Cultura do tabaco continua a resistir nos campos do interior

por Sandra Salvado, RTP
Sérgio Castanheira

A cultura do tabaco chegou a gerar uma receita de mais de quinze milhões de euros, só no distrito de Castelo Branco, e dava emprego a 1500 pessoas. Sem apoios à produção e culturas alternativas rentáveis, os agricultores desesperam mas ainda há quem continue a resistir.

É o caso de Sérgio Castanheira, um dos últimos produtores de tabaco do país. Apesar de ainda não ter vendido as 30 toneladas do ano passado, este ano espera chegar às 90 toneladas, mesmo sem saber qual vai ser o seu destino.

A ajuda direta à produção de tabaco terminou em 2009. Sem este apoio, proveniente exclusivamente de fundos comunitários, a colheita da planta torna-se incomportável face aos elevados custos.

Ainda assim, a folha de tabaco continua a resistir por terras da Capinha, no Fundão, mas os anos dourados terminaram. Sérgio Castanheira foi, nos últimos anos, um dos poucos produtores de tabaco, em Portugal.

Depois das dificuldades que encontrou na comercialização junto das empresas tabaqueiras apostou na venda direta de folhas de tabaco natural.
Alteração da Lei dita fim de novo projeto agrícola
“Continuo a resistir porque estou vocacionado, equipado e preparado para fazer tabaco. Foi aquilo que sempre fiz ao longo de 30 anos. Gosto do que faço e estou a ver se consigo fazer tabaco para vendê-lo fora de Portugal, uma vez que a última alteração da Lei dos impostos especiais de consumo me impediu de continuar o projeto que tinha desenvolvido”, adianta este produtor de tabaco.

Era um projeto agrícola diferente que teve bastante sucesso, quer no mercado nacional quer no internacional. "Infelizmente o projeto teve que terminar na Internet porque o site tinha origem em Portugal e era sujeito aos impostos de consumo. Podemos encarar agora a possibilidade de fazer isto noutro país qualquer da comunidade onde a folha de tabaco não esteja sujeita a estes impostos. O futuro dirá”.



Noutros tempos, esta cultura deu emprego a mais de 1500 pessoas, só no distrito de Castelo Branco. Aqui nesta exploração agrícola da Capinha trabalham agora 18 pessoas.

“Houve a possibilidade de ainda este ano se reativar um pouco a produção de tabaco na região mas a Lei foi alterada e assim é inviável vender tabaco a alguém que terá que pagar mais pela folha do que pelo cigarro”.

Sérgio Castanheira considera que “é uma pena que assim seja porque todo o tabaco que se consome em Portugal é importado. Era uma forma de não se colocar dinheiro no exterior. Em termos de balança de pagamentos era muito importante porque significava uma produção dupla. O dinheiro podia ir para outras coisas. Era uma fonte importante de impostos, nomeadamente do IVA, mas entenderam que não estava bem”.

A campanha do tabaco está a decorrer normalmente, apesar deste ano não ter sido muito propício por causa das baixas temperaturas.

Este produtor de tabaco diz que vai continuar a resistir enquanto puder. No entanto, já está a implementar um novo projeto frutícola.

“É esta incerteza que é triste no meu país, onde não sabemos o que podemos fazer amanhã”, lamenta Sérgio Castanheira, já que este momento poderá ditar o pouco que resta do setor, em Portugal.
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