Economia do Japão regride a números do choque petrolífero dos anos 70

O produto interno bruto do Japão encerrou 2008 com a mais grave contracção dos últimos 35 anos. A segunda maior economia do Mundo regrediu 3,3 por cento no quarto trimestre do ano passado, o que se traduz num recuo de quase 13 por cento em termos anuais. O Governo japonês reconhece que o país está a atravessar a pior crise económica desde a II Guerra Mundial.

Carlos Santos Neves, RTP /
A bolsa japonesa reagiu aos números do PIB com um recuo ligeiro de 0,4 por cento Everett Kennedy Brown, EPA

O naufrágio da procura de produtos de chancela japonesa, em particular das indústrias automóvel e electrónica, atirou a segunda maior economia do globo para “a pior crise da era do pós-guerra”. O cenário é traçado pelo ministro japonês da Economia.

“A economia japonesa, cujo crescimento é muito dependente da exportação de automóveis, maquinaria e equipamentos de electrónica, foi literalmente arrasada”, admitiu esta segunda-feira o ministro Kaoru Yosano, depois da divulgação dos últimos números oficiais de uma recessão que perdura desde o terceiro trimestre de 2008.

Nos derradeiros três meses do ano passado, o produto interno bruto japonês sofreu uma contracção de 12,7 por cento face ao período homólogo de 2007. É necessário recuar ao primeiro trimestre de 1974, o auge da crise mundial do petróleo, para encontrar uma quebra anual mais pronunciada – 13,1 por cento.

Duas dezenas de economistas auscultados pelo diário japonês Nikkei haviam estimado a contracção anual em 11,6 por cento.

Economia sem fronteiras

Em conferência de imprensa, o ministro japonês da Economia fez questão de sublinhar que o país “será incapaz de sair sozinho” da crise.

“Não há fronteiras em economia. A nossa economia irá recuperar ao mesmo tempo que as dos outros países”, afirmou Kaoru Yosano, acrescentando que a “reconstrução” de um sistema em colapso “é uma questão de responsabilidade face aos outros”.

A crise económica mundial está no topo da agenda do primeiro périplo asiático de Hillary Clinton enquanto secretária de Estado norte-americana. Tóquio é a primeira escala da nova chefe da diplomacia dos Estados Unidos.

Crise política

O Governo de Taro Aso está neste momento a estudar a oportunidade de novas medidas de estímulo para a economia. Contudo, o primeiro-ministro japonês debate-se com uma série de obstáculos: um Parlamento dividido e um partido de governo igualmente fracturado são os mais imediatos.

Uma sondagem publicada no fim-de-semana pela cadeia de televisão privada NTV colocou pela primeira vez o índice de popularidade do chefe do Executivo abaixo da fasquia dos dez por cento, alimentando os rumores em torno de uma eventual remodelação na ponte de comando do poder executivo ou, em alternativa, a marcação de eleições antecipadas.

O conservador Taro Aso está a ser pressionado pela Oposição no sentido de levar o país para eleições legislativas antes de Setembro. Por outro lado enfrenta uma crescente barragem de críticas no seio da sua própria força política, o Partido Liberal-Democrata.

Contestação nas ruas

Outro dos combustíveis da recessão japonesa é a quebra acentuada do consumo, um comportamento agravado nas últimas semanas pelo alarme decorrente da escalada do desemprego.

Centenas de trabalhadores precários manifestaram-se esta segunda-feira em Tóquio para exigir mais medidas de protecção social.

“Temos consciência de que há uma crise financeira, mas as empresas têm uma responsabilidade social”, frisava um dos promotores da manifestação, Ryozo Fujisaki, citado pela agência France Presse.

Segundo as estimativas do Ministério do Trabalho do Japão, o desemprego será até ao final de Março o destino de mais 125 mil trabalhadores sem contrato efectivo.
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