Estudo. Pegada ecológica dos ricos está mais pesada

por Carla Quirino - RTP
Jatos privados, na Suíça Denis Balibouse - Reuters

A diferença entre as pegadas ecológicas das pessoas ricas e pobres é atualmente maior do que as desproporções entre as emissões dos países. É o que conclui o estudo Climate Inequality Report 2023, no qual economistas analisam de onde saem as emissões de carbono.

A política climática global tem-se concentrado na diferença entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, apurando o histórico das responsabilidades pelas emissões de gases que provocam o efeito estufa.

Embora existam desigualdades entre o "Norte Global" e o "Sul Global", o relatório Climate Inequality Report 2023 também descobriu que essas diferenças são agora maiores dentro dos países. Um grupo de especialistas do World Inequality Lab dedicou-se a detalhar dados internos, em vez de comparar apenas informações gerais entre Estados.

“As desigualdades de carbono dentro dos países agora parecem ser maiores do que as desigualdades de carbono entre os países. Os padrões de consumo e investimento de um grupo relativamente pequeno da população contribuem direta ou indiretamente de forma desproporcional para os gases de efeito estufa".

Os autores defendem que inúmeros impactos climáticos estão "fortemente ligados ao rendimento e à riqueza, não apenas entre os países, mas também dentro deles".Elite poluidora

Surge assim o conceito de “elite poluidora”, que abrange as pessoas ricas que mais contribuem para as emissões de carbono. Os autores propõem que sejam criados novos impostos sobre os lucros para que sejam os mais ricos a ajudar a financiar investimentos de baixo carbono.

Peter Newell, professor de relações internacionais da Universidade de Sussex, tem desenvolvido investigação sobre a questão da elite poluidora e defende que “os padrões de consumo precisam de mudar para enfrentar a crise climática”.

O especialista nada teve a ver com este relatório, mas concorda que “a desigualdade de carbono dentro dos países representa a maior parte da desigualdade global de emissões de carbono entre aqueles que geram as emissões e aqueles que sofrem os piores efeitos do aquecimento global e que têm menos capacidade de adaptação”.

“Padrões de consumo e investimento da elite poluidora, que impulsionam essas contribuições desiguais para a mudança climática, precisam de ser reduzidos e redirecionados, respetivamente. Este é um grande desafio
”, acrescenta.Poluidor-pagador
Além de as pessoas de baixos rendimentos nos países desenvolvidos contribuírem menos para a crise climática, são as mais vulneráveis economicamente, de acordo com o relatório. Os autores tentaram demonstrar que o combate à pobreza global, sem aumentar as emissões de gases de efeito estufa em geral, tem de ser alavancado por políticas fiscais e sociais.

Ao Guardian, Newell vinca que “[o relatório mostra que] combater a pobreza global não ultrapassará os orçamentos globais de carbono, como frequentemente se afirma, mas a falha em abordar o poder e o privilégio da elite poluidora irá. Eles estão relacionados porque a redução do consumo de carbono no topo pode libertar espaço de carbono para tirar as pessoas da pobreza”.

Serão necessárias “combinações de tributação progressiva, inclusive sobre atividades altamente poluentes, e a redistribuição de subsídios para combustíveis fósseis pode ajudar a fortalecer o estado de bem-estar e fornecer proteção social para ajudar a preencher algumas dessas lacunas”, sustenta Newell.

“Este relatório ressalta mais uma vez a necessidade de uma transição justa para uma economia de baixo carbono, que reflete responsabilidade desigual por causar a crise climática e capacidade desigual para ajudar a enfrentá-la”, sublinha.
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