FMI disponível para apoiar programa de "reformas sólidas e credíveis" em Cabo Verde

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Cabo Verde perspetivou hoje que há condições para o organismo apoiar um "programa de reformas sólidas e credíveis" no arquipélago, pedido pelo Governo.

Lusa /

"Estamos confiantes que o FMI vai conseguir dar o seu apoio ao Governo cabo-verdiano no contexto de um novo programa de reformas económicas de Cabo Verde", afirmou, na Praia, o chefe da missão do FMI a Cabo Verde, Alex Segura-Ubiergo.

A missão do FMI terminou hoje, com uma conferência de imprensa conjunta com o Governo de Cabo Verde, uma semana de contactos, regulares, com as autoridades locais, que se centraram na avaliação dos impactos para o arquipélago da crise provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, servindo ainda para iniciar a discussão em torno de um programa de apoio ao país.

"Nos próximos dias vamos concluir as nossas discussões e estou confiante que vamos ter os elementos necessários para poder apresentar ao nosso conselho de administração um programa de reformas sólidas e cedíveis, que vai ajudar o país a enfrentar esta nova crise", disse Alex Segura-Ubiergo, sem esclarecer se este apoio terá envelope financeiro.

Contudo, na quarta-feira, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, anunciou, no parlamento, que o FMI vai apoiar Cabo Verde com um programa de reformas, no contexto da crise económica, prevendo "condições muito favoráveis de financiamento".

"Vamos fechar um bom programa, que vai permitir, em condições muito favoráveis de financiamento, assegurar e garantir as condições para fazermos face a este embate, a crises acumuladas e ao mesmo tempo proporcionar reformas que são necessárias para aumentar a resiliência do país", afirmou Ulisses Correia e Silva, durante o debate mensal no parlamento.

"O FMI vai apoiar o programa de reformas e medidas nos domínios da estabilidade macroeconómica, estabilidade cambial, estabilidade dos preços e erradicação da pobreza extrema e redução da pobreza absoluta", acrescentou Ulisses Correia e Silva.

Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.

O país registou em 2020 uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB. O Governo cabo-verdiano admite que a economia possa ter crescido 7,2% em 2021, impulsionada pela retoma da procura turística, e prevê 6% de crescimento em 2022.

O Governo cabo-verdiano anunciou anteriormente que pretende discutir com o FMI um novo programa de "reformas económicas estruturais" no arquipélago.

O FMI concluiu em janeiro de 2021 o apoio técnico a Cabo Verde através do Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI, na sigla em inglês), iniciado em 15 de julho de 2019 e que visou apoiar as reformas em curso no Estado, nomeadamente ao nível do sistema fiscal e privatizações, execução condicionada pela pandemia de covid-19.

De acordo com fonte do Governo, uma missão do FMI iniciou em 16 de março o acompanhamento da economia cabo-verdiana, mas também para "traçar as principais linhas do novo programa".

"Esta missão tem por objetivo discutir sobre um novo programa de reformas económicas que o Governo de Cabo Verde quer negociar com o FMI", referiu a mesma fonte governamental.

Acrescentou que "à semelhança do programa assinado em 2019" com o FMI -- de apoio técnico, sem envelope financeiro -, "o Governo de Cabo Verde quer continuar a implementar importantes reformas estruturais, possibilitando um ambiente macroeconómico estável e favorável ao investimento, crescimento e sustentabilidade das finanças públicas".

"Além dos desafios já existentes, no momento, é necessário fazer uma avaliação do impacto da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia, na economia cabo-verdiana", sustentou igualmente, referindo que ao longo dos próximos dias serão apresentadas as discussões sobre as políticas monetária e orçamental, em relação aos resultados de 2021 e implicações para 2022.

O objetivo, refere o Governo, é a "preparação do país para a retoma, assente num crescimento sustentável": "Pelo que o suporte dos nossos parceiros de desenvolvimento tem sido importante, e é hoje ainda mais crucial para a implementação da agenda deste Governo".

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