Investigador minimiza risco de cismas "para já" na Igreja Católica
O investigador Paulo Mendes Pinto minimizou hoje o risco imediato de cismas na Igreja Católica, apesar das tensões existentes entre conservadores e progressistas, mas avisou que as expectativas de mudança permanecem elevadas.
A dias da primeira viagem apostólica do novo Papa Leão XIV, o especialista em ciências da religião referiu que o líder da Igreja Católica tem um estilo pessoal diferente de Francisco, mas os problemas de divisão interna permanecem por resolver, com a força dos movimentos conservadores a quererem bloquear a mudança exigida pelos progressistas.
A "perceção do risco de cisma é muito superior ao risco real de cisma", mas "ele existe de facto", afirmou o investigador, salientando que a Igreja Católica sempre viveu entre estas tensões diferenças.
"Nós estamos sempre convencidos de que o nosso é que é um tempo especial, mas não é. Os tempos sempre foram especiais", afirmou Paulo Mendes Pinto, dando o exemplo do comportamento da Igreja Católica na fase final do Estado Novo.
Na época, "tínhamos a maioria da Igreja Católica francamente alinhada com o regime ditatorial e tínhamos um bispo de Setúbal ou um bispo do Porto contra o regime", recordou.
Mas a escolha do atual Papa foi marcada pelo medo do cisma, "levantado por alguns setores que não querem a mudança", e procurou-se um nome de continuidade que tivesse um discurso mais moderado, como era o então cardeal Prevost, agora Leão XIV.
Prevost "apresentou de forma muito objetiva, sem entrelinhas, uma parte muito significativa do seu plano de ação através da escolha do nome", porque o "último pontífice a usá-lo foi aquele que assinou a encíclica que criou a doutrina social da Igreja" (Leão XIII).
"A escolha do nome é, claramente, uma afirmação do que é que vai ser o pontificado", avisou o investigador da Universidade Lusófona.
O seu antecessor, Francisco, "falou muito e criou expectativas", mas deixou "poucas coisas que comprometessem o seu sucessor", com exceção do caminho sinodal, uma auscultação às bases da Igreja sobre o que se deve ou não mudar.
O calendário deste projeto foi assinado a partir da cama do hospital onde estava Francisco e será o único compromisso em que "se poderá pedir contas" a Leão XIV.
Contudo, no estilo, Francisco "criou muitas expectativas", apesar de "existir muita gente que dizia que o sumo era pouco" e já "havia alguma desilusão" com a falta de mudança.
Ao longo da história, "as divisões na sociedade tiveram sempre eco" interno e hoje os "radicalismos que se vivem em tudo espalham-se também na própria Igreja Católica", mas isso "não é novidade".
Porque a Igreja Católica, "dentro da diversidade que lhe é típica, sempre teve posições brutalmente radicais do ponto de vista interno".
Com Francisco, houve "muita retórica, muita coisa bonita, mas depois, na prática, não resultou em nada de significativo", recordou Paulo Mendes Pinto.
E por isso há movimentos progressistas que querem alterações mais ou menos estruturais na relação da Igreja com o mundo, desde a relação com os movimentos LGBT, a ordenação de mulheres, a reintegração dos divorciados ou o casamento de padres, entre outras matérias.
"É perfeitamente provável que, de facto, com o passar do tempo, se venha a pedir contas" e pode existir desilusão em relação às propostas, porque as "expectativas são muito elevadas".
A "Igreja Católica está no mundo e não pode fugir mais dele", avisou Paulo Mendes Pinto, salientando que existe o risco de alienação dos crentes mais progressistas se a hierarquia não fizer um "caminho no sentido de aproximação da teologia ou, pelo menos, da pastoral aos direitos humanos".