Gaspar sinaliza “aumento significativo” de “incertezas” sobre metas

O ministro das Finanças ergueu ontem à noite, no Luxemburgo, uma ponta do véu sobre os números da execução orçamental de maio para reconhecer que há agora “um aumento significativo nos riscos e incertezas” quanto aos compromissos orçamentais assumidos com a troika. Mas insistiu na garantia de que o Governo permanece “determinado a cumprir o teto de 4,5 por cento” para o défice das contas públicas em 2012. A justificar a posição de Vítor Gaspar estão “valores abaixo do esperado para a receita fiscal” e nas “contribuições para a Segurança Social”.

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Vítor Gaspar admitiu que os números da receita “não são positivos”, referindo uma “evolução menos favorável” em sede de IRC Nicolas Bouvy, EPA

Foi no culminar da reunião de ministros das Finanças da Zona Euro que Vítor Gaspar antecipou parcialmente os últimos números da execução orçamental, a publicar em detalhe esta sexta-feira. Os “dados disponíveis”, adiantou o governante, revelam “valores abaixo do esperado para a receita fiscal e para as contribuições para a Segurança Social”. Acarretam, por isso, “um aumento significativo nos riscos e incertezas que estão associadas às expectativas orçamentais”.Embora sinalize “riscos” de derrapagem do défice orçamental, Vítor Gaspar enfatiza que as rubricas relativas à despesa do Estado e da Segurança Social “estão sob controlo”.

As remunerações de funcionários públicos, notou o ministro das Finanças, tiveram uma queda superior ao previsto, na ordem dos 7,3 por cento. Isto sem levar em linha de conta o corte dos subsídios de férias e de Natal.

Gaspar reconheceu que os números da receita “não são positivos”. Sem mais detalhes, o ministro referiu uma “evolução menos favorável” em sede de IRC, a espelhar a quebra de resultados do tecido empresarial.


Ainda assim, o ministro das Finanças quer manter a garantia de que “o Governo está determinado a cumprir o teto para o défice de 4,5 por cento para 2012”. O que implica, na perspetiva de Gaspar, que “o esforço necessário para atingir este valor é muito importante”.

Depois de sublinhar que o país está hoje confrontado com um ajustamento “muito exigente” e “sem precedentes”, Vítor Gaspar insistiria ainda na fórmula de que o Executivo não vai pedir “nem mais tempo, nem mais dinheiro”. Para voltar a manifestar o “conforto” de saber que os parceiros europeus “estão disponíveis para prestar o apoio adicional necessário para assegurar o sucesso” do programa de ajustamento português, se o calendário de retorno aos mercados for inviabilizado por circunstâncias externas.

“Esta garantia de apoio, este mecanismo de seguro, é para nós um ativo precioso e um fator muito importante para o sucesso [do programa]”, acentuou o ministro, que saiu dos trabalhos com a convicção de que “não houve qualquer espécie de dúvida da parte da Comissão Europeia, da parte do BCE, da parte do FMI e da parte dos participantes na reunião do Eurogrupo” de que o resgate financeiro de Portugal ainda está “nos carris”.
Lisboa “vigilante” face a Madrid

Sobre o resgate da banca espanhola, que o Governo de Mariano Rajoy deverá pedir formalmente até à próxima segunda-feira, Vítor Gaspar começou por salientar que, para o Governo português, é fundamental que o processo se “desenvolva de forma rápida e bem-sucedida”. Haverá, no entanto, vigilância das condições a definir para Madrid.

“Naturalmente, é uma regra fundamental no funcionamento da UE que as condições que estão disponíveis para o Estados-membros em condições semelhantes são elas próprias semelhantes e é apenas natural estarmos vigilantes nessa matéria. Trata-se, também aí, de defender o interesse nacional”, indicou o titular da pasta das Finanças, num comentário a declarações do primeiro-ministro, no passado dia 10 de junho, sobre o programa de reestruturação e recapitalização do sector bancário de Espanha. Pedro Passos Coelho afirmava então que o Governo estaria “atento” às condições desse resgate.

“O Eurogrupo incentivou a Espanha a continuar no prosseguimento desta estratégia que é clara e é ambiciosa e deve ser executada rapidamente e comunicada com clareza. Nesta perspetiva, o Eurogrupo espera que as autoridades espanholas possam fazer o pedido formal de assistência financeira na próxima segunda-feira”, vincou o ministro.

Gaspar foi menos enfático quanto à postura a adotar em Lisboa se os prazos do programa de assistência financeira da Grécia vierem a ser alargados, com o advento de um novo Governo de coligação liderado pelo conservador Antonis Samaras. São “questões diferentes”, sustentou o ministro das Finanças. No caso de Espanha, argumentou, trata-se de delinear “condições financeiras”, ao passo que para os gregos está em causa o próprio “desenho” e as “condições” do programa em vigor.
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