Custos energéticos levam empresas a estudar instalações para o mar e países frios
Porto, 25 Jan (Lusa) - O mar, as margens dos rios e zonas frias, como a Islândia e a Sibéria, são algumas das possíveis novas localizações de "datacenters" (centros de armazenamento de dados informáticos) num futuro não muito longínquo.
O crescimento exponencial da Internet está a forçar a construção e manutenção de cada vez mais servidores, fazendo crescer proporcionalmente as necessidades de armazenamento de dados em locais seguros e a temperaturas muito baixas.
Aproveitamento as condições climatéricas, uma enorme infra-estrutura está a ser planeada para a Islândia e a Sibéria poderá ser o local dos novos "datacenters" da Microsoft.
"Notam-se algumas tendências no sentido da procura de soluções energeticamente mais favoráveis", disse à agência Lusa Carlos Paulino, director da Televent Portugal, empresa proprietária do maior "datacenter" em território português, um edifício de 5.300 metros quadrados no Prior Velho, Loures.
António Ferreira, administrador delegado da Claranet Portugal, disse à Lusa que as hipóteses de instalação de "datacenters" no mar e em países de clima frio "é uma moda", mas apenas em discussões teóricas, não constituindo ainda uma tendência de mercado.
"Os locais distantes dificultam muito a ligação entre servidores. Aquilo que procuramos é ter os `datacenters` mais próximos dos clientes", salientou, acrescentando que, para controlar custos, tem sido privilegiado "o recurso a tecnologias de virtualização e a equipamentos optimizados".
António Ferreira destacou a evolução verificada no sector, resultante da automatização, da redução de custos de largura de banda e do aumento dos preços da energia: "Há 10 anos esta indústria não valorizava os custos de energia. Agora sim. A energia já representa cerca de 50 por cento dos custos".
No mesmo sentido, José Oliveira, administrador da CGest, afirmou que a energia já representa "40 a 50 por cento do orçamento" da empresa, prevendo-se um aumento no futuro para "60 a 70 por cento dos custos".
José Oliveira realçou que a procura de localizações menos convencionais nem sempre está associada aos custos energéticos, mas sim à fuga a legislações restritivas de algumas actividades na Internet.
"Existe um `datacenter` numa antiga plataforma petrolífera ao largo da Inglaterra, mas é para fugir às jurisdições nacionais", exemplificou José Oliveira, ironizando que a escolha do mar "é por causa de `refrigeração` legal".
Gibraltar, por ter uma legislação "mais suave", é outro local que tem sido escolhido para a instalação de "datacenters", referiu.
"Numa reserva índia no Canadá, onde não há legislação para o jogo, está a maior parte dos servidores de jogos de póquer", acrescentou.
A par das questões legais e energéticas, também as preocupações ambientais têm crescido, ao ponto de a Comissão Europeia (CE) ter publicado, em Outubro de 2008, um Código de Conduta sobre Eficiência Energética dos "Datacenters".
José Oliveira referiu que "em Portugal o Código de Conduta ainda não está a ser cumprido", mas a adaptação das empresas deverá ser "rápida", prevendo que "daqui a um ou dois anos" já todas estarão a seguir as recomendações da CE.
"É um processo que a Europa está a liderar. Não temos esse documento como referência, mas temos procurado utilizar as melhores práticas", realçou António Ferreira.
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