EDP classifica preço oferecido pela China Three Gorges como baixo

por RTP
O negócio estará sujeito à aprovação de outros países onde a elétrica portuguesa dispõe de ativos, designadamente Espanha, Brasil e Estados Unidos, além de Bruxelas Eloy Alonso - Reuters

A EDP – Energias de Portugal remeteu esta terça-feira uma nota à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários em que reprova o preço estabelecido pela China Three Gorges para adquirir a empresa portuguesa, assim como “o prémio implícito na oferta”.

“O Conselho de Administração Executivo considera que o preço oferecido não reflete adequadamente o valor da EDP e que o prémio implícito na oferta é baixo considerando a prática seguida no mercado Europeu das utilities nas situações onde existiu aquisição de controlo pelo oferente”, lê-se na nota da elétrica portuguesa.No encerramento da sessão bolsista de segunda-feira, os títulos da EDP valorizavam-se em 9,32 por cento, para os 3,40 euros.


A empresa escreve que tem já em marcha os “procedimentos internos relevantes” após a Oferta Pública de Aquisição voluntária da China Three Gorges. E promete assumir uma posição em “devido tempo sobre os demais termos da oferta”, que chegarão ao conhecimento do Conselho de Administração Executivo da EDP com o “projeto de prospeto que incluirá o detalhe relevante do Projeto Industrial”, a enviar pelo braço europeu do grupo chinês.

A China Three Gorges lançou na sexta-feira uma Oferta Pública de Aquisição voluntária sobre o capital da EDP. A contrapartida é de 3,26 euros por ação, o que equivale a um prémio de 4,82 por cento relativamente ao valor de mercado.

O grupo chinês é atualmente detentor de 23,27 por cento do capital social da EDP, empresa que avalia em cerca de 11,9 mil milhões de euros. O plano assumido pela China Three Gorges passa por conservar a sede da elétrica em Portugal.

Também esta terça-feira o Governo de Pequim veio sublinhar, em conferência de imprensa, que não encontra motivos para que “terceiras partes” se oponham à OPA sobre a EDP. Isto “quando a cooperação é baseada no respeito mútuo, com benefícios e ganhos para ambos”, segundo Lu Kang, porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

“O Governo chinês apoia e encoraja as empresas chinesas a encetarem uma cooperação mutuamente benéfica com empresas portuguesas”, reforçou o porta-voz, para depois enfatizar o que descreveu como “laços amigáveis” entre os dois países, que “alcançaram resultados bastante positivos”.
Debaixo de escrutínio

O primeiro-ministro, António Costa, já sinalizou que não se oporá à operação. No entanto, o negócio estará sujeito à aprovação de outros países onde a elétrica portuguesa dispõe de ativos, designadamente Espanha, Brasil e Estados Unidos, além de Bruxelas.
A agência Bloomberg avançara na segunda-feira que a EDP estava a prepara-se para recomendar aos acionistas a rejeição da OPA.

Em solo norte-americano, caberá à Comissão para o Investimento Externo pronunciar-se sobre esta operação. Recorde-se que esta estrutura federal tem impedido diferentes negócios protagonizados por entidades chinesas - entre os quais uma oferta de uma subsidiária do grupo Alibaba pela MoneyGram -, invocando a segurança nacional.

O desanuviamento das relações entre a Casa Branca e a Coreia do Norte, para o qual Pequim contribuiu em grande medida, pode todavia vir a traduzir-se num descer da fasquia da guerra comercial movida pela Administração Trump.

Na Europa o contexto é também de apertado escrutínio. Recorde-se que em setembro do ano passado o presidente da Comissão Europeia acenou com o projeto para a criação de um mecanismo de avaliação de investimentos externos. Algo encarado como tendo o colosso asiático por destinatário.

“Se uma empresa estrangeira estatal quer comprar um porto europeu, parte da nossa infraestrutura energética ou uma empresa de tecnologia de defesa, isso só deverá acontecer com transparência, escrutínio e debate”, vincava então Jean-Claude Juncker.

c/ Lusa
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