Grupo de alunos do IST há 10 anos a construir barcos apresenta hoje o sétimo

Um pequeno grupo de alunos do Instituto Superior Técnico (IST) juntou-se há 10 anos para fazer um barco movido a energia solar e hoje são mais de 50 estudantes e estão a apresentar a sétima embarcação.

Lusa /

"Temos vindo a crescer nestes últimos 10 anos. Construímos três embarcações movidas puramente a energia solar, duas a hidrogénio e uma completamente autónoma, não tripulada. A nova embarcação será o convergir de todo este conhecimento adquirido ao longo desta última década", explica à Lusa o líder de equipa do projeto, Miguel Gil.

A nova embarcação é apresentada hoje no IST, mas há muito que vem sendo construída num armazém cedido aos jovens estudantes pela faculdade, nas instalações de Bobadela, Loures.

É lá que Miguel Gil explica a filosofia do projeto, entre cabos brancos e vermelhos, baterias, tubos, algo semelhante a um plástico verde e aparelhos eletrónicos cujos nomes só à equipa são familiares.

"Uma das grandes premissas é trazer um pouco da mobilidade sustentável para a prototipagem do IST e com isto ajudar a desenvolver a indústria náutica".

Já a produzir os próprios painéis solares, já tendo criado um controlo para o protótipo a hidrogénio, a equipa leva também os barcos que vai desenvolvendo a competições internacionais.

Mas Miguel Gil avisa: Não competimos apenas pelos resultados, competimos por Portugal, pelo modelo sustentável a nível nacional e também, obviamente, pelos nossos patrocinadores.

"Trabalhamos sempre no sentido de ajudar a desenvolver estas tecnologias e, eventualmente, ajudar a expandir um pouco também para a indústria nacional, europeia e até mundial. Sendo que é de realçar que o nosso projeto é completamente `open source`, tudo o que desenvolvemos é aberto ao público".

Há 10 anos, o projeto começou de forma mais singela. Alguns alunos de engenharia naval, mecânica e eletrotécnica acharam importante levar a indústria náutica para o IST, onde já se construíam protótipos de carros ou motos. E juntaram-lhe a mobilidade energética sustentável.

Daí às competições foi um instante (dois anos), nomeadamente a "Monaco Energy Boat Challenge", onde o IST está presente ininterruptamente desde 2017, com dois segundos lugares e prémios de inovação e melhores apresentações técnicas.

O protótipo hoje apresentado, o SG01, também irá competir no Mónaco, em provas de agilidade, velocidade e resistência.

Miguel Gil tem esperança em bons resultados, como tem esperança que o trabalho que andam a desenvolver há anos contribua para que as energias renováveis sejam uma alternativa viável na indústria náutica, por exemplo em cargueiros ou em `ferries`. Um cargueiro movido a hidrogénio verde? "É um desafio", mas "a tecnologia está a caminhar para aí".

O SG01 (São Gabriel 01) é um projeto pioneiro mesmo a nível europeu. Tem capacidade para três pessoas, está a ser trabalhado apenas por estudantes do IST e todos trabalham de graça.

Um deles é Gonçalo Meira, gestor do projeto. À Lusa, explica que é algo que nunca tinha sido feito, um protótipo com oito metros de comprimento por 2,5 metros de largura de boca (largura máxima do casco) e 1,5 metros de altura pontal (da quilha ao convés), que começou a ser desenvolvido em finais de 2022.

Com uma potência bastante superior em relação aos anteriores protótipos, os São Rafael, movidos a energia solar, o SG01 só tem painéis para alimentar os sistemas auxiliares, porque não chegariam para a propulsão. E é movido a baterias para já.

"Não conseguimos arranjar financiamento suficiente para termos a `fuelcell`", a célula de combustível para o hidrogénio, explicou.

Mas Gonçalo Meira não desanima. "Este ano vamos com a autonomia um bocado reduzida, apenas para provar que o barco funciona, usá-lo como prova de conceito para tentar arranjar financiamento para termos o hidrogénio a bordo".

Então quanto custa todo o projeto? Gonçalo Meira responde assim: "Nunca fizemos bem, bem a conta, mas se eu tivesse de chutar um número, diria cerca de meio milhão, só em custos de produção".

O SG1 é feito em fibra de carbono com uma resina epóxi no casco e no convés, além de outros materiais explicados pelo responsável.

Hoje é apresentado ao público, depois de quase três anos de estaleiro e o trabalho de dezenas de jovens estudantes. Por estes dias eram 62 a trabalhar, mas já por lá passaram mais. "Porque há malta que vai acabando o curso, há malta nova que se junta".

Gonçalo Meira tem orgulho no que foi feito com a ajuda de todos, explica que é uma embarcação de 1,5 toneladas, nada comparado com os primeiros protótipos de 200 quilos. "A nossa ideia com este barco é que seja mais parecido a um barco convencional que se pode encontrar na marina. Há de ser mais parecido a isso". Já em julho pode ser visto pelo Mónaco.

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