Economistas defendem uso de "stablecoins" pela China para reforçar papel global do yuan
Economistas e conselheiros políticos na China têm vindo a defender o uso de criptomoedas estáveis indexadas a moedas fiduciárias em pagamentos transfronteiriços, numa altura em que os Estados Unidos procuram reforçar a supremacia do dólar através desta tecnologia.
Apesar de manter uma proibição geral sobre atividades com criptomoedas, responsáveis do Banco Popular da China (banco central) reconheceram recentemente o potencial das "stablecoins" - ativos digitais indexados a moedas tradicionais - no sistema financeiro global, reavivando o debate em torno da sua adoção.
Durante um fórum financeiro em Xangai, em junho, o governador do banco central, Pan Gongsheng, afirmou que as "stablecoins" podem revolucionar as finanças internacionais, sobretudo num contexto de crescentes tensões geopolíticas que evidenciam a vulnerabilidade dos sistemas de pagamentos tradicionais, frequentemente usados como instrumentos de sanção.
Na mesma ocasião, o antigo governador Zhou Xiaochuan alertou que "stablecoins" indexadas ao dólar podem fomentar a dependência da moeda norte-americana, enquanto outros responsáveis de instituições financeiras do continente chinês e de Hong Kong sugeriram que versões em yuan poderiam reforçar os esforços da China para internacionalizar a sua moeda.
Embora Pequim continue a encarar as criptomoedas como uma ameaça à estabilidade financeira e ao controlo de capitais, vários economistas consideram que existe agora uma oportunidade estratégica.
Citado pela agência de notícias Bloomberg, o economista-chefe do banco de investimento Morgan Stanley na China, Robin Xing, defendeu que "as 'stablecoins' não são novas moedas, mas novos canais de distribuição", apelando à indexação do yuan a uma criptomoeda como forma de manter a competitividade digital.
O Senado dos Estados Unidos aprovou já legislação para regular as "stablecoins", numa vitória para o setor cripto e para a agenda de ativos digitais do presidente norte-americano, Donald Trump. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, afirmou que as "stablecoins" podem reforçar - e não ameaçar - a posição dominante do dólar.
Analistas destacam que estas moedas digitais podem ajudar Pequim a capitalizar o crescente desconforto global com a dominância do dólar, sobretudo depois das sanções e congelamento de ativos impostos a Moscovo, na sequência da invasão russa da Ucrânia.