Economia
Guerra na Ucrânia
Ferro e aço mais caros. Setor siderúrgico da Ucrânia sufocado por bloqueio às exportações
O futuro da indústria siderúrgica da Ucrânia está ameaçado com o estrangulamento das exportações. Tal como no caso dos cereais, o transporte pelo Mar Negro foi comprometido. A invasão russa danificou ou destruiu algumas fábricas de ferro e aço e apoderou-se de outras, subtraindo 70 por cento de capacidade de produção. A escassez de pessoal e os cortes de energia a aumentarem com a chegada do inverno são alguns dos desafios da grande central siderúrgica Zaporizhstal.
Os depósitos de minério de ferro da Ucrânia são reconhecidos como os quintos maiores do mundo. Embora a produção de aço exista no leste e no sul, a maioria das minas está concentrada em torno de Kryvyi Rih, cidade natal do presidente Volodymyr Zelensky.
O sindicato dos produtores de aço da Ucrânia argumenta que, na era soviética, a Ucrânia produzia mais de 50 milhões de toneladas de aço por ano. Com o fim da Guerra Fria, a produção foi descendo e, em 2021, foram registadas cerca de 22 milhões de toneladas. Mas o grande golpe veio depois da invasão russa no ano passado, quando a produção não ultrapassou os 6,3 milhões.

Fábrica Zaporizhstal | Oleksandr Ratushniak - Reuters

Fábrica Zaporizhstal | Oleksandr Ratushniak - ReutersAço mais caro no transporte via terrestre
O bloqueio naval russo aos portos ucranianos do Mar Negro prejudicou a capacidade da Ucrânia para transportar as suas produções para os mercados internacionai. A reduzida circulação de aço, cereais e fertilizantes desencadeou uma escassez destes produtos e a inerente inflação dos preços.
A produção metalúrgica é a segunda indústria principal da Ucrânia, depois da agricultura, e representa 30 por cento das exportações. Mas até que os produtores consigam levar o aço aos mercados através do Mar Negro, onde a Rússia continua a representar uma ameaça para o transporte marítimo, há poucas perspetivas de recuperação do sector.
“Se não tivermos portos marítimos abertos, a nossa indústria não sobreviverá e todas as outras nos seguirão”, afirmou à Reuters Oleksandr Kalenkov, chefe do sindicato dos produtores de aço da Ucrânia.
Quando a guerra começou, em fevereiro de 2022, as fábricas ucranianas de produção de ferro e aço direcionaram o trabalho para o fabrico de coletes à prova de balas, capacetes e placas blindadas para veículos.
Os trabalhadores siderúrgicos arriscaram as vidas no desenvolvimento de maquinaria pesada para ajudar a bloquear fisicamente o avanço russo, de tal forma que o setor ficou conhecido como “o Coração de Aço da Ucrânia”, por ter sido a força motriz por trás da resistência do país.
Capacidade de produção reduzida
O sindicato dos produtores de aço da Ucrânia argumenta que, na era soviética, a Ucrânia produzia mais de 50 milhões de toneladas de aço por ano. Com o fim da Guerra Fria, a produção foi descendo e, em 2021, foram registadas cerca de 22 milhões de toneladas. Mas o grande golpe veio depois da invasão russa no ano passado, quando a produção não ultrapassou os 6,3 milhões.
Antes da invasão, o setor metalúrgico, como um todo, representava dez por cento do PIB da Ucrânia.
Fábrica Zaporizhstal | Oleksandr Ratushniak - Reuters
O território perdido para Moscovo, somado à destruição da fábricas como a siderurgia de Azovstal, em Mariupol, explica a grande quebra na produção ucraniana.
Nos primeiros nove meses de 2023, a produção voltou a cair para 3,9 milhões de toneladas, de acordo com os dados mais recentes partilhados na Reuters.
Nos primeiros nove meses de 2023, a produção voltou a cair para 3,9 milhões de toneladas, de acordo com os dados mais recentes partilhados na Reuters.
Porém, a tendência parece estar a ser contrariada com a procura interna a aumentar, à medida que a Ucrânia produz mais armas, constrói abrigos antiaéreos e começa a reconstruir vilas e cidades danificadas durante a guerra.
Zaporizhstal
Depois de as forças russas confiscarem as centrais de produção na região do Donbass, a leste, vieram para Zaporizhia, no sul da Ucrânia, e a fábrica de Zaporizhstal fechou durante um mês, pela primeira vez desde a ocupação nazi, embora não tenha caído em mãos do invasor.
Zaporizhstal é uma siderúrgica da era soviética e tem conseguido funcionar, mesmo com poucos trabalhadores. Porém, os maiores desafios são os bloqueios das exportações e a ameaça dos ataques de mísseis russos. Com a chegada do inverno, a exigência de energia para o aquecimento irá aumentar a probabilidade de cortes de eletricidade.
Para agravar a situação, grande parte do carvão utilizado para alimentar os altos fornos está agora sob controlo russo ou é extraído perto da linha da frente de combates.
Com apenas dois dos quatro altos fornos a operar, a produção de Zaporizhstal caiu a pique, refletindo-se na quebra dos números do aço do país, que em 2021 era o nono do mundo neste domínio. Com a guerra, sofreu uma redução de 70 por cento em 2022, principalmente devido à destruição das grandes fábricas, de acordo com a Ukrmetprom, a associação dos fabricantes de aço da Ucrânia.
A Zaporizhstal estima exportar dois terços dos seus 2,4 a 2,5 milhões de toneladas de minério de ferro e produção de aço laminado em 2023. Antes da invasão, a produção era de 4,2 milhões de toneladas por ano.
A siderúrgica de Zaporizhstal é gerida pela Metinvest, a maior empresa privada da Ucrânia, controlada pelo homem mais rico do país, Rinat Akhmetov.
Tal como a Azovstal, a Zaporizhstal apresenta um extenso emaranhado de oleodutos que alimentam os altos fornos e fundições. A central é operada por cinco mil trabalhadores por turno e tem 16 abrigos antiaéreos preparados para sustentar sete mil pessoas durante dias.
Fábrica Zaporizhstal | Oleksandr Ratushniak - ReutersAço mais caro no transporte via terrestre
O bloqueio naval russo aos portos ucranianos do Mar Negro prejudicou a capacidade da Ucrânia para transportar as suas produções para os mercados internacionai. A reduzida circulação de aço, cereais e fertilizantes desencadeou uma escassez destes produtos e a inerente inflação dos preços.
A produção metalúrgica é a segunda indústria principal da Ucrânia, depois da agricultura, e representa 30 por cento das exportações. Mas até que os produtores consigam levar o aço aos mercados através do Mar Negro, onde a Rússia continua a representar uma ameaça para o transporte marítimo, há poucas perspetivas de recuperação do sector.
“Se não tivermos portos marítimos abertos, a nossa indústria não sobreviverá e todas as outras nos seguirão”, afirmou à Reuters Oleksandr Kalenkov, chefe do sindicato dos produtores de aço da Ucrânia.
Com as exportações do Mar Negro praticamente inexistentes, as siderúrgicas passaram a escoar a produção através de comboios. Dos 1.800 vagões de carga que saem diariamente da Ucrânia para a Europa, a indústria siderúrgica ocupa cerca de metade. No contexto de guerra, foi estabelecido que o limite para as exportações ferroviárias é de cerca de três milhões de toneladas por ano.
“Se compararmos com o transporte marítimo, a via terrestre custa quatro vezes mais”, sublinhou o diretor da Zaporizhstal, Roman Slobodianiuk, acrescentando que este ano os impostos ferroviárias de carga aumentaram, “elevando os custos em mais 20-30 por cento”.
Stanislav Zinchenko, coordenador do grupo de reflexão ucraniano do GMK Center, observou que, na primeira metade de 2023, a passagem de aço em redor dos portos de Odessa não chegou a 100 milhões de toneladas, o que corresponde a "uma pequena percentagem do que é necessário" para a recuperação do setor sirurgico ucraniano.
Stanislav Zinchenko, coordenador do grupo de reflexão ucraniano do GMK Center, observou que, na primeira metade de 2023, a passagem de aço em redor dos portos de Odessa não chegou a 100 milhões de toneladas, o que corresponde a "uma pequena percentagem do que é necessário" para a recuperação do setor sirurgico ucraniano.
O ferro fundido é o principal componente do aço, utilizado na construção, veículos, mobiliário e canalização, computadores, infraestruturas energéticas e armas.
O aço é o metal mais utilizado no mundo, com quase dois mil milhões de toneladas fabricadas globalmente por ano.