Défice. Itália recua ligeiramente perante a Comissão Europeia

por RTP
Matteo Salvini Alessandro Bianchi, Reuters

O défice italiano do próximo ano deverá andar pelos 2,04 por cento, e não pelos 2,4 por cento que tinham desencadeado o conflito entre Roma e Bruxelas. As bolsas animam-se, mas é duvidoso que a Comissão Europeia se dê por satisfeita.

A comunicação foi feita pelo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, no final de uma reunião que ontem teve em Bruxelas com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker: em vez dos 2,4 por cento do projecto inicial, o défice do Estado italiano em 2019 deverá ficar pelos 2,04 por cento, graças a alguns cortes que foi possível fazer do lado da despesa.

Segundo a Reuters, os cortes do lado da despesa comprometem o cumprimento de duas das grandes bandeiras eleitorais que estiveram na base da constituição da actual maioria governamental: muito possivelmente não irá, para já, por diante a redução da idade de reforma nem a subida do rendimento mínimo.

Conte disse esperar uma reacção favorável da Comissão Europeia. E, com efeito, uma porta-voz da Comissão considerou que tinha havido progressos.

Resta saber se os progressos serão suficientes, considerando que até ao bombástico anúncio do défice de 2,4 por cento, a Comissão estava a contar com um défice italiano de apenas 0,8 por cento, tal como ele lhe fora prometido pelo anterior Governo. Disso dependerá que seja mantida ou levantada a coima de milhares de milhões com que a Comissão ameaçou a Itália, caso persistisse em violar os compromissos assumidos.

Trata-se em todo o caso de uma mudança de tom na polémica que vinham mantendo Roma e Bruxelas. O vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, vem nomeadamente acusando a Comissão Europeia de usar dois pesos e duas medidas, por tolerar o défice francês que frequentemente tem ficado acima dos três por cento, mas não o italiano. Ainda por cima, as concessões anunciadas pelo presidente Macron ao movimento dos "coletes amarelos" vão ter um impacto orçamental ainda por precisar.

Acontece que a Itália é, depois da Grécia, o mais endividado dos países europeus, com uma dívida a rondar os 130 por cento em relação ao PIB.
O comissário europeu para Economia, Pierre Moscovici, justificou a assimetria das reacções perante a França e a itália, lembrando que a França tem um crescimento económico superior ao do PIB transalpino. Mas declarou-se ao mesmo tempo contra a aplicação de sanções, tanto a França como a Itália.

Entretanto, falando ao Senado francês, Moscovici considerou "construtivas" as conversações em curso com a Itália, mas sem as considerar concluídas nem satisfatório o compromisso até aqui declarado por Conte.

Mais entusiástica foi a reacção da Bolsa de Milão, que ao começo da manhã de hoje via subirem em 3,2 por cento os valores que aí são cotados. O principal índice italiano subiu hoje em 1 por cento, e o efeito fez-se sentir igualmente noutras bolsas europeias.
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