Facebook a contas com boicote publicitário contra discurso de ódio

por Inês Moreira Santos - RTP
Erin Scott - Reuters

Mais de 160 marcas mundialmente conhecidas aderiram ao boicote global ao Facebook, suspendendo a atividade publicitária nas plataformas de Mark Zuckerberg para contestar, assim, o discurso de ódio nas redes sociais. Pressionada, a empresa já anunciou que vai rever políticas, proibir mensagens de ódio nos anúncios e sinalizar as publicações de políticos que violem as regras.

Após a morte do afro-americano George Floyd, a Free Press e a Common Sense Media, assim como grupos de direitos civis, criaram uma campanha de protesto para acabar com o discurso de ódio e a desinformação online, pedindo inicialmente às empresas norte-americanas para suspenderem o investimento social e a publicidade nas plataformas de Mark Zuckerberg - Facebook, Instagram, Twitter e Whatsapp, entre outras.

Stop Hate for Profit ("pare de dar lucro ao ódio", em português) é o nome da campanha de boicote mundial criada no início do mês de junho para pressionar o Facebook a adotar políticas mais rígidas relativamente ao discurso de ódio e à desinformação. E à qual já se juntaram mais de 160 marcas. Só na semana passada empresas como a Unilever, Coca-Cola, Honda Motor, Levis, Pepsi e Starbucks anunciaram que se iam juntar ao boicote e suspender toda a atividade publicitária no Facebook até ao final do mês de julho - algumas até ao final do ano.

O executivo-chefe da Coca-Cola, James Quincey, declarou que a marca vai ficar pelo menos 30 dias sem pagar anúncios no Facebook, no Instagram, no Twitter, no YouTube e no Snapchat. Num comunicado, o responsável pela marca mundialmente conhecida afirmou que "não há lugar para racismo no mundo, e não há lugar para racismo nas redes sociais".

"Aproveitaremos este tempo para reavaliar as nossas políticas e standards de publicidade para determinar se são necessárias revisões internas e o que devemos esperar mais dos nossos parceiros de redes sociais para livrar as plataformas de ódio, violência e conteúdo impróprio. Vamos deixar claro que esperamos deles uma maior responsabilização, ação e transparência", acrescentou Quincey.

Também a fabricante de automóveis e motas Honda Motor Company anunciou que vai participar na campanha e suspender a publicidade no Facebook e no Instagram durante todo o mês de julho, justficando no Twitter que tal ação está "alinhada aos valores da empresa, que são baseados no respeito humano".


Os organizadores deste boicote publicitário querem alargar a iniciativa a nível mundial, de forma a aumentar a pressão sobre a empresa.

"A próxima fronteira é a pressão global", disse à Reuters Jim Steyer da Common Sense, acrescentando que a organização espera encorajar com a campanha os reguladores da Europa a adotar uma postura mais rígida no Facebook.
Facebook com receitas em queda reage
Numa altura em que milhares de pessoas se voltam a manifestar por todo o mundo pelos direitos humanos e pelos direitos civis, pelo fim do racismo e apelando à igualdade entre todas as etnias, o Facebook é acusado de não fazer o suficiente para impedir a veículação do discurso de ódio nas publicações e comentários dos utilizadores.

De recordar que a publicidade representa 70 mil milhões de dólares (cerca de 62 mil milhões de euros) em receita para o Facebook anualmente, sendo que aproximadamente um quarto deste total chega de algumas das multinacionais que se juntaram ao boicote.

A verdade é que, em resultado do boicote, o preço das ações da empresa de Zuckerberg baixou 8,3 por cento na sexta-feira passada.

A empresa de Mark Zuckerberg já reagiu ao boicote e prometeu começar a remover anúncios que afirmem que pessoas de certas origens, etnias, nacionalidades, sexo ou orientação sexual representam uma ameaça à segurança ou saúde de outros.

Num video divulgado no Facebook, o dono das plataformas de media social reconheceu que ainda tem muito trabalho pela frente e que vai passar a colaborar com grupos de direitos civis e especialistas para desenvolver novas ferramentas de combate ao discurso de ódio.
  



A empresa garantiu também que o investimento realizado em inteligência artificial já permitiu encontrar 90 por cento do discurso de ódio antes de os utilizadores terem oportunidade de reportá-lo.

O Facebook anunciou, entretanto, novas medidas no sentido de banir anúncios e identificar discurso de ódio por parte de políticos, como Donald Trump. Mas a lista de exigências dos parceiros publicitários pede mais: um processo de moderação distinto para utilizadores que são alvos com base na sua raça; mais transparência relativamente à forma como os incidentes de discurso de ódio são reportados; e um ponto final à receita gerada com base em conteúdos prejudiciais, entre outros.

A resposta de Zuckerberg pode não ser suficiente para pôr termo ao boicote, mas o certo é que a queda no preço das ações fez com que o Facebook perdesse 56 mil milhões de dolares no valor de mercado e também diminuiu o património líquido de Zuckerberg para 82,3 mil milhões de dóleres, de acordo a Bloomberg Billionaires Index.

O CEO do Facebook acabou por cair, assim, para o quarto lugar na posição dos mais ricos do mundo.
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