Francisco Louçã olha para Angela Merkel como "uma pirata" de chegada a Lisboa

por RTP
António Cotrim, Lusa

O ainda líder do Bloco de Esquerda discursou esta noite em Lisboa perante os participantes num comício das esquerdas europeias para lançar epítetos de “pirata” e “assaltante” a uma chanceler alemã em vésperas de chegar a Portugal. Francisco Louçã sublinhou que os portugueses são “credores da banca alemã” e que a “assaltante” Merkel terá a resposta adequada na sua visita a Lisboa, esta segunda-feira.

Francisco Louçã deixa este fim-de-semana a direção do Bloco de Esquerda, que manteve nos últimos 13 anos, os mesmos de deputado na Assembleia da República. Na VIII Convenção do BE será discutido o modelo de direção bicéfala proposto por Louçã, a alteração dos estatutos e a estratégia política face ao PS.
O discurso de Francisco Louçã, um dos últimos enquanto coordenador do Bloco, encerrou o encontro internacional que o BE organizou em Lisboa, no Pavilhão do Casal Vistoso.

O tom foi dominado pelas críticas à líder alemã, que na segunda-feira realiza a primeira visita oficial a Portugal.

“O São Julião da Barra é um forte que foi construído para impedir os piratas de entrar no Tejo. Quem é que imaginava que os piratas iam para dentro do Forte de São Julião da Barra? Se é para isso podia ter mandado um postal ilustrado”, afirmou Louçã, num discurso marcado pelo apelo à mobilização da esquerda na greve geral da próxima quarta-feira. Há um mês, a chanceler alemã esteve em Atenas, o que desencadeou uma violenta reação da rua grega.

“Mas há uma forma simpática de ver as coisas. Enquanto Merkel está presa dentro do forte com Passos Coelho e Paulo Portas, a liberdade está nas ruas de Lisboa, e vamos fazer ouvir essa liberdade, essa é a liberdade da Europa, é a de quem luta por todos”, acrescentou o bloquista sob fortes aplausos da esquerda reunida na capital portuguesa.

A chanceler alemã realiza esta segunda-feira a primeira visita oficial a Portugal desde que chegou ao poder, há sete anos. É uma viagem que surge após deslocações a outros países do sul da Europa intervencionados ou sob pressão dos mercados. Antes da visita relâmpago a Portugal, Merkel esteve nos últimos meses com os líderes dos governos de Atenas, Madrid e Roma.
Esquerdas apelam à mobilização para a greve geral
Partidos de esquerda da Alemanha, Grécia, França e Espanha presentes no Casal Vistoso apelaram à forte mobilização para greve geral europeia marcada para esta quarta-feira contra as políticas de austeridade.
Esta noite fizeram-se ouvir em Lisboa Gabriele Zimmer, dirigente do partido alemão Die Linke e presidente do GUE/NGL, no Parlamento Europeu, Alexis Tsipras, líder da coligação de esquerda grega Syriza, Jean-Luc Mélenchon, dirigente da Frente de Esquerda em França, e Cayo Lara, coordenador da Esquerda Unida espanhola, apesar de nem todos em pessoa.
"A 14 de novembro as pessoas em Portugal, na Grécia, em Espanha e em Itália vão expressar de forma clara o que pensam de uma política que viola diariamente a sua dignidade e que coloca um travão, em especial, ao futuro dos jovens", deixou Gabriele Zimmer.

O líder do Syriza não pôde deslocar-se a Portugal devido ao calendário do debate parlamentar do Orçamento grego para 2013. Alexis Tsipras deixou no entanto um apelo gravado à mobilização da greve de quarta-feira: "A Europa da resistência e da Democracia, a Europa da alternativa vai encher as ruas por ocasião da primeira greve geral europeia. A voz de Atenas vai juntar-se às vozes de Lisboa, de Madrid, de Roma, de Paris, de Londres e de Berlim. Vamos fazer desta voz a mais poderosa".

Jean-Luc Mélenchon, ausente por doença, enviou um discurso lido por uma responsável do partido francês Frente de Esquerda: "Cada país vai sair às ruas" na quarta-feira, sublinhou Mélenchon, avisando que "a Europa dos trabalhadores e dos povos não foi vencida pela Europa dos bancos e dos seus governos".

"O ataque é global e, por isso, a defesa tem de ser global também" e essa "defesa global" vai ser feita "nas ruas", com a "mobilização das esquerdas europeias", registou a Agência Lusa das palavras de Cayo Lara, da Esquerda Unida espanhola.

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