Governo moçambicano espera "bom senso" da Galp em diferendo fiscal de 151,5 ME
O Governo moçambicano afirmou hoje que não há negociações com a Galp sobre o diferendo fiscal de 151,5 milhões de euros da venda da participação num projeto de gás, embora acredite no "bom senso" da petrolífera portuguesa.
"Acreditamos no bom senso das empresas envolvidas em honrar com as suas obrigações fiscais", disse o secretário de Estado do Tesouro e Orçamento de Moçambique, Amílcar Tivane, questionado pelos jornalistas, em Maputo, sobre este diferendo, tendo pedido "paciência" e admitindo que "a breve trecho" a Autoridade Tributária (AT) vai informar sobre o desfecho do processo.
A Lusa noticiou em 08 de outubro que a AT moçambicana reclama à Galp 175,9 milhões de dólares (151,5 milhões de euros) no âmbito da venda da participação da petrolífera num projeto de gás, avisando que o valor "pode vir a subir", correndo um processo de execução.
Em comunicado, a AT explicou que em causa está a "transferência da totalidade das participações sociais" da Galp na Área 4 de Moçambique, negócio em que a petrolífera "solicitou a emissão de um parecer vinculativo, nos termos do ordenamento jurídico moçambicano", sobre "implicações fiscais da transação". Acrescentou que foram igualmente realizados "encontros técnicos de esclarecimento", com a "participação de outras entidades do Estado" moçambicano, além de enviado o parecer vinculativo à Galp.
A Galp anunciou no dia anterior que deu formalmente o primeiro passo para resolver o diferendo com o fisco de Moçambique em tribunal arbitral internacional, neste processo relativo ao montante da tributação de mais-valias.
"Não há negociações. O que há é o seguimento dos desígnios da lei. O que é que vamos negociar? Se eu sou uma empresa, declarei lucros de 100 meticais e o IRPC [imposto] é de 32,5%, eu tenho que pagar 32,5% ao Estado. E não há discussão. Agora, eu vou negociar para pagar 10, quando eu devia pagar 32,5? É como, na ótica puramente económica, nós vemos o assunto", disse por seu turno Amílcar Tivane.
O governante vê como natural que a empresa pretenda "disputar" esta decisão: "Eu também, se fosse CFO daquela empresa, estivesse no `board`, iria disputar. Quanto menos pagar, na ótica de qualquer empresa, melhor. Mas, bom, nós operamos num mundo em que a expectativa é que estas empresas, em particular as cotadas em bolsas, honrem com as suas obrigações".
Disse ainda acreditar num "desfecho positivo" deste processo.
"Se conseguíssemos encerrar este dossiê sem a necessidade de levá-lo à arbitragem internacional, muito bem. Mas este não foi um cenário que se materializou e vamos deixar que a AT faça o seu trabalho. Ela está a atuar nos termos da lei", afirmou Tivane.
Em causa está a "disputa fiscal" que se seguiu à conclusão da venda, em março passado, da participação de 10% da Galp à petrolífera estatal dos Emirados Árabes Unidos (ADNOC), na Área 4 da Bacia do Rovuma, norte do país, de produção de gás natural, num negócio de cerca 950 milhões de dólares (819 milhões de euros).
A AT "comunicou que, em sede da conclusão da transferência das ações dos vendedores" -- empresas do grupo Galp -- ao comprador "sobre o ganho auferido", as empresas "devem pagar o imposto devido por conta dessa operação, designadamente no montante equivalente a 175.923.515,72 dólares", equivalente a 151,6 milhões de euros ao câmbio atual.
"Adicionalmente", lê-se, estando a transação em causa "sujeita a pagamentos diferidos, a ocorrer aquando da Decisão Final de Investimento dos projetos Rovuma e Coral Norte" - entretanto assinada em 02 de outubro, em Maputo -, "será gerada uma obrigação tributária equivalente" a 160 milhões de dólares (137,8 milhões de euros).
A AT admite que a Galp "não concordou" com o parecer vinculativo e "solicitou a sua revisão", mas diz que não encontrou "elementos que sustentassem a alteração" e comunicou manter a posição.