril, dia que ele próprio designou como "Dia da Libertação", Trump erigiu um muro de novas taxas sobre as importações dos EUA.
Depois, recuou e prometeu "acordos" com os principais parceiros dos EUA. Ainda nenhum foi anunciado.
As taxas alfandegárias são agora muito mais elevadas do que antes de regressar à Casa Branca e as trocas com a China estão quase paradas.
Entretanto, foi anunciada uma reunião entre representantes da China e dos EUA, este fim de semana na Suíça.
A conclusão de acordos comerciais poderá "alterar a situação de forma significativa ou nao", disse Powell.
A Fed concluiu a sua reunião de dois dias com a principal conclusão de permanecer colada à informação económica e evitar qualquer decisão apressada.
Os barómetros económicos regulares mostram um nervosismo crescente, tal como as comunicações provenientes das empresas.
Além deste contexto ultra instável, o banco central - e em particular o seu presidente - são alvo de críticas repetidas de Trump, que quer ver as taxas baixar, para procurar amortecer o impacto das taxas alfandegárias que decidiu, designadamente o aumento da inflação.
Mas Powell tem permanecido insensível a estas críticas, privilegiando a informação económica para decidir.