Ghosn detido. Macron promete proteger estabilidade da Renault

por RTP
Macron e Ghosn visitaram juntos uma fábrica da Renault em Maubeuge, no nordeste da França, no início do mês Reuters

O Estado francês será “extremamente vigilante” para garantir a estabilidade da aliança da Renault com a Nissan e a Mitsubishi. É a primeira reação do Presidente Emmanuel Macron à detenção do presidente do grupo Nissan, Carlos Ghosn, por alegada fraude fiscal. Apostada em minimizar o impacto da detenção, a Nissan admite destituir Ghosn.

"Enquanto acionista [da Renault], o Governo francês será extremamente vigilante da estabilidade da aliança, do grupo e dos seus funcionários, que têm o total apoio do Estado", declarou Emmanuel MGhosn chegou à Nissan em 1999 como presidente executivo para liderar a recuperação da empresa com sede em Yokohama, depois de ter assegurado uma aliança com a francesa Renault. Tornou-se presidente das duas empresas e conquistou também a Mitsubishi Motors no âmbito do acordo subscrito em 2016.acron conferência de imprensa em Bruxelas.

O Presidente francês rejeitou, contudo, comentar aspetos das acusações que recaem sobre o empresário franco-brasileiro de origem libanesa Carlos Ghosn.

Além de presidente executivo do grupo Nissan Motor, Goshn é também presidente do conselho de administração da Mitsubishi e presidente executivo da Renault.

Aos 64 anos, Carlos Ghosn é considerado o homem de negócios estrangeiro mais influente no Japão.
 
O Estado francês possui 15 por cento do capital do fabricante automóvel Renault, que detém 43,4 por cento da Nissan.

O presidente do conselho de administração e presidente executivo do grupo Nissan foi detido em Tóquio “por suspeita de violação da lei”, avançava esta segunda-feira de manhã o canal de televisão público nipónico NHK.
Nissan investigou “conduta imprópria”
O grupo Nissan confirmou levou a cabo, durante meses, uma investigação interna "sobre conduta imprópria", depois de ter descoberto que Carlos Ghosn e Greg Kelly, outro dirigente do grupo, utilizavam verbas do grupo para fins pessoais, além de outros atos de má conduta.

"Ao longo de vários anos, tanto Ghosn, como Kelly, declararam rendimentos inferiores aos valores reais à Bolsa de Valores de Tóquio, de modo a reduzir o montante declarado por Ghosn", refere o grupo em comunicado.

"Além disso, em relação a Ghosn, várias outras ações significativas de má conduta foram descobertas, como o uso pessoal de ativos da empresa, e o envolvimento de Kelly também foi confirmado", lê-se no comunicado.

A Nissan garante que cooperou com a investigação do Ministério Público japonês e pediu desculpa aos acionistas. As autoridades japonesas realizaram buscas na sede da Nissan, bem como noutros locais relacionados com a empresa fabricante de automóveis.

As suspeitas sobre Ghosn deixam em aberto uma série de questões sobre o futuro da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, processo liderado pelo próprio empresário franco-brasileiro.

A notícia da detenção de Ghosn provocou quedas acentuadas nas ações. Em Paris, as ações da Renault afundaram mais de 13 por cento, negociando em mínimos 2014. Já a Nissan caiu mais de sete por cento no mercado alemão, igualmente para mínimos de 2014.
Nissan debate saída
A Nissan garante que a aliança com a Renault e a Mitsubishi "não será afetada". Em conferência de imprensa, o presidente executivo do grupo comunicou que vai pôr termo ao mandato de Ghosn como presidente do conselho de administração.

Para o efeito, o Conselho de Administração da empresa vai reunir-se quinta-feira.

Hiroto Saikawa comentou que o processo revela que havia demasiado poder concentrado numa pessoa e que em cima da mesa está o plano de reduzir a dependência de um único líder.

"Além de lamentar, sinto uma grande deceção, frustração, desespero, indignação e ressentimento", afirmou Hiroto Saikawa.

Com 10,6 milhões de carros vendidos em 2017, a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi conseguiu pela primeira vez a liderança mundial do setor, em detrimento dos mais diretos concorrentes: Volkswagen (10,54 milhões), Toyota (10,47 milhões) e General Motors (9,6 milhões).

No ano passado, a Nissan vendeu 5,81 milhões veículos, a Renault 3,76 milhões e a Mitsubishi 1,03 milhões.

Em 2017, a aliança franco-japonesa registou 5,7 mil milhões de euros em sinergias (economias de escala), superando a meta estabelecida para 2018.

Desde 2014, os três fabricantes de automóveis partilham setores de engenharia, produção e logística, compras e recursos humanos, com Ghosn a deter a presidência da aliança.

A Renault e a Mitsubishi também terão de se pronunciar sobre os cargo de presidente que Ghosn ocupava.

c/ agências
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