JD.com investe 2,6 mil milhões de euros em habitação para estafetas na China

A gigante chinesa de comércio eletrónico JD.com anunciou hoje um investimento de 22 mil milhões de yuan (2,6 mil milhões de euros) para fornecer 150 mil habitações aos seus estafetas, face às crescentes concorrência e escrutínio das autoridades.

Lusa /
Shutterstock

Segundo um comunicado publicado na conta oficial da empresa na plataforma WeChat, a JD.com já disponibilizou cerca de 28 mil alojamentos no distrito periférico de Tongzhou, em Pequim.

A nova verba será canalizada para arrendamento, construção própria e fundos de apoio à habitação para os trabalhadores do setor das entregas.

A medida surge numa altura de forte rivalidade no setor, marcada pela entrada agressiva do "comércio instantâneo" - liderado pela Alibaba - que alargou as entregas rápidas não só à comida, mas também a roupas e outros produtos habitualmente entregues em prazos mais longos.

Recentemente, outro gigante do setor, a Meituan -- conhecida sobretudo pelas entregas de refeições -- anunciou um plano de 10 mil milhões de yuan (cerca de 1,2 mil milhões de euros) com o mesmo objetivo, incluindo ainda benefícios como seguros médicos alargados a familiares e apoio à parentalidade.

A crescente concorrência tem gerado uma verdadeira guerra de descontos e subsídios aos clientes, o que levou as autoridades chinesas a exigirem que as plataformas tecnológicas ponham fim ao que classificam como "concorrência irracional".

O novo investimento insere-se num contexto de crescente atenção pública sobre as difíceis condições de trabalho dos estafetas, que frequentemente ganham menos de um euro por entrega e enfrentam ritmos extenuantes, com poucos intervalos para descanso.

O debate intensificou-se após vários incidentes amplamente divulgados. Em Wuhan (centro), um estafeta ameaçou um cliente com uma faca; em Hangzhou (leste), outro danificou uma vedação enquanto acelerava para cumprir um prazo de entrega e foi forçado por seguranças a ajoelhar-se como castigo, o que motivou protestos de dezenas de colegas.

O trabalho dos estafetas tem-se tornado um símbolo de precariedade urbana na China. Um dos maiores êxitos de bilheteira de 2024 foi precisamente um filme centrado nas dificuldades enfrentadas por estes trabalhadores temporários, que circulam em motas elétricas para entregar encomendas no menor tempo possível.

Nas grandes cidades da China, é comum vê-los circular em contramão, atravessar semáforos vermelhos ou acelerar sobre passeios, desviando-se de peões para cumprir os prazos.

No final de 2024, as autoridades ordenaram às plataformas digitais que revissem os algoritmos, com especial atenção aos que encurtam automaticamente os tempos de entrega - uma prática que aumenta a pressão sobre os estafetas e contribui para infrações de trânsito e acidentes.

Pouco depois, a Meituan anunciou que passaria a obrigar os trabalhadores a descansar obrigatoriamente quando detetado um excesso de horas em atividade.

 

Tópicos
PUB