Groundforce. Trabalhadores protestam contra atraso no pagamento dos salários

por Inês Moreira Santos - RTP
Pedro Nunes - Reuters

Os trabalhadores da SPdH/Groundforce manifestam-se esta terça-feira contra o atraso no pagamento dos salários e contra os cortes nos setores da aviação e handling. A ação de protesto, que vai decorrer na entrada da estação do Aeroporto do Metropolitano de Lisboa e se prolonga por dois dias, visa também responsabilizar pela "situação de rutura" o Governo pela "falta de atuação".

O coletivo SOS Handling anunciou, na segunda-feira, que vai ter lugar uma manifestação de protesto dos trabalhadores da SPdH/Groundforce "contra o atraso no pagamento dos seus salários e contra os cortes cegos que estão e vão ser feitos nos setores da aviação e handling".

Num comunicado, a organização manifesta "apoio à primeira ação de mobilização" destes trabalhadores, a realizar no dia 2 de março pelas 12h00, contra o não pagamento de salários e "pela resistência ao corte de salários e direitos que se antevê com o empréstimo da austeridade".

"Estamos num momento de decisões para a empresa e todas as ações que estejam a favor da manutenção dos postos de trabalho e do não ataque à nossa contratação coletiva - como infelizmente aconteceu aos nossos irmãos da TAP - terão deste coletivo de ativistas todo o apoio", lê-se na nota enviada à comunicação social.

Exigindo responsabilidade ao Governo, o coletivo sublinha que "os setores da aviação e da assistência em terra são estratégicos para a soberania e economia nacional", recordando ainda que tanto a aviação como os aeroportos "são e devem permanecer no domínio do serviço público".

Na quarta-feira, uma outra manifestação é promovida pela Comissão de Trabalhadores (CT) da SPdH/Groundforce, entre as 11h30 e as 14h00, junto ao Ministério das Infraestruturas e Habitação, que tem a tutela do setor da aviação.

Segundo a CT, o objetivo é denunciar a "falta de atuação do Governo, que arrasta uma solução há muitos meses, levando a uma situação de rutura" e "chamar a atenção para a situação dos 2.400 trabalhadores que, sem salários, começarão a entrar em incumprimento, havendo já casos dramáticos de trabalhadores que não têm como alimentar as suas famílias".

Na passada sexta-feira, 26 de fevereiro, o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes de Portugal (STTAMP) denunciou que os cerca de 2.400 trabalhadores da Groundforce Portugal - a principal empresa de handling (assistência em terra nos aeroportos) no país - foram informados pela empresa de que os salários de fevereiro não iam ser pagos nos próximos dias.
Reivindicações dos trabalhadores

Numa carta endereçada aos trabalhadores na semana passada, o presidente do conselho de administração da Groundforce, Alfredo Casimiro, disse que a empresa não estava em condições de pagar os salários de fevereiro sem que esteja concluído o processo de empréstimo bancário. O presidente da empresa frisou também que, até agora, a Groundforce tem conseguido sobreviver com o apoio da TAP, cumprindo as obrigações mínimas através de adiantamentos sobre serviços e a prestar no futuro.

No entanto, "o Conselho de Administração da TAP informou hoje [quinta-feira] não lhe ser possível conceder este auxílio que, acreditamos, seria o último antes da contratualização do empréstimo bancário com garantia de Estado", esclareceu responsável no documento.

De acordo com a estrutura sindical, os trabalhadores "não se conformam, nem aceitam que o pagamento dos salários dos trabalhadores possa estar refém de estratégias empresariais dos acionistas, agravadas pelo facto de nem o acionista TAP nem o privado terem, durante todos estes meses, procurado soluções com vista a garantir a sustentabilidade financeira da Groundforce".

A empresa, lembra o sindicato, viu-se obrigada no início do surto pandémico a suprimir centenas de empregos de trabalhadores que tinham sido recentemente contratados. O STTAMP recorda também que, durante cerca de um ano, os trabalhadores da Groundforce enfrentaram duras reduções salariais, entre outras medidas que foram sendo implementadas para garantir o equilíbrio financeiro e sustentabilidade futura da empresa.

Também o coletivo SOS Handling sublinhou, esta segunda-feira, que a pandemia da Covid-19 se transformou "numa pesada crise económica", com "muitos despedimentos, reestruturações, suspensão de acordos de empresa e perdas salariais".

"As Organizações Representativas dos Trabalhadores (ORTs) estão instaladas na maior passividade, estiveram alinhadas desde o início com o governo e partidos numa unidade nacional que não foi de encontro à proteção da saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras (...), nem tão pouco na defesa dos postos de trabalho tanto na forma como encararam os despedimentos dos precários como inevitáveis não renovações dos seus contratos, como defendendo inclusive abertamente despedimentos de trabalhadores numa total falta de solidariedade", começa por denunciar o coletivo.

Exigindo ação por parte do Governo, a organização recorda que, se a "TAP foi resgatada pelo Governo", embora não tenham sido protegidos os direitos dos trabalhadores nem os postos de trabalho, a SPdH/Groundforce, "como empresa que depende da TAP e é TAP, deve também ser resgatada pelo Governo, pois os privados estão falidos".

"Com 70 por cento da sua faturação dependente da TAP, o futuro da GF deixado nas mãos dos privados significa mais austeridade e despedimentos. A única forma de defendermos os nossos postos de trabalho e o nosso salário é sermos públicos", apela o SOS Handling.

Segundo a mesma fonte, a empresa de handling assistia, antes da pandemia, quase 60 por cento dos movimentos aéreos em Portugal, sendo líder do mercado e desempenhando um papel fundamental no turismo e na economia do país - o volume de negócios direto do transporte aéreo em 2019 foi de 4,4 mil milhões de euros, ou seja cerca de 2,2 por cento do PIB.

Por isso, os trabalhadores pretendem reivindicar, na manifestação de terça-feira, pela reposição de "tudo" o que lhes foi tirado no último ano.

Nesse sentido, exigem: o pagamento do prémio de distribuição de lucros relativo a 2019; o acerto das progressões nas carreiras já vencidas; a reposição dos horários especiais; o pagamento do subsidio de férias relativo a 2020; melhores condições de trabalho; e unidade e solidariedade com a luta dos trabalhadores do grupo TAP e de todas as empresa.

Além disso, os trabalhadores manifestam-se contra qualquer despedimento, a mobilidade funcional administrativamente determinada e "sem ter em conta a perda de conhecimento nas áreas", contra a solução do empréstimo e as "negociações secretas entre ORTs, Governo e patrões e contra quaisquer acordos afastados da deliberação democrática dos trabalhadores em plenário".

O coletivo SOS Handling refere ainda, na nota enviada à comunicação social, que "é necessária a intervenção urgente de todas as Organizações dos Trabalhadores para a convocação de um Plenário Unificado que dê início a uma verdadeira luta de resistência" pelos direitos dos trabalhadores e pelos postos de trabalho.

"Queremos ser TAP e o Governo tem de absorver a GF tal como fez com a companhia de bandeira", exigem.
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