Fitch deverá retirar dívida pública portuguesa do “lixo”

por Sandra Salvado - RTP
Brendan McDermid - Reuters

A agência de notação financeira Fitch deverá publicar esta sexta-feira o relatório de revisão do rating e retirar Portugal do nível de lixo. Se as previsões se concretizarem, uma subida poderá ter efeitos positivos ao nível dos custos de financiamento. Além de uma descida dos juros, a dívida portuguesa passa a estar incluída nos principais índices de obrigações, podendo ser comprada por investidores de peso.

Depois da Standard & Poor's ter tirado Portugal do "lixo" no passado dia 15 de setembro, terá chegado a vez da agência de rating Fitch tirar a dívida pública nacional do “lixo”. Se as previsões se confirmarem Portugal subirá de um rating de BB+ para BBB.

Com esta alteração, Portugal irá alargar muito o número de possíveis investidores na sua dívida, passando a ser elegível para constar em vários índices.

Uma subida de rating “tem relevância”, uma vez que “há fundos que só podem comprar dívida de emitentes com a classificação de grau de investimento por duas das três principais agências de notação (…) Será uma decisão esperada mas ainda assim positiva para Portugal”, revelou ao Negócios, Filipe Garcia, economista do IMF - Informação de Mercados Financeiros.



Em junho, a agência Fitch já tinha anunciado uma melhoria da perspetiva de "estável" para "positiva", justificada também pela redução acentuada do défice, levando ao fim do Procedimento por Défice Excessivo (PDE) formalizado Comissão Europeia em junho.

A Fitch destacou a redução da despesa e o crescimento mais forte verificado a partir de meados de 2016, que na opinião da agência deverá continuar, culminando num défice de 1,4 por cento em 2018.

Também no passado mês de junho, a Fitch previu um crescimento da economia portuguesa de dois por cento este ano e de 1,6 por cento no próximo, mas colocou um ponto de interrogação no setor financeiro, elegendo-o como um fator de incerteza na evolução do país.

Também um dos bancos mais influentes no mercado de dívida europeia já tinha referido em novembro que era “provável” que a agência Fitch também se decidisse por atribuir um "rating" de qualidade a Portugal, a 15 de dezembro.

Para o economista Filipe Garcia, ouvido pelo Negócios, “um aspeto preocupante é que mesmo com crescimento económico e juros extraordinariamente baixos, o rácio dívida/PIB teima em não descer e essa é uma das principais medidas de sustentabilidade económico-financeira do país”.
Momentos chave
O dia 6 de abril de 2011 ficará para a história como o dia em que Portugal pediu ajuda financeira externa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia e Banco Central Europeu (BCE).

Foi José Sócrates quem fez o pedido, depois de semanas conturbadas marcadas pelo chumbo de mais um PEC – Programa de Estabilidade e Crescimento.

Portugal pediu o resgate de 78 mil milhões de euros ainda sob a chancela de ratings de investimento por parte das três grandes agências do setor, nomeadamente, S&P, Fitch e Moody’s.

Mas não tardou muito para que Portugal fosse atirado para o “lixo”, levando muitos dos habituais investidores em títulos soberanos a afastarem-se. A Moody’s foi a que esperou menos tempo para agir e a 5 de julho de 2011 cortou a avaliação de Portugal para Ba2. Já a agência Fitch e S&P demoraram um pouco mais.

Portugal começou a ficar afastado dos mercados internacionais e deixou de emitir obrigações do Tesouro, passando a recorrer apenas a bilhetes do Tesouro adquiridos em grande parte pelos bancos nacionais.

A Fitch tirou a classificação de investimento a Portugal no 24 de novembro de 2011, enquanto a S&P deixou entrar o novo ano para fazer cair para “lixo” a dívida pública nacional. Foi no dia 13 de janeiro de 2012 que baixou a classificação para BB+.

Ainda de acordo com o Negócios, o facto de as duas agências darem um rating acima de “lixo” permite que se saia de um índice com uma capitalização de 155 mil milhões de euros para outro com seis biliões.
António Costa não ficará "surpreendido"
António Costa disse esta sexta-feira em Bruxelas que "não ficaria surpreendido se as agências de notação financeira concluíssem o óbvio".

O primeiro ministro disse que a situação do país em 2011 é completamente diferente, portanto, "tem que ter uma notação claramente distinta da que tinha em 2011".

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